Praticamente um mês depois das eleições autárquicas, os resultados da Iniciativa Liberal em Lisboa começam a ganhar alguma forma: falhado o objetivo assumido de eleger um vereador, o partido conseguiu três deputados municipais e 14 representantes em juntas de freguesia (mais um após as negociações pós-eleitorais). É este capital político que o partido vai usar para influenciar a governação local.

A regra estabelecida pela IL foi não integrar executivos. O objetivo assumido é garantir mais elasticidade para impor uma agenda própria e escrutinar sem amarras os vários executivos de direita. Com uma exceção: São Domingos de Benfica. Nesta junta de freguesia, o primeiro eleito pelos liberais vai passar a integrar o executivo de direita liderado por José da Câmara, revelou fonte oficial do partido ao Observador.

Além desta, havia três freguesias onde o voto da Iniciativa Liberal era essencial para viabilizar as propostas dos executivos: Avenidas Novas, Lumiar e Parque das Nações. No primeiro caso, os liberais ficaram fora do barco e vão apenas abster-se. O partido liderado por João Cotrim Figueiredo preferiu não votar a favor de Daniel Gonçalves, considerado pelos liberais uma companhia muito pouco recomendável.

Recorde-se que esta é uma freguesia sensível para os sociais-democratas. Daniel Gonçalves, pai de Rodrigo Gonçalves, foi afastado de uma recandidatura em 2017 pelo então presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, apesar de ser presidente da junta em exercício.

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Apesar de estar envolto em muitos casos controversos, como recordava o Observador, Daniel Gonçalves voltou a ser a escolha do PSD nestas eleições como candidato a presidente da junta de freguesia das Avenidas Novas.

O regresso da família Gonçalves em Lisboa (que Moedas não conseguiu travar)

Já no Lumiar e no Parque das Nações, duas juntas conquistadas ao PS, a Iniciativa Liberal vai votar a favor das coligações de direita, permitindo com esses votos a viabilização dos executivos locais.

Ainda que não seja suficiente para garantir maiorias noutros pontos da cidade de Lisboa, os liberais vão votar a favor dos novos executivos de direita também em Alvalade e Arroios, de forma a garantir estabilidade de uma alternativa ao PS e a retirar qualquer hipótese de influência dos socialistas nos destinos das freguesias.

De resto, esse princípio — o de anular a influência do PS sempre que for possível — vai nortear a atuação dos eleitos pelo partido em cada freguesia. A contrapartida é a adoção de algumas medidas propostas pelo partido, sendo que a implementação transversal de um Portal da Transparência nas Freguesias está no topo das prioridades.

O objetivo é que exista um conhecimento público e claro dos gastos e contratos de cada junta de freguesia, para evitar abusos de poder e os excessos que tanto se critica no PS, explicou ao Observador fonte oficial do partido. Esse, aliás, é um ponto de honra para a IL: garantir que o PSD não se vai comportar como o PS se comportou nos últimos anos em Lisboa.