As imagens da transmissão tinham mostrado apenas um momento em que João Almeida fazia aquele gesto de colocar o pé no chão para evitar uma queda aparatosa no chão após um corredor que seguia à sua frente ter caído, afinal houve mesmo um trambolhão maior com algumas marcas visíveis esta terça-feira pelas ligaduras que tinha no lado esquerdo, a mais visível na zona do cotovelo. Depois de uma etapa onde “beneficiou” de um corte no pelotão a quatro quilómetros da meta que tirou quase 20 segundos a Tao Geoghegan Hart e mais de dez a Jay Vine, entre outros, o português teve na terceira etapa o seu “azar” apesar de ter acabado na frente a subir ao segundo lugar da geral pela descida a pique na classificação de Filippo Ganna. Ainda assim, podia ter feito mossa. E era isso que ia testar na primeira tirada a subir do Giro.

Teve de colocar o pé no chão para não cair na descida mas subiu mais um lugar na geral: João Almeida chega ao 2.º lugar do Giro

“Alguém caiu à minha frente e fui ao chão. Voltei logo para a bicicleta e os meus colegas ajudaram-me. Foi verdadeiramente um esforço de equipa. Agora quero tentar recuperar da queda e manter o meu nível. Mantemos a cabeça levantada e estamos ansiosos pelos próximos dias”, comentava o corredor da UAE Team Emirates depois da chegada a Melfi, numa tirada onde perdeu apenas três segundos para o líder Remco Evenepoel e dois para o agora terceiro Primoz Roglic mas pelas bonificações no último sprint intermédio. Do mal o menos mas em apenas três etapas percebia-se que muito da história desta Volta a Itália seria decidida neste tipo de pormenores como os que beneficiaram e prejudicaram o português em dias consecutivos.

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A queda provocou um corte, João Almeida passou à frente: Milan vence etapa, português mantém terceiro lugar no Giro

Seguia-se uma ligação de 175 quilómetros entre Venosa e Lago Laceno com três subidas de segunda categoria antes de dias que se esperam um pouco mais calmos. Ou seja, e no caso de João Almeida, este era o momento sobretudo para controlar vantagens para recuperar entre Salerno e Nápoles antes da subida a Gran Sasso, a primeira grande subida a fechar etapa. No entanto, nem o português nem a UAE Team Emirates tiveram um dia descansado. Muito longe disso. E com apenas 50 quilómetros já tinham existido vários problemas.

Começou logo na parte da saída neutralizada, com Jay Vine a ficar muito perto de uma queda por problemas mecânicos tendo por sorte o carro da equipa logo ali ao lado para evitar males maiores. Depois, foram muitos os ataques mas sem sucesso com Ben Healy, o segundo classificado da Amstel Gold Race só atrás de Tadej Pogacar, a ser o principal protagonista. A seguir foi João Almeida que ficou cortado numa descida tal como o líder Remco Evenepoel, com a diferença que o corredor português chegou a ter mais de 20 segundos de distância até fazer um esforço extra para se colar novamente no grupo da frente. E como um mal nunca vem só, já com Paul Lapeira fora do Giro, Diego Ulissi teve uma forte queda que envolveu quatro corredores.

Confirmou-se a chuva, confirmou-se o tempo instável, confirmou-se a estrada complicada que iria marcar a etapa que reforçou a liderança de Thibaut Pinot na montanha após bater de novo Santiago Buitrago como na véspera na passagem por Passo delle Crocelle. Só a partir daí houve contexto para se formar uma fuga que chegou a ter homens na liderança virtual perante os cerca de quatro minutos de vantagem sobre o pelotão já devidamente organizado com cinco/seis corredores das principais equipas a protegerem o seu chefe de fila. E sobretudo a partir daí sobrava três dúvidas: iria a Soudal Quick-Step abdicar da liderança do Giro de Remco por não ter conjunto para defender o líder durante três semanas? Haveria alguém interessado em cortar a sério a distância para os fugitivos? E poderia Roglic arriscar para ganhar tempo ao rival belga?

A 50 quilómetros da meta, o grupo com Amanuel Ghebreigzabhier e Toms Skuijns (Trek), Warren Barguil (Arkéa-Samsic), Aurélien Paret-Peintre (AG2R Citroën), Vincenzo Albanese (Eolo-Kometa), Nicola Conci (Alpecin) e Andreas Leknessund (DSM) estava com menos de quatro minutos de avanço e já sem Bruno Armirail (Groupama), o oitavo fugitivo que entretanto se deixara cair para o pelotão. Mais: ao contrário do que acontece em algumas ocasiões, estavam a colaborar entre eles para manterem a distância na frente. A 35 quilómetros do final, com a distância a subir logo para 5.30 minutos, as dúvidas estavam desfeitas, com o vencedor a sair do grupo fugitivo e Remco Evenepoel a abdicar da camisola rosa por umas etapas.

As indicações que vinham do pelotão e as condições mais complicadas na estrada devido à chuva fizeram com que o ritmo da fuga fosse mais moderado. Só a sete quilómetros, com cerca de 3.40 minutos de vantagem do pelotão, começaram as movimentações, com Nicola Conci a descolar, nem todos os fugitivos a terem pernas para responder já em subida mas sem passar pela parte mais dura e Skuijns a passar para a dianteira antes de Conci ficar em apuros. Mais atrás, havia duelo à vista com Roglic a colar na roda de Remco com ideia de esboçar um possível ataque, sendo que num ápice o grupo do ainda camisola rosa ficou bem mais curto. A etapa ganhava duas “corridas” em simultâneo, com a de trás a ter um ritmo fortíssimo de subida.

Leknessund, Paret-Peintre e Ghebreigzabhier conseguiram isolar-se com 20 segundos de avanço, depois o corredor da Eritreia também cedeu, a seguir o norueguês da DSM partiu mesmo para a vitória da etapa que lhe podia valer também a camisola rosa, sendo que lá atrás João Almeida colava na roda de Roglic tendo por ali por perto Remco Evenepoel enquanto a Ineos fazia quase todo o trabalho (dando também indicações sobre a sua força nas etapas a subir). No final, o “acordo” entre fugitivos foi cumprido: Aurélien Paret-Peintre ganhou a etapa, Andreas Leknessund ficou com a camisola rosa e o Pantera passou à margem de todos os problemas que poderiam ter marcado o resto da participação no Giro ao chegar com os candidatos.

Em termos de classificação, Andreas Leknessund ascendeu ao primeiro lugar da Volta a Itália, tendo agora 28 segundos de vantagem sobre Remco Evenepoel. Já Aurélien Paret-Peintre ficou na terceira posição da geral a 30”, seguindo-se João Almeida a 1.00 do líder mas com as mesmas distâncias em relação a todos os candidatos ao pódio. Primoz Roglic (1.12), Geraint Thomas (1.26), Aleksandr Vlasov (1.26), Toms Skujins (1.29), Tao Geoghegan Hart (1.30) e Jay Vines (1.36) fecham agora o top 10, que em relação à terceira etapa do Giro deixou de contar com três corredores: Stefan Küng, Michael Matthews e Mads Pedersen.