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Como a arte espanhola conquistou o mundo

Este artigo tem mais de 1 ano

Mais de 150 obras-primas que pertenceram ao amante e colecionador de arte hispânica, o milionário americano Archer Huntington (1870-1955). Para ver na Royal Academy of Arts em Londres até 10 de abril.

"Visões de Espanha", de Joaquin Sorolla (1912-13)
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"Visões de Espanha", de Joaquin Sorolla (1912-13)

"Visões de Espanha", de Joaquin Sorolla (1912-13)

Foi inaugurada na Royal Academy of Arts “Espanha e o Mundo Hispânico”, exposição que oferece a oportunidade de apreciar alguns tesouros da “Hispanic Society of America” pela primeira vez no Reino Unido. São mais de 150 obras-primas que pertenceram ao amante e colecionador de arte hispânica, Archer Huntington (1870-1955), um milionário americano que no século XIX percorreu Espanha de lés a lés, tendo-se também aventurado por Portugal e pelos Açores.

Data da primeira viagem de Huntington, a ideia de criar a “Hispanic Society of America”, concretizou-a em 1898, criando o que hoje é o maior museu e biblioteca de investigação, dedicado ao estudo das artes e cultura de Espanha, Portugal e América Latina, fora de Espanha. Sediada em Nova Iorque, a “Hispanic Society” aproveitou um período de obras no seu museu para emprestar os seus maiores tesouros à Royal Academy of Arts, cerne justificativo da presente exposição.

Estão aqui representadas várias Espanhas: uma Espanha ensolarada, severa, em tons de negro e católica; a Espanha folclórica de camponeses e toureiros, das bodegas e de Carmen; a Espanha do império e da conquista, a Espanha mourisca de “Al-Andalus”.

[uma visita virtual à exposição “Espanha e o Mundo Hispânico”:]

A exposição cobre a arte e a cultura de Espanha e da América Latina desde a era pré-histórica até ao início do século XX, e as muitas culturas que a moldaram. Sai assim reforçada a diversidade de culturas e religiões – da celta à islâmica, judaica e cristã – que ao longo de quatro milénios enriqueceram o que hoje entendemos como cultura espanhola.

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Pontificam aqui os maiores nomes da pintura espanhola: El Greco, Francisco de Zurbaran, Diego Velázquez, Francisco de Goya, e Joaquín Sorolla, entre outros. Os Sorollas são aliás abundantes com as suas cenas de praia cheias de roupas justas, pele molhada, jardins viçosos, flores berrantes. Estas obras sublinham o lado excêntrico da coleção, as obsessões de Huntington.

Ao impressionismo otimista de Sorolla do início do século XX, opõem-se as telas em grande escala e tingidas de art nouveau do contemporâneo Ignacio Zuloaga, considerado o reverso ou o oponente de Sorolla. Zuloaga elegeu os toureiros ciganos, as procissões religiosas rurais, integrando-se no movimento do costumbrismo cujo objetivo era a exposição dos costumes, do quotidiano, dos maneirismos e das características de uma sociedade. Com Zuloaga percebemos que apesar de todo o seu orgulhoso chauvinismo católico, a Espanha sempre olhou para a sua contestada periferia cultural – sejam os ciganos, seja o mundo islâmico ou as Américas – como parte integrante da sua identidade.

"Ragarigas de Burriana (Falleras)", de Hermenegildo Anglada Camarasa, 1910-11

A par das pinturas há sobejas esculturas, cerâmicas, lustres, peças de ourivesaria, mapas, manuscritos, iluminuras, têxteis e sedas. São dignos de atenção os trabalhos em metal e cerâmica dos povos ibéricos pré-históricos, o artesanato muçulmano, a cartografia náutica e as artes decorativas da América Latina colonial. A exposição segue uma ordem cronológica, desde o mundo antigo e al-Andalus, passando pelo período moderno e colonial da América Latina até ao início do século XX.

Entre as preciosidades da coleção avultam: o “Retrato de uma menina” (1638–42) de Diego Velázquez, retrato “pequeno e íntimo” possivelmente da sua neta; o retrato de corpo inteiro que Francisco de Goya (1746–1828) fez da XIII “Duquesa de Alba” em 1797, envergando um vistoso traje de maja usado pelas classes sociais mais baixas, Goya manteria à data um relacionamento com a Duquesa que poderá ter concordado com esta representação na expectativa de que a vissem como uma “mulher do povo” (embora o fundo pareça exibir uma das suas propriedades). Outra relíquia é um mapa-múndi de Giovanni Vespucci, mestre da cartografia náutica, datado de 1526, com vastos espaços em branco de áreas ainda desconhecidas.

Uma coleção de braceletes e torques de espirais celtas em prata, do célebre tesouro de Palência, desenterrado numa vila espanhola em 1911, está anunciada como o bem mais precioso da “Hispanic Society”. Uma fabulosa variedade de batedores de porta renascentistas em forma de animais e pássaros míticos é demonstrativa do enfoque estreito e obsessivo cultivado por Huntington.

"Retrato de uma Menina", de Diego Velazquez, 1638-42

Trujillo Juan

Realce ainda para uma escrivaninha mexicana laqueada do século XVII coberta com figuras decorativas astecas. E para uma “perturbadora” pintura pertencente ao género de pinturas de casta, intitulada “Mestizo and Indian Produce a Coyote” (1715), de Rodríguez Juárez, retratando um casal com um filho. O marido é um mestiço de ascendência europeia e ameríndia, a mulher é descendente de indígenas mexicanos, e o filho de ambos recebe o apelido de ‘Coiote’, em referência à sua herança racial particular de acordo com a perspetiva colonial espanhola (que inclui a do artista).  Este quadro relembra-nos como os colonos espanhóis conseguiram manter a autoridade no Novo Mundo, através de hierarquias sociais e raciais distintas e a obsessão com a pureza racial.

A fechar a mostra, há um mural monumental que Huntington como presidente da “Hispanic Society”encomendou ao impressionista Joaquín Sorolla no início do século XX, retratando as diferentes regiões de Espanha, “explodindo em cores, banhadas em luz”.

A exposição não é muito detalhada ou explicativa, apostando mais em deixar as peças brilhar na sala e permitir ao visitante aproximar-se de cada uma ou passar à seguinte.
Mas isso não é mau, dada a grande quantidade de peças de arte aqui patentes e que fascinam.
O resultado é um espectáculo intrigante, sombrio, luminoso, belo, extenso, revelador da grande paixão do povo ibérico.

Em exibição até ao dia 10 de abril.

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