Em março de 2020 o Teatro Nacional S. João (TNSJ) deu início às festividades do seu centenário, mas a pandemia adiou alguns pontos altos. Após serem concluídas as obras de reabilitação e modernização, a partir de outubro o teatro fecha o ciclo de comemorações com três momentos gratuitos.

“10 atos, 100 anos” é o nome da exposição que irá ocupar o salão nobre com objetos, fotografias, entrevistas em áudio e vídeo, projetos de arquitetura, cartazes e figurinos que ajudam a contar a história do TNSJ. O incêndio do “velho” Real Teatro, a obra do arquiteto Marques da Silva, o restauro de João Carreira ou a invenção de um teatro nacional por Ricardo Pais são apenas alguns dos 10 momentos mais marcantes.

“Caderno de Obra” é outra iniciativa que marca esta data redonda, onde através de textos, imagens e conversas a cidade é lida no tempo e o S. João é apresentado como uma obra aberta. Já no Mosteiro de São Bento da Vitória, o colóquio internacional “Teatros Nacionais: missões, tensões e transformações” sugere um diagnóstico entre várias instituições numa reflexão sobre o legado, a identidade o papel artístico e político dos teatros enquanto lugares colaborativos de criação, representação e participação.

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A nova temporada do TNSJ é rica em produções próprias de grandes clássicos da dramaturgia. “Lear”, de William Shakespeare, onde Nuno Cardoso dirige um elenco que combina atores quase residentes e outros que prometem fazer história “articulando tempos, memórias e afetos” ou “À Espera de Godot”, a história da personagem-mistério que nunca chega e que Samuel Beckett sempre se recusou a identificar com Deus, são apenas alguns exemplos do que irá poder ver, assim como “Floresta de Enganos”, de Gil Vicente, “Tartufo” de Molière ou “O Balcão”, escrita em 1955 por Jean Genet.

Nas estreias nacionais, destacam-se trabalhos como “O Julgamento de Ubu”, uma peça infantil encenada por Nuno M. Cardoso que vai a cena à boleia do Festival Internacional de Marionetas do Porto, “O Pecado de João Agonia”, um texto de Bernardo Santareno com encenação de João Cardoso, “Porque é Infinito”, um peça que parte de uma releitura de “Romeu e Julieta” assinada por Joana Craveiro e encenação de Victor Hugo Pontes ou “Estética da Resistência”, um romance icónico para as esquerdas europeias com texto de Rui Pina Coelho e encenação de Gonçalo Amorim, diretor artístico do Teatro Experimental do Porto.

“Tartufo”, uma comédia de Molière, é encenada por Carlos J. Pessoa e estará em cena de 29 de setembro a 10 de outubro

Com paragem obrigatória marcada para o TNSJ estão algumas co-produções com carimbo nacional como “Pais & Filhos”, a mais recente criação da companhia Teatro Praga com encenação de Pedro Penim, novo diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, e interpretações de nomes como Rita Blanco, Joana Barrios ou Hugo Van Der Ding. Sara Barros Leitão sobe ao palco do Teatro Carlos Alberto com “Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa”, um trabalho inaugural com a sua estrutura Cassandra, fundada em 2020.

Paralelamente ao calendário teatral, há atividades infantis no centro educativo, debates e mesas redondas e outros destaques que vale a pena apontar na agenda. “Ascensão e queda da cidade de Mahagonny”, de Bertolt Brecht, “O Ouro do Reno”, de Richard Wagner, ou “Amor de Perdição”, de António S. Ribeiro serão alguns textos dramáticos protagonistas de mais uma edição de “Leituras no Mosteiro”, no Mosteiro de São Bento da Vitória.

“Manual de autodefesa para dramaturgos vivos” é a oficina de escrita para cena orientada por Jorge Louraço Figueira e “Conversa com o Mestre” é o ciclo de conversas pós espetáculo, onde o dramaturgo, encenador, ensaísta e professor Luís Mestre vai quebrar o gelo, lançar pistas, questionar, dar voz e fomentar a informalidade para que cada um leve para casa o melhor do que viu em cima do palco.