Évora vai ser a Capital Europeia da Cultura em 2027. A cidade vai receber um financiamento de até 29 milhões de euros para concretizar o seu projeto de programação, dinamização e transformação cultural para esse ano, revelou o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, durante o anúncio, feito esta quarta-feira em conferência de imprensa no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Decidimos apoiar a cidade vencedora com 29 milhões de euros, para aquilo que será o processo de concretização, repartidos com um esforço nacional, de 15 milhões de euros [da administração central], 10 milhões de euros do programa operacional regional do vencedor [a cargo da candidatura vencedora] e quatro milhões de euros através do turismo, sujeitos a uma candidatura ao Turismo de Portugal”, apontou.

Pedro Adão e Silva anunciou ainda que as três candidaturas que integraram a shortlist final a Capital Europeia da Cultura em 2027 — de Braga, Aveiro e Ponta Delgada — vão ser capitais portuguesas da cultura: “Respondendo a um apelo que me foi feito pelo conjunto dos quatro autarcas e das candidaturas que chegaram a esta fase, criaremos a figura da capital portuguesa da cultura, que nas suas três primeiras edições, em 2024, 2025 e 2026, será das três cidades que não foram hoje escolhidas”.

Sobre este novo estatuto de “capital portuguesa da cultura”, o ministro apontou: “É um repto que fica para as comunidades, para as regiões, para as autarquias, para a sociedade civil e também para os privados. É fundamental que este repto seja partilhado no território por todos”. E detalhou:

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“O Governo, numa colaboração com o ministério da Economia e com o ministério da Coesão Territorial, decidiu apoiar com dois milhões de euros o programa da capital portuguesa da cultura, que se repetirá por três anos”. Depois destas três cidades, para 2028 será lançado um “concurso aberto”.

Além do ministro da Cultura, estiveram presentes na conferência de imprensa desta quarta-feira a Representante da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Moreira de Sousa, e a presidente do júri que escolheu a cidade, Beatriz Garcia.

Os critérios para a escolha de Évora, 4ª cidade portuguesa a ser capital europeia da cultura

A figura da Capital Europeia da Cultura, inicialmente denominada Cidade Europeia da Cultura, é uma iniciativa da União Europeia e começou em 1985, ano em que esse estatuto foi conferido a Atenas. Ao longo dos últimos anos, já foram capitais europeias da cultura três cidades portuguesas: Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012).

Nos próximos anos, serão capitais europeias da cultura cidades da Hungria (2023), Estónia e Áustria (2024), Eslovénia e Alemanha (2025), Eslováquia e Finlândia (2026) e Letónia e Portugal (2027), numa lógica de rotatividade entre cidades de Estados-membros da União Europeia. Évora vai assim partilhar este estatuto com a cidade letã Liepaja.

A candidatura portuguesa vencedora para 2027 foi escolhida devido a uma série de critérios, referidos nesta apresentação no CCB, que iam desde a contribuição do projeto apresentado para o desenvolvimento geral da cidade a longo prazo até à dimensão europeia da candidatura, o conteúdo cultural e artístico apresentado, a capacidade dos candidatos para materializar o projeto, a participação da população local e sociedade civil nesse mesmo projeto e o plano global de gestão da candidatura, incluindo-se aqui o seu orçamento.

Depois de apresentadas 12 candidaturas iniciais a Capital Europeia da Cultura em 2027, tinha sido definida em março deste ano uma shortlist com as quatro candidaturas portuguesas consideradas mais fortes, apresentadas pelas cidades de Aveiro, Braga, Évora e Ponta Delgada.

A decisão final agora anunciada coube a um painel de 11 jurados escolhidos pelo ministério da Cultura português e por instituições europeias. Presidido por Beatriz Garcia, o júri incluía elementos do Parlamento Europeu (Else Christensen-Redzepovic e Jorge Cerveira Pinto), do Conselho Europeu (Marilyn Gaughan Reddan, Goda Giedraityte e Rossella Tarantino), da Comissão Europeia (Jelle Burggraaff e Hrvoje Laurenta, além da presidente do júri), do Comité das Regiões (Anne Karjalainen) e os nomeados pelo ministério da Cultura João Seixas e Suzana Faro.

Ministro da Cultura prevê: Évora vai “transformar-se pela cultura”

Na sua intervenção, esta quarta-feira, o ministro da Cultura notou que na shortlist final de cidades candidatas a Capital Europeia da Cultural em 2017 estavam “quatro cidades fora das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto”, o que enalteceu como “algo fundamental para o país” e um contributo para a “transformação do território”. Todo o processo de candidaturas foi, aliás, “muito dinâmico, revelador da vitalidade cultural do país e do dinamismo do território”, segundo o ministro.

Um território que vê na cultura um fator de transformação da identidade, de reforço da identidade através da memória mas também da possibilidade de projetar pela cultura o futuro“, apontou ainda o governante.

Évora vai “transformar-se pela cultura, consolidando estruturas, deixando um legado que deve perdurar para além de 2027, promovendo o desenvolvimento, a inovação e a criatividade mas com uma preocupação também com a formação de novos públicos”, referiu ainda o ministro.

“O Alentejo e Évora precisam deste projeto para encarar o futuro de outra maneira”

O presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto Sá, já se congratulou com a escolha da cidade para Capital Europeia da Cultura. Na conferência de imprensa em que esta escolha foi anunciada, o autarca defendeu: “A cultura tem de estar numa estratégia de desenvolvimento de qualquer país. Ouvir hoje o senhor ministro anunciar aqui que Portugal vai passar a ter uma capital de cultura, começando por estas três cidades, é uma notícia muito importante para a cultura em Portugal e para o desenvolvimento do país”.

Propusemos um conceito de ‘vagar’ para a Europa porque entendemos que a Europa precisa desse vagar. Estamos numa encruzilhada e precisamos de repensar a nossa sociedade, a nossa vida, como vivemos, como nos juntamos e como procuramos a felicidade. Julgo que o vagar está radicado na identidade cultural alentejana e é fundamental não apenas para o Alentejo, mas para o país e para a Europa. E insere-se exatamente nos valores que a Europa aponta”, acrescentou.

O Alentejo e Évora precisam deste projeto para, com a cultura no centro, conseguir um processo de desenvolvimento que ultrapasse dificuldades e que sobretudo potencie as enormes possibilidades que temos para encarar o futuro de uma outra maneira. Vamos empenhar-nos todos para que este processo dê certo”, referiu ainda Carlos Pinto Sá.

Representante da Comissão Europeia lembra valores europeus e guerra russa

Já a representante da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Moreira de Sousa, aproveitou para lembrar que este anúncio acontece num momento em que a Europa vive “uma guerra de agressão da Rússia a um país soberano, democrático e independente, em manifesta violação do direito internacional. Os nossos pensamentos de solidariedade e apoio continuam a ir para o povo ucraniano, que luta pela causa da liberdade e democracia”.

A iniciativa da União Europeia da Capital Europeia da Cultura tem claramente um papel a desempenhar na promoção dos valores europeus, junto dos nossos cidadãos e no reforço das nossas democracias“, acrescentou ainda Sofia Moreira de Sousa, enaltecendo “a vontade da UE de criarmos uma união entre povos”, na defesa de “valores que nos são caros” e que tornam a UE “bem mais do que uma mera coligação entre Estados”.