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"Physical". Como ser melhor pessoa, uma aula de aeróbica de cada vez

Este artigo tem mais de 2 anos

A nova série da Apple TV+ conta a história de Sheila, que encontra no spandex uma possível cura para os seus medos. Não é uma comédia a caminho do sonho: é sobre aprender a viver com os pesadelos.

A protagonista de "Physical" é Rose Byrne, uma atriz que merece mais louvores do que aqueles que recebe
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A protagonista de "Physical" é Rose Byrne, uma atriz que merece mais louvores do que aqueles que recebe

A protagonista de "Physical" é Rose Byrne, uma atriz que merece mais louvores do que aqueles que recebe

Todos os dias no meu caminho para casa passo à porta de um ginásio, daqueles de cidade, encafuado em garagens reconvertidas. Num ambiente impessoal, vejo pessoas a correrem na passadeira e a preparem-se para a aula de zumba com a mesma emoção com a qual renovam um passaporte extraviado numa Loja do Cidadão. “Physical”, que se estreou há poucos dias na Apple +, recorda a época na qual o fitness e a aeróbica eram uma celebração do spandex e das fitas cor-de-rosa na cabeça, da genica das professoras de dança jazz que propagaram e minguaram na década de 80, da diversão finalmente aliada ao sacrifício do exercício físico. Mas não vão ao engano: “Physical” não é uma série que disponha bem. É, aliás, mais dada à angústia que o tal ginásio onde o frete queima calorias.

A primeira coisa que devem saber é mesmo essa: esta não é uma história de superação. Os primeiros minutos dão a entender que vamos conhecer uma espécie de Jane Fonda, uma magnata das cassetes de vídeo dos treinos em casa, mas depressa percebemos que a protagonista Sheila Rubin está a anos desse objetivo – se é que sequer o vai conseguir de todo. Ao contrário de outras sagas que se focam em mulheres empreendedoras que querem pontapear a vida de dona de casa e mostrar que são capazes, aqui depressa percebemos que Sheila é capaz de muito pouco. Acompanhamos as suas tentativas de erguer um negócio quando nem sequer faz ideia de como se erguer a ela própria, levando a um caminho de intriga e constante falhanço que está muito longe de ser inspirador.

[o trailer de “Physical”:]

Bulímica, mentirosa compulsiva, demasiado crítica dos outros e com uma bússola moral que não distingue o norte de uma abóbora (ou de um hambúrguer triplo, como os que come e vomita secretamente em quartos de motel), temos novamente um caso clássico de uma anti-herói, alguém pejado de defeitos que irá mesmo assim conquistar o coração da sua audiência. Pequeno problema: apesar da superlativa interpretação de Rose Byrne (uma atriz que merece mais louvores do que aqueles que recebe), é difícil criar apego a uma personagem que tem tanto asco por ela própria que esse asco passa para o espectador. O mesmo se passa com os outros personagens. Do marido (um professor universitário recentemente despedido que opta antes por uma carreira política) à professora de fitness que Sheila coercivamente torna sua sócia, passando pelo dono de um centro comercial que é omnipresente em toda a comunidade, raros são os personagens que não criam antipatia e incómodo no espectador. Sumarento do ponto de vista narrativo? Certamente. Mas obriga também a uma experiência cansativa, quase irritante.

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“Physical” tem, ressalve-se, vários méritos. Tem um conceito forte, boas interpretações, uma ótima realização, uma banda sonora escolhida a dedo e uma estética da San Diego dos anos 80 eficaz. Porém, perde-se por vezes em subplots desinteressantes (as personagens secundárias têm conflitos que interessam pouco perante uma protagonista que enche tanto o ecrã), é por vezes frustrante na progressão no seu arco narrativo e não tem, repito-me, ninguém por quem torcer.

Que ninguém vá ao engano: “Physical” é um drama. É narrado na primeira pessoa por alguém com demónios pessoais de garras bem afiadas, num contexto de falta de empatia generalizada

Talvez por causa da duração dos episódios (os clássicos 30 minutos das sitcoms) e da escolha de tema e até de cast (Rose Byrne aparece em blockbusters de comédia como “Bridesmaids”), “Physical” tem aparecido categorizado como uma comédia – ou, como dita a moda de uma fronteira entre géneros cada vez mais híbrida, “uma comédia negra”. Poderia, à primeira vista, parecer a série para recolher os órfãos de “Glow”, uma série com algumas semelhanças temáticas recentemente cancelada pela Netflix. Mas não se enganem pelo marketing confuso: “Physical” é um drama. É narrado na primeira pessoa por alguém com demónios pessoais de garras bem afiadas, num contexto de falta de empatia generalizada. O uso de voz off (bastante bem usado, que de exemplos preguiçosos de narrador participativo estão o cinema e a televisão cheios) só cimenta como somos os únicos a conhecer as verdadeiras intenções de uma protagonista que nunca é honesta com ninguém. Isto não é sobre viver um sonho – é sobre aprender, a custo, a viver com os nossos pesadelos.

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