A casa-museu de Miguel Torga em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa, é inaugurada na segunda-feira, dia em que se assinalam os 27 anos da morte do escritor, foi anunciado.

Miguel Torga, cujo nome de batismo era Adolfo Correia da Rocha, nasceu a 12 de agosto de 1907, em São Martinho de Anta, concelho de Sabrosa (Vila Real), e morreu a 17 de janeiro de 1995, em Coimbra.

Doada à Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN) por Clara Crabbé Rocha, filha de Miguel Torga, a casa foi adaptada a um espaço museológico, onde se preservam as memórias das vivências quotidianas do escritor na sua terra natal.

A DRCN explicou que se trata da casa de família do autor onde os seus pais viveram, onde nasceu e permaneceu até ao início da adolescência, e para onde regressava com periodicidade até ao fim da sua vida.

O edifício foi remodelado por sua mulher, Andrée Crabbé Rocha, tornando-se posteriormente casa de férias da família.

Nesta casa-museu serão dadas a conhecer a vida e obra do poeta e escritor através de uma “abordagem expositiva centrada na intimidade do autor, na sua relação com a família, no seu reconhecimento internacional e na sua relação ao território”.

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A diretora regional de Cultura do Norte, Laura Castro, explicou à agência Lusa que os visitantes entrarão numa sala onde há algum mobiliário, peças de cerâmica e objetos decorativos que pertenceram àquele lugar.

Depois, nos quartos e na zona da cozinha, não havendo mobiliário original, foi colocado material expositivo que aborda três temas: Miguel Torga e Trás-os-Montes, o lugar de São Martinho de Anta e, por fim, a mulher e a filha do escritor, respetivamente, Andrée Crabbé Rocha e Clara Rocha.

“Estes três temas, o tema familiar, a aldeia e Trás-os-Montes, o reino maravilhoso, são abordados a partir de alguns documentos originais, como o passaporte do Torga, a licença de caça, diploma e manuscritos, mas também obra publicada, quer em Portugal, quer no estrangeiro”, acrescentou.

Laura Castro salientou que a intervenção visou a manutenção do edifício, mantendo-se o espaço exatamente como era, incluindo o pequeno jardim e um pomar.

A diretora regional de Cultura salientou a colaboração da filha do escritor, que acompanhou todo o trabalho realizado.

O projeto de recuperação, musealização e promoção da Casa de Miguel Torga, desenvolvido pela DRCN, compreende um investimento de cerca de 340 mil euros, com um financiamento de 90% pelo Turismo de Portugal, através do programa Valorizar.

A gestão do espaço vai ser feita pela Câmara de Sabrosa, numa lógica de complementaridade com o Espaço Torga, um equipamento cultural contemporâneo, projetado por Eduardo Souto de Moura.

O protocolo de colaboração foi celebrado entre a DRCN e a autarquia, em julho, e visa reforçar São Martinho de Anta “como um local de conhecimento e divulgação do autor”.

A presidente da Câmara de Sabrosa, Helena Lapa, afirmou à Lusa que este novo espaço vai ser uma mais-valia para o concelho, acreditando que vai reforçar o número de visitantes que já se deslocam ao território atraídos por Miguel Torga e pelos locais descritos pelo escritor na sua obra.

“Há, de facto, turistas que procuram estes espaços e a procura é cada vez maior. É obvio que nos potencia em termos culturais, mas também em termos turísticos”, frisou.

Oriundo de uma família de camponeses, sem grandes recursos económicos, Torga trabalhou no Porto, passou pelo Seminário de Lamego e, ainda adolescente, emigrou para o Brasil.

De regresso a Portugal, cursou Medicina em Coimbra, onde viveu e morreu em 1995.

Entre algumas das suas obras destacam-se os “Contos da Montanha”, “Bichos”, “A Criação do Mundo”, “Senhor Ventura” e “Vindima”; na poesia, “Rampa”, “Abismo”, “Lamentação”, “Libertação” e “Poemas Ibéricos”, entre outros títulos.

Foi galardoado com vários prémios literários nacionais e internacionais, entre os quais o Prémio Camões, de que foi o primeiro galardoado, e foi candidato ao Prémio Nobel da Literatura.

No dia da abertura ao público, a 17 de janeiro, será inaugurada, no Espaço Torga, a exposição “Contramuros”, de Francisco Laranjo, seguindo-se uma visita orientada à Casa Miguel Torga.

O evento termina com um concerto do grupo Lavoisier, que, partindo de poemas de Miguel Torga, desenvolveu um álbum conceptual que traduz “o reino maravilhoso” descrito pelo escritor.

O álbum, lançado em 2019, é o resultado de uma residência artística em terras transmontanas e em locais mencionados por Torga.