Era tudo estranho naquele dia 18 de setembro de 2018. O encontro era no Estádio do Restelo, a competição era distrital. O adversário tinha o símbolo do Olivais e Moscavide, o clube já tinha o nome de Desportivo do Parque das Nações. O Belenenses entrava em campo sem qualquer patrocínio na parte da frente da camisola sendo que nenhum dos nomes da equipa era propriamente conhecido. O que se manteve? O fervor de todos os adeptos presentes, a rondar os 2.000, numa festa como se fosse um encontro de Champions.

Os azuis do Restelo golearam por 4-0 naquele que foi o início de uma missão, “construir um castelo depois da descida ao inferno”, como dizia o antigo jogador e então diretor desportivo Taira. “Estou sensibilizado com o que se passou. Os tribunais podem decidir o que decidirem mas o verdadeiro veredicto foi aqui hoje, no Restelo. Não há dúvida de quem é o Belenenses e de quem os sócios querem que seja este clube. Assistimos a uma demonstração de paixão destes adeptos, como há anos não víamos. Os tribunais decidirão essa questão mas até lá a Liga e a Federação não podem continuar a fazer ouvidos moucos a este assunto. O Belenenses é um clube centenário e vão ter de dizer alguma coisa”, destacou Patrick Morais de Carvalho, que ainda hoje é presidente do Belenenses e que não esquecia o diferendo com a B SAD que estava na Primeira.

Cinco anos depois, os azuis enfrentavam aquela que podia ser a quinta subida consecutiva. Ganharam nos vários escalões distritais de Lisboa, chegaram depois à Liga 3 depois de serem repescados do Campeonato de Portugal pela falta de pressupostos do Cova da Piedade (curiosamente o clube que se vai fundir a partir da próxima temporada com a B SAD), podiam agora alcançar de novo os escalões profissionais em caso de vitória frente à Sanjoanense (o que nem foi necessário, visto que bastou um empate a zero), com o Länk Vilaverdense a receber à mesma hora o Amora (venceu por 5-0), que na última ronda tinha surpreendido os azuis, na esperança de um volte face na derradeira jornada. E havia até uma inspiração se fosse necessário, uma inspiração que veio de Leiria e da outra equipa que já garantira a subida de divisão.

Num encontro que contou com mais de 22.000 pessoas nas bancadas do Estádio Municipal na semana passada, em mais um recorde em jogos a contar para a Liga 3, os leirienses fecharam da melhor forma uma grande temporada com um triunfo pela margem mínima frente ao Sp. Braga B carimbado com um golo de Leandro Antunes em cima do minuto 90. Havia mais um histórico de regresso às divisões profissionais. Seguia-se o Belenenses. E na mesma época em que o B SAD fazia os seus últimos encontros com esse nome depois de uma guerra de anos a fio com o clube, os azuis deram o passo decisivo para a Segunda Liga, divisão por onde não chegou a passar após o 12.º lugar no principal escalão antes dos distritais em 2017/18.

Em paralelo, este foi também o melhor capítulo final de Patrick Morais de Carvalho, presidente do clube que já anunciou que não pretende recandidatar-se nas próximas eleições de junho mas que deixa os azuis de novo nos escalões profissionais. “São nove anos como presidente, fui quem ocupou o lugar mais tempo nos últimos anos, normalmente ficavam um ano ou dois. Neste momento, não estão reunidas as condições, pessoais, familiares e profissionais para me recandidatar. Há um cansaço acumulado e o Belenenses precisa de sangue novo, de ideias novas, e tem de encontrar dentro do clube gente para isso. Não se deve dizer nunca mas neste momento não sou candidato”, anunciou o líder do clube do Restelo ainda em abril.

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