Costa Rica e Zâmbia entravam na última jornada da fase de grupos do Campeonato do Mundo já eliminadas, mas com um objetivo partilhado que era contraditório: alcançar a primeira vitória de sempre na competição. No fim, foi a seleção africana que saiu a sorrir. Mas com muita história à mistura. 

Se a responsabilidade de marcar o primeiro golo de sempre da Zâmbia num Campeonato do Mundo coube a Lushomo Mweemba, nesta que é também a primeira participação do país africano na competição, a responsabilidade de marcar um golo histórico coube a Barbra Banda. Com a grande penalidade que converteu à passagem da meia-hora e que aumentou a vantagem da Zâmbia perante a Costa Rica, a avançada de 23 anos tornou-se a autora do golo 1.000 em Mundiais femininos — algo que não deixa de ser profundamente irónico, tendo em conta a história recente da jogadora.

Natural de Lusaka, a capital da Zâmbia, Banda sempre demonstrou especial aptidão para o desporto, chegando a ser pugilista profissional antes de optar permanentemente pelo futebol. A decisão aconteceu em 2018, quando rumou a Espanha para assinar pelo Logroño, tornando-se a primeira jogadora da Zâmbia a atuar na Europa. Os 16 golos em 28 jogos valeram-lhe um salto para os chineses do Shanghai Shengli, com a avançada a tornar-se a terceira jogadora mais cara de sempre até então, motivando um investimento de 300 mil dólares.

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Depois de apontar dois hat-tricks nos Jogos Olímpicos de Tóquio, era expectável que Barbra Banda liderasse a seleção da Zâmbia na CAN feminina do ano passado, em Marrocos. Mas aconteceu o impensável: em conjunto com outras três colegas de equipa, a avançada não passou nos testes de verificação de género, registando valores de testosterona superiores ao permitido pela Confederação Africana de Futebol. A situação foi considerada uma “violação clara dos direitos humanos” pela Human Rights Watch, mas a verdade é que Barbra Banda e outras três colegas foram mesmo impedidas de disputar a CAN e assistiram aos jogos a partir da bancada.

“Preferia responder a questões sobre as coisas boas que faço no meu país, incluindo o meu trabalho de solidariedade com jovens. Essa CAN é passado. O que aconteceu, aconteceu. Estou aqui no Mundial e tenho o apoio da FIFA”, indicou a jogadora numa entrevista recente ao The Guardian.

Esta segunda-feira, a Costa Rica ainda reduziu no início da segunda parte, mas não evitou a vitória da Zâmbia, que ainda aumentou a vantagem nos descontos por intermédio de Racheal Kundananji e carimbou mesmo o primeiro triunfo de sempre em Campeonatos do Mundo — e até viu Barbra Banda entrar oficialmente na história da competição.

A pérola

Por motivos óbvios, Barbra Banda. A capitã da Zâmbia cumpriu um Mundial muito positivo, tendo em conta as limitações da seleção africana, e respondeu da melhor maneira à proibição de disputar a CAN do ano passado. O facto de ter apontado o golo 1.000 dos Campeonatos do Mundo, naturalmente, foi só a cereja no topo do bolo da presença inédita da Zâmbia na competição.

O joker

Por também ter entrado na história, Lushomo Mweemba. A central dos Green Buffaloes marcou o primeiro golo de sempre da Zâmbia em Campeonatos do Mundo e tornou-se uma das protagonistas deste Campeonato do Mundo, abrindo a porta a uma vitória inédita da seleção africana.

A sentença

Com este resultado, a Zâmbia ficou no terceiro lugar do Grupo C, com três pontos, enquanto que a Costa Rica ficou no quarto lugar com três derrotas em três jogos. De recordar que, com a goleada imposta a Espanha, o Japão ficou na liderança do grupo e vai agora defrontar a Noruega nos oitavos de final, enquanto que as espanholas cruzam com a Suíça na próxima fase.

A mentira

A contrário do que era expectável, a Zâmbia não era a seleção mais frágil do Grupo C. É certo que a Costa Rica poderia ter empatado o jogo em diversas ocasiões, principalmente na segunda parte, mas a seleção africana conseguiu ser sempre mais pragmática no setor ofensivo e cumprir os requisitos mínimos defensivamente de forma a resguardar a vantagem e carimbar a vitória.