Olá

870kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

"The Penguin": tudo maus rapazes

O mais importante dos avisos: esta não é uma série de justiceiros. O universo é o de Batman, mas a narrativa é a de uma cidade como cenário para gangsters. O primeiro episódio chega esta semana à Max.

Depois do cinema, Colin Farrell volta a interpretar a personagem clássica das histórias de Batman, com uma caracterização que o torna praticamente irrecocnhecível
i

Depois do cinema, Colin Farrell volta a interpretar a personagem clássica das histórias de Batman, com uma caracterização que o torna praticamente irrecocnhecível

Depois do cinema, Colin Farrell volta a interpretar a personagem clássica das histórias de Batman, com uma caracterização que o torna praticamente irrecocnhecível

“Não é real, é tudo falso. Mas não é um fato de Halloween, não é uma coisa de borracha que metes na cara. É arte”, diz-nos Mike Marino a dada altura, a propósito da máscara de Penguin, personagem do universo de Batman com honras de série na Max que se estreia no próximo dia 20, sexta-feira. Marino, responsável pelo design das próteses que Colin Farrell tem de usar para se transformar na personagem, apaixonou-se por esta espécie de feitiçaria quando viu O Homem Elefante de David Lynch e o videoclip de Thriller, de Michael Jackson. Foi nessa altura que decidiu o que queria fazer, nem queria acreditar que poderia ser pago para fazer estas coisas. Foi dele a responsabilidade de criar o Penguin que se viu no filme de Matt Reeves e que agora é transportado para esta nova série. Mas tal como aquilo que vemos não é real, é falso, mas é uma arte, também esta The Penguin não é uma série sobre Penguin.

Há vários ângulos para olhar para esta produção. The Penguin é uma série sobre Gotham City sem Batman. Também é uma história sobre o próprio vilão. Ou uma sobre os gangsters e as diferentes hierarquias que existem no mundo criminal da cidade. Faz, de igual modo, a ponte entre o primeiro filme de Batman (desta nova era, entenda-se, e não o do Tim Burton dos idos de 80) e aquele que chegará aos cinemas em 2026. E, por isso, também é uma história sobre uma cidade que sobreviveu a uma catástrofe, à inundação que acontece no filme de Reeves: “Queríamos que fosse percetível que é uma cidade para lá do filme anterior e do próximo. Mas foi divertido estar nesta posição de ponte e explorar o mundo que pode existir entre os dois filmes”, responde Craig Zobel (lembram-se de Mare Of Easttown?), produtor executivo e realizador dos três primeiros episódios de The Penguin.

[o trailer de “The Penguin”:]

Continua: “Do ponto de vista do Penguin, esta é uma Gotham diferente da do Batman. A razão para a cidade ser sempre uma personagem é simples. É sempre um sítio corrupto, que está constantemente à procura de mudança. Gotham sempre foi isso. Na nossa versão, foi divertido explorar isso a partir do ponto de partida de uma sociedade depois de um desastre. Inspirámo-nos em Nova Orleães e no [furacão] Katrina, como a sociedade, como a conhecemos, quebrou durante uns dias. Esse é o ponto de partida desta Gotham, com pessoas que perderam a casa ou perderam alguém”. Esta The Penguin também pode ser uma série sobre uma cidade em mudança, uma das mais fascinantes da ficção do último século, que acompanha em simultâneo o nosso imaginário de uma cidade que tem como herói um homem-morcego e aquilo que imaginamos como a grande metrópole norte-americana ainda carregada de oportunidades, mesmo que elas existam em áreas profissionais duvidosas, como o crime em geral e a corrupção em particular.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E, por aí, chegamos a outra coisa que The Penguin também pode ser: a história de Victor Aguilar (Rhenzy Feliz) um adolescente a quem o protagonista decide poupar a vida no início do primeiro episódio, que o contrata para ser seu motorista e que, ao longo da série, vai mostrando aquela Gotham através de outros olhos, enquanto luta contra a sua própria inocência, entre uma responsabilidade para com o patrão e a perceção de que há um mal incurável na cidade. Ele só tem de acreditar que está no lado certo. Mas qual será?

Sofia Falcone (Cristin Milioti, a estrela desta primeira temporada), filha de Carmine Falcone — o patrão do crime de Gotham que morre no filme que antecede a série — pode ser outro dos centros da narrativa. Teve o seu lugar na banda-desenhada, mas não é uma daquelas personagens que o grande público conheça. A sua interpretação para este contexto é surpreendente — a vários níveis — e ela pode — aliás, deve — ser vista como a personagem principal deste The Penguin. Se há um Batman nesta história, é a sua personagem: uma invertida, cuja forma de sarar as feridas ocorre no processo inverso ao de Bruce Wayne. E, tal como Wayne, tem o seu Alfred, que não é um mordomo, mas um médico, Falcone tem Julian Rush (Theo Rossi).

Esta é uma série sobre Gotham quando não estamos a olhar para Batman, à procura dele. E é, também, uma série que mostra o potencial de continuar a desenvolver mundos para lá dos filmes e de como estes se podem fundir com as séries

Ela e Penguin, ou melhor, Oz (Oswald Cobblepot é o nome “real” do vilão), têm direito a episódios de origens ao longo da série. São quebras necessárias para explicar o contexto em que estas figuras existem e de onde vem o caráter que construíram. Não é só uma vontade de poder que os muda, é o desejo de alterar as regras, o poder instituído pelos outros criminosos antes deles. É uma viagem pelo submundo de uma cidade, há quem lhe chame “Sopranos de Gotham City”, contudo, o que fica retido desta ideia é o de criar uma série de género a partir de um universo de super-heróis. É a DC a fazer aquilo que a Marvel tem feito com as respetivas produções, com uma substancial diferença: The Penguin é uma série para adultos, onde se pode abstrair na totalidade da ideia de universo de super-heróis. Se a quisermos resumir a uma história de gangsters, podemos.

Uma sobre um tipo que veio da classe operária e que foi subindo na hierarquia criminal, que aprendeu fazendo: “Quando o conhecemos no Batman, ele gere um clube, esforça-se para parecer estiloso e até tem um carro de cor roxa. Um tipo à procura do momento de assumir a liderança”, explica Zobel. Esse momento acontece logo no início, numa cena entre Penguin e Alberto Falcone. Oz não percebe o conceito de “consequências”, ou então recusa-o. O improviso toma conta da personagem. Penguin é engenhoso, manhoso mesmo, mas está dependente do momento para agir. Age muitas vezes sem pensar e vai para a frente a partir daí. O chamado “logo se vê”.

Em "The Penguin" vemos uma história de gangsters e as diferentes hierarquias que existem no mundo criminal de Gotham City

Tal como Marino refere, o Penguin no início dos comics “parecia um vampiro, com aquela capa. Ele era [e é] uma combinação interessante de várias coisas, faz parte deste imaginário de Gotham em que os vilões parecem possuídos por demónios”. Quando olhamos para a cara de Penguin — tal como no filme, nunca nos ocorre que Colin Farrell está ali —, vemos um rosto destruído pela vida. A cara diz tudo, esse lado manhoso, intriguista, picuinhas e, simultaneamente, de bebé, com uma ligação maternal bizarra (a mãe, interpretada por Deirdre O’Connell, é uma das grandes personagens da série) que irá ser explicada ao longo dos vários episódios.

Sofia Falcone, apesar de todos os seus problemas — e de ser uma assassina em série — acaba por ser a personagem com que a o público facilmente se relacionará. De todo o mal nesta Gotham de The Penguin, ela parece a mais térrea, a menos ligada a uma versão mística da maldade. É dela de quem temos misericórdia — se haverá tal coisa nesta série — pela forma como a família a tratou. Embora ambos os vilões sejam produtos de sobrevivência, a de Penguin é autoinfligida, a de Sofia advém do medo que os homens têm das mulheres. Quando ela percebe isso, transforma-se.

The Penguin é, então, uma série sobre o quê? Resolve-se isto voltando ao princípio e dizendo que é sobre uma cidade, não uma Gotham sem Batman (Batman provavelmente estará noutro local da cidade a limpar o sebo a outros mauzões), mas uma Gotham quando não estamos a olhar para Batman, à procura dele. E é, também, uma série que mostra o potencial de continuar a desenvolver mundos para lá dos filmes e de como estes se podem fundir com as séries. A ideia não é nova, mas The Penguin explora-a de uma forma diferente. No fundo, o objetivo é demonstrar que esta Gotham não é unidimensional: é uma cidade onde poderíamos viver.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.