Uma testemunha no julgamento cível da Universidade Lusófona e do ex-dux João Gouveia defendeu esta quarta-feira que o sobrevivente da tragédia do Meco demorou a alertar para o desaparecimento dos seis jovens arrastados pelo mar em dezembro de 2013.

Segundo Manuel Carrasqueira, tio de Pedro Negrão, um dos seis jovens que morreram na praia do Meco em 13 de dezembro de 2013, alegadamente durante uma praxe liderada pelo então dux da Universidade Lusófona João Gouveia, os seis estudantes terão sido arrastados por uma onda que terá ocorrido “num intervalo de cinco a dez minutos da preia-mar“, pouco depois da meia-noite.

Se não foi a onda mais alta, quando a maré ainda está a subir, foi uma onda anterior que os terá levado, porque depois [da preia-mar] já é pouco provável. Se eles não foram levados pela onda mais alta, dificilmente seriam levados depois, mais tarde, por uma onda inferior”, disse Manuel Carrasqueira.

Perante o que considerou ser uma evidência resultante do “conhecimento científico” sobre o mar, Manuel Carrasqueira defendeu que o alerta dado para o 112, número nacional de emergência, cerca da 1h00, terá sido efetuado demasiado tarde, muito depois do que seria expectável.

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“O mar é uma coisa que eu conheço muito bem. A altura da maré cheia é conhecida, está disponível para quem quer saber a hora. A sinusoide — a altura das ondas que descreve uma determinada curva — também é conhecida. Portanto, há matéria científica, alguma que eu conheço, outra que está naturalmente para além do meu conhecimento”, justificou Manuel Carrasqueira, oficial da Marinha Portuguesa.   “Eu sou oficial de Marinha, sou engenheiro maquinista naval — faço dia 7 de setembro 40 anos de marinha —, continuo ligado à Marinha como investigador, trabalho em projetos de investigação conjuntos com a marinha”, acrescentou.

As declarações de Manuel Carrasqueira foram várias vezes contestadas pelos advogados da Universidade Lusófona, e, principalmente, pela advogada de João Gouveia, a exemplo do que já tinha acontecido pouco antes quando relatou conversas com os também os ex-dux Rui Osório e Fábio Jerónimo, que, segundo disse, pelo menos nos primeiros dias após a tragédia, lhe terão manifestado desacordo com o local escolhido para a alegada praxe.

Segundo Manuel Carrasqueira, no ano anterior (2012) o então dux da Lusófona, Fábio Jerónimo, terá liderado uma atividade semelhante, mas em “condições controladas“, porque decorreram na foz de um rio, em Vila Nova de Milfontes, e não na frente atlântica, em noite de temporal, como a que culminou com a morte de seis jovens na praia do Meco, em Sesimbra, no distrito de Setúbal.

As famílias dos seis jovens falecidos interpuseram seis ações cíveis em 2016, contra o ex-‘dux’ João Gouveia e a COFAC — Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL (Universidade Lusófona). Em cada uma das seis petições iniciais é pedida uma indemnização de cerca de 225 mil euros, o que perfaz um valor global que ronda um milhão e 350 mil euros.

A próxima sessão do julgamento, em que deverá ser ouvido o médico do Hospital Garcia de Orta, em Almada, que recebeu João Gouveia, o único sobrevivente da tragédia, está marcada para as 9h00 do dia 14 de julho, no Palácio da Justiça de Setúbal.