Mais de 70 organizações não-governamentais (ONG) acusaram na sexta-feira o Presidente do Brasil de mentir na Cimeira das Américas, ao dizer que o país tem sido exemplar na proteção ambiental e fundamental para a segurança alimentar mundial.

A rede Observatório do Clima, que reúne 73 organizações ligadas ao ambiente, incluindo a Greenpeace e o World Wildlife Fund (WWF), referiu que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro descreveu um Governo e um Brasil que não existem, de acordo com a agência de notícias EFE.

Na IX Cimeira das Américas, que terminou na sexta-feira em Los Angeles, Bolsonaro assegurou que o Brasil é uma “potência agrícola sustentável”, porque preserva 66% da vegetação nativa, utilizando apenas 27% do território nacional para o setor da agropecuária.

Apesar de ser a décima economia mundial, o Brasil gera menos de 3% das emissões de carbono do planeta, afirmou ainda Bolsonaro, sublinhando que 85% da energia do Brasil tem origem em fontes renováveis.

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O líder notou ainda que a potência sul-americana “alimenta mil milhões de pessoas”. E concluiu: “sem o nosso negócio agrícola, parte do mundo passaria fome”.

“Bolsonaro passou um bom tempo no seu discurso a fazer o que faz de melhor na área ambiental: mentir. Ele disse que cuidava do meio ambiente, enquanto todos sabem que o desmatamento na Amazónia subiu 76% desde o início do seu mandato, assim como cresceu também a destruição do Cerrado, da Mata Atlântica e do Pantanal”, disse o secretário executivo do Observatório do Clima Marcio Astrini, citado pela agência de notícias EFE.

As declarações de Astrini receberam o apoio da ONG britânica Oxfam, que também criticou o discurso do Presidente brasileiro no que diz respeito à segurança alimentar.

“É espantoso ver um Presidente da República brasileiro afirmar sem vergonha, numa reunião de líderes internacionais, que o Brasil alimenta mil milhões de pessoas em todo o mundo e que evitou uma crise alimentar global, na mesma semana que um relatório de investigadores em segurança alimentar e nutrição revelou que há mais de 33 milhões de pessoas famintas no país”, afirmou Katia Maia, diretora executiva da Oxfam no Brasil.

O estudo referido foi conduzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), que revelou que o número de brasileiros que passa fome quase duplicou nos últimos dois anos, de 19 milhões, em 2020, para 33,1 milhões, em 2022.

Esta não é a primeira vez que o dirigente aproveita eventos internacionais para fazer afirmações que não refletem a realidade, acusou o responsável do Observatório do Clima.

“A impressão é que o presidente brasileiro está a apostar na estratégia de que, repetindo mil vezes uma mentira, ela se tornará verdade”, destacou o Astrini.