O Canto de Mulheres de Matriz Rural a três ou mais vozes vai ter formalizada, no sábado, a candidatura a património cultural imaterial nacional para, no futuro, concorrer a património da humanidade, disse esta sexta-feira uma das responsáveis.

“Este sábado é o ato simbólico. É o primeiro passo muito importante para o objetivo final de candidatar a património imaterial da humanidade”, explicou a presidente da Associação Canto a Vozes — Fala de Mulheres, Ana Maria Azevedo.

A presidente da associação explicou que este canto feminino “tem passado ao longo de séculos de geração em geração, sempre entre mulheres” e não é um canto típico em todo o país, uma vez que está concentrado desde a região de Lafões até concelhos do distrito de Aveiro e depois na zona do Minho.

Este canto é diferente dos outros. É um reportório com estatuto especial, com uma riqueza e diversidade enorme e com uma singularidade também. Espanta a facilidade com que as mulheres, algumas até bem idosas, têm tanta firmeza e certeza em lançar as vozes com tamanha projeção”, caracterizou.

Ana Maria Azevedo, que estudou este canto “há mais de 20 anos”, escreveu um livro sobre o tema e fundou o Grupo de Cantares de Mulheres do Minho, que ainda dirige.

Fiquei espantada com o número de grupos existentes na região mais a Sul. Há vários em São Pedro do Sul e também há em Vouzela, Oliveira de Frades, Arouca, Vale de Cambra e Aveiro, portanto é nessa região e aqui no Minho que estes cantares existem”, disse.

“O canto é feito por patamares, começa a voz baixa, que se pretende bem cheia, depois vai entrando a voz do meio, depois a de cima e, por fim, o guincho. É um canto que os homens não conseguem alcançar”, precisou a responsável.

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Depois de ser património nacional, continuou Ana Maria Azevedo, o projeto passa por “criar uma rede intermunicipal com autarquias das regiões onde este canto ainda existe, de forma a avançar na candidatura para património da humanidade”.

Esta responsável reconhece que “estes cantares são muito pouco conhecidos” das pessoas e, com o intuito de os divulgar mais, na sessão de sábado estarão presentes 14 grupos que interpretarão dois a três cantos cada, “para que se assinale o dia de festa, que é grande, para quem vive e sente estes cantos”.

A cerimónia acontece no Cine-teatro Jaime Gralheiro, em São Pedro do Sul, que é o município anfitrião e “o grande impulsionador” desta candidatura, uma vez que é também neste concelho “que existem mais grupos concentrados, seis ao todo”, segundo a vereadora responsável pela Cultura, Teresa Sobrinho.

A associação foi criada com o intuito de formalizar esta candidatura, porque só pode ser feita por uma associação, mas tem sido a câmara a instituição que mais tem apoiado o processo e que está a impulsionar a rede intermunicipal, para que as outras autarquias também possam apoiar”, revelou.

Teresa Sobrinho defendeu que “não se pode perder esta tradição” e, por isso, “tem havido algumas iniciativas de forma a reativar estes cantos e ensiná-los às novas gerações para que se continuem a fazer ouvir” no tempo.