O ministro da Defesa Nacional defendeu esta sexta-feira a importância de uma “política de defesa robusta e sustentada numa indústria de defesa competitiva e inovadora” para que Portugal seja “ator e não mero espetador da geopolítica regional e global”.
“Se queremos um Portugal como ator e não mero espetador da geopolítica regional e global, temos de ter uma política de defesa nacional robusta e sustentada numa indústria de defesa competitiva e inovadora”, considerou João Gomes Cravinho, na apresentação de um estudo sobre economia de Defesa elaborado pela idD Portugal Defence, que decorreu hoje no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa.
O estudo intitulado Economia de Defesa em Portugal — a caminhar em direção ao futuro — foi realizado em parceria com o Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério de Economia e o Instituto da Defesa Nacional (IDN).
Para Gomes Cravinho, algumas conclusões deste estudo “sustentam o argumento político fundamental de que as indústrias da defesa, devido à evolução tecnológica acelerada e ao duplo uso civil-militar que proporcionam, desempenham um papel central tanto em termos militares como civis, fazendo parte do esforço necessário e incontornável para enfrentar desafios globais”.
Entre os dados deste trabalho, o governante destacou “a elevada diversidade da estrutura produtiva da Economia de Defesa, que cobre 40 setores de atividade” constituindo-se como “um indício de resiliência e de capacidade de inovação do setor”.
“Isto é confirmado também a nível internacional pelos dados que nos mostram que, não obstante a pandemia e a subsequente contração de 3,5% na produção económica global em 2020, a despesa global em defesa no ano passado foi superior em 2,6% à despesa de 2019”, aditou.
O estudo revela também, continuou, “que a importância da internacionalização para a Economia da Defesa é muito superior à maioria dos restantes setores nacionais, uma vez que a economia de defesa é proporcionalmente muito mais exportadora”, sendo que “em 2019 as exportações nas empresas da Defesa representavam o dobro daquilo que representavam em 2010”.
Por último, segundo o ministro da Defesa, este estudo revela que o setor “tem todas as condições para manter uma elevada competitividade”.
“Se não continuarmos de forma sustentável este reforço do investimento em defesa poderemos, em última análise, erodir a base científica, industrial e tecnológica da UE, que é a que nos dá as competências necessárias para assegurar a resiliência da Europa contra todo o tipo de crises à escala global”, apontou Gomes Cravinho.
Para o governante, “este raciocínio é muito bem compreendido nos Estados Unidos, a nível da opinião pública, mas ainda é insuficientemente compreendido em Portugal, e na maior parte da Europa”, esperando que o estudo contribua para uma “perceção mais exata desta realidade”.
Gomes Cravinho referiu ainda, a nível nacional, que um dos projetos das Forças Armadas financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência é o “investimento de 110 milhões de euros previsto numa Plataforma Naval Multifuncional para a Marinha, que irá permitir, entre outras funções, a monitorização do oceano, bem como a associação a uma rede de centros de investigação, desenvolvimento, experimentação e inovação cujo objetivo central será o do conhecimento e a preservação dos oceanos”.
O presidente da idD Defence Portugal, Marco Capitão Ferreira, defendeu que “a economia de defesa para além da função de suporte às Forças Armadas, é um conjunto de entidades, empresas, centros de investigação que tem um potencial enorme de crescimento da economia portuguesa na direção em que ela deve crescer: com emprego mais qualificado, com mais investimento em investigação e desenvolvimento, com uma maior internacionalização nas redes europeias e internacionais de valor acrescentado e exportar”.
Já na fase de encerramento, o secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves, destacou a “relevância estratégica” do setor.
“Se no passado a economia da Defesa não teve o devido reconhecimento (…) é hoje clara a sua relevância estratégica, traduzida na capacidade de produzir produtos e serviços com grande incorporação tecnológica que abrem portas para novas áreas de conhecimento como a ciberdefesa, o espaço, questões associadas à robótica e que são geralmente adotadas para usos não estritamente militares e, portanto, com um efeito de difusão sobre a sociedade muito significativo”, apontou.
O setor da Economia de Defesa representou 2% das exportações portuguesas em 2019, num universo de cerca de 350 empresas que, na sua maioria, são de pequena e média dimensão, indica o estudo.
Este trabalho aponta para um “aprofundamento da internacionalização da Economia da Defesa nacional, que já é bastante expressiva, uma vez que representa 2% das exportações portuguesas e os mercados externos representam 40% das vendas totais das empresas”.
“As empresas da Economia da Defesa exportam anualmente cerca de 1,9 mil milhões de euros (em 2019), representando 2% do total das exportações nacionais (face a 1,4% do valor acrescentado bruto)”, lê-se.