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História do Limão
Nasceu na Ásia e multiplicou-se em variedades – há uma com o nome de Lisboa. Conheça os benefícios para a saúde que deram ao limão fama de medicamento, ao longo dos séculos.
A frase já foi dita, escrita e reescrita: “Se a vida te der limões, faz limonada”. Quanto à lição de vida, nada a apontar, mas o adágio é injusto para o limão, fruta milenar com que se faz muito para além de sumo. Já foi mercadoria comprada a peso de ouro pelos países do norte da Europa e eleito pela sabedoria popular como remédio, muito antes de se tornar um item básico na despensa.
O nascimento deu-se na Ásia, entre a China e a Índia, e estudos genéticos indicam que este é o fruto do cruzamento de laranjas ácidas com o cedrat, um citrino sem sumo, de casca rugosa, muito usado na indústria cosmética. É possível que, antes de Cristo, já tivesse chegado ao Império Romano, embora fosse certamente uma fruta rara na península itálica.
Nos anos 50 encontrou-se, nas escavações de Pompeia, um mosaico onde se distingue um limoeiro, o que prova que, pelo menos em 79 D.C., data da histórica explosão do Vesúvio, os romanos conheciam a árvore e o seu fruto e provavelmente a usavam para decorar jardins.
As primeiras colonizações, cruzadas e movimentos migratórios deram a conhecer o limão pela bacia do Mediterrâneo e, entre árabes e romanos, ganhou o estatuto de antídoto. Uma das lendas que reforça esta ideia de remédio para todos os males diz que o imperador Nero era um consumidor assíduo de limão, por ser obcecado com a hipótese de ser envenenado. É legítimo que a frequência com que se traíam imperadores e homens poderosos tenha deixado Nero nas mãos de qualquer solução caseira e o limão já trazia boa fama da Ásia e do norte de África, onde era associado à limpeza e ao afastamento de pragas.
Limão Siciliano
Os Árabes deixaram o limão no sul da Península Ibérica entre os anos 1000 e 1200, mas o cultivo significativo desta fruta, perfeita para climas subtropicais, só ganhou força na Europa mediterrânea por volta do século XV, com os primeiros campos em Génova. Com o tempo, esta cultura tornou famosas as zonas da Costa Amalfitana e da Sicília – o limão é uma imagem, um sabor e um cheiro praticamente identitários destes cantos de Itália. Está na sua doçaria, nas paisagens, na moda (os padrões de limões da Dolce & Gabbana são icónicos) e bastará dizer que, no Brasil, o limão é conhecido por “limão siciliano”.
Limão Lisboa
O limite ocidental da Europa terá, no entanto, a sua responsabilidade na popularização do limão pelo mundo – e de uma das variedades preferidas comercialmente. Não é clara a razão por que a variedade Lisboa tem o nome da capital portuguesa que, aliás, excetuando os limoeiros nos pátios de algumas casas e o fado da Rosinha dos Limões, não é famosa pelo citrino ácido e amarelo.
Uma das teorias justifica este nome com um enxerto levado de Lisboa, no século XIX, para a Califórnia, atualmente uma das zonas com maior produção de limão dos Estados Unidos. Aí reproduziu-se e transformou-se levemente: hoje inúmeras variedades derivam, com ligeiras nuances, da variedade Lisboa, de sabor ácido, pele fina e muito sumarento, quase sem sementes.
A variedade Lisboa é justamente uma das utilizadas, juntamente com a Eureka e a Verna, no novo Compal Origens Limão do Algarve.
As viagens dos limões da Europa para as Américas eram por esta altura já um hábito. As colonizações europeias introduziram neste continente quase todos os citrinos e, com todas as doenças que vingavam a bordo dos navios, descobriu-se tarde que o limão teria sido um bom mantimento para marinheiros.
Benefícios do Limão
Só no século XVIII, James Lind, médico escocês, testou a eficácia do limão no tratamento do escorbuto. A sua eficácia ditou que se tornasse um mantimento obrigatório na armada britânica. Por essa altura era um ingrediente médico importante e comprado a peso de ouro pelos países do norte da Europa. Só no século XX, com a identificação da vitamina C, inicialmente batizada como ácido ascórbico, ficou a descoberto a razão por que o limão era o tratamento indicado para esta e outras doenças.
Durante a epidemia da gripe espanhola, em 1918, perante a paralisia da comunidade médica, sem medicamentos nem tratamentos eficazes, a cultura popular aplicava também o limão. Uma centena de anos mais tarde, é ainda mais seguro elogiá-lo, com a certeza de que tudo o que vem no seu sumo e casca: é rico em vitamina C, importante para a robustez do sistema imunitário; em potássio, um mineral muito útil no controlo da pressão arterial, e em ácido cítrico, um forte antisséptico e bactericida. Fica explicado o hábito dos que começam o dia com o sumo de meio limão num copo de água.
Limão na Cozinha Tradicional Portuguesa
O reinado do limão como medicamento dos marinheiros subnutridos aos constipados foi longo e mais recentemente entrou pelas lides dos temperos. É fácil perceber o gosto das épocas pelos seus livros de receitas e a tese de mestrado de Maria Margarida de Abreu, “Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lourdes Modesto: contributos para a construção de identidades e do património culinário português”, permite perceber como o limão se tornou um dos sabores ácidos favoritos dos portugueses.
No” Livro de Cozinha da Infanta D. Maria”, do século XVI, aparece apenas em 4,5% das receitas, mas 100 anos depois, na Arte da Cozinha, de Domingos Rodrigues, está em 32% das receitas. O gosto da população pelos acidulados em geral diminuiu e no incontornável “Cozinha Tradicional Portuguesa” (1982), de Maria de Lourdes Modesto, o limão está só em 14,9% das receitas, sendo, no entanto, o ácido sempre à mão, em todas as regiões do país – juntamente com o vinagre.
Tempero de limão
Como tempero, o limão refresca e faz sobressair outros sabores, é afiado na acidez do sumo, e aromático na casca. Não se fica, no entanto, por aqui. As variações do que é um limão surpreendem os que mergulham na sua ancestralidade e nos parentes que foi deixando pelo mundo. O limão-caviar, por exemplo, tem a forma de dedo e quando se corta, explode em centenas de esferas minúsculas, semelhantes às ovas de esturjão, e com sabor subtil a limão.
Limão mão de buda
Se em vez deste dedo, quiser uma mão cheia, procure o limão mão de buda: um cacho de dedos retorcidos bem amarelos e de casca rugosa – é na pele que está o todo o seu sabor perfumado, já que o interior é só polpa branca amarga.
Limão Yuzu
Da Ásia, berço deste citrino, vem o mais conhecido limão japonês, também chamado yuzu. Tomou a Europa de assalto, nos últimos anos (especialmente a parte da Europa que gosta de restaurantes de sushi), por causa da grande concentração de aromas na sua casca, de um ácido ligeiramente adocicado.
Estes limões não estão ainda prontos para dominar as cozinhas de todos os dias – a sua produção é mais cara, são mais susceptíveis à escassez de água e variações de temperatura – mas, por todo o mundo, já conquistam cozinhas de autor e restaurantes de alta cozinha, sempre à procura do ingrediente mais surpreendente e requintado. Como se um limão vulgar, com toda esta história e benefícios para o corpo, não deixasse qualquer um de queixo caído.
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