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O elevador anímico entra a euforia e a depressão ou vice-versa tem os seus tempos próprios no desporto e no futebol. Aliás, pode ser medido até entre jogos e não entre horas, dias ou semanas. No caso da Espanha, esse tal tempo foi de uma partida realizada apenas 118 horas depois da outra. Quando a Roja foi cilindrada pelo Japão no último encontro da fase de grupos que definia apenas quem terminava em primeiro, tudo era mau – faltavam ideias, faltava estofo, faltava experiência, faltava Alexia Putellas, faltavam as dissidentes entre as 15 que se incompatibilizaram com o técnico Jorge Vilda e não mais voltaram. Logo de seguida, quando a Roja goleou por 5-1 a Suíça nos oitavos conseguindo a primeira passagem de sempre ao top 8 do Mundial, tudo era perfeito – havia futebol, havia energia, havia talento, havia irreverência, havia postura de líder. Agora, para cima ou para baixo nesse tal elevado, algo ia mexer. E confiança não faltava entre as espanholas.

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“Vamos ganhar”, exclamava de forma confiante Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, na antecâmara da partida com os Países Baixos. “Não creio que tenhamos de colocar travar na nossa euforia, fizemos história e agora queremos continuar a fazer”, acentuava a jovem Athenea del Castillo, citada pelo El País. “É bom recordar que qualquer equipa pode roubar esse sonho, devemos ter sempre os pés bem assentes no chão”, refreava Alba Redondo. Se as opções de Vilda são sempre uma caixinha de surpresas (se dúvidas existissem, a troca de guarda-redes dos grupos para os oitavos mostrou isso mesmo), a parte anímica do conjunto espanhol era também ela um autêntico turbilhão entre a vontade de fazer mais história na Oceânia e esse fantasma do filme de terror que a equipa tinha vivido com as nipónicas.

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Do outro lado, os sinais de euforia, a existirem, estavam bem disfarçados. Mesmo não partindo como uma das principais favoritas neste Mundial apesar de terem chegado à final em 2019, os Países Baixos estavam só a um jogo de alcançarem as meias-finais com apenas um golo sofrido até ao momento e alguns “recados” de quem não esqueceu o embate com os EUA na fase de grupos. “Quando vi que foram eliminadas, a primeira coisa que pensei foi ‘ok, vale’. Desde o início que estavam a dizer que iam à final, estavam a com a boca muito grande… Devemos jogar antes de falar. No futebol devem aprender e não falar tanto. E tenho muito respeito pelas jogadoras”, atirou a neerlandesa Lineth Beerensteyn, falando na queda das norte-americanas.

https://twitter.com/ESPNFC/status/1689827386022326272

O destinatário daquela mensagem em específico era bem percetível mas a mesma poderia alongar-se a mais seleções, técnicos e jogadoras. No final, as norte-americanas não esqueceram essa “bicada” e não demoraram a responder nas redes sociais. Tudo porque, num encontro com final de loucos, a Espanha foi melhor: depois de uma primeira parte em que o grande lance de perigo foi um remate de Alba Redondo desviado por Daphne van Domselaar com uma fantástica defesa para o poste, Mariona Caldentey inaugurou o marcador de grande penalidade aos 81′ mas Stefanie van der Gragt, que tinha cometido ao penálti, foi ao ataque “fazer de Coates” e empatou aos 90+1′. A decisão seguiu para prolongamento e aí foi a mais nova da Roja a brilhar – Salma Paralluelo, a avançada de 19 anos que estava destinada a lutar por medalhas nos Jogos na velocidade e que chorava por perder qualquer corrida na sua adolescência, acelerou para a glória e fez o 2-1 aos 111′.

A pérola

  • Mariona Caldentey foi uma das poucas “dissidentes” no grupo das 15 jogadoras que se virou contra o selecionador Jorge Vilda renunciando à presença na seleção mas voltou atrás para entrar neste Mundial (a par de Aitana Onmati e Ona Batlle). Para a equipa e para a própria, foi a melhor notícia. E neste jogo dos quartos, sendo a única novidade no onze em relação à equipa que tinha defrontando a Suíça, a ala do Barcelona foi de novo um dos melhores elementos da Roja no triunfo com os Países Baixos, dando mais um passo para a segunda grande final da época após ter sido campeã europeia pelas blaugrana.

O joker

  • Salma Paralluelo começou no banco pela primeira vez neste Mundial mas foi mais decisiva do que nunca na quinta partida da seleção espanhola na Oceânia, neste caso frente aos Países Baixos: após ser lançada na parte final do tempo regulamentar, a jogadora do Barcelona esteve no lance do penálti que originou o golo inaugural e foi determinante para a vitória com o golo decisivo depois de uma arrancada um pouco à frente do meio-campo que só terminou com o remate cruzado para um lugar na história.

A sentença

  • Com este triunfo, a Espanha prolonga a presença histórica num Campeonato do Mundo, onde nunca tinha passado sequer dos oitavos. Nas meias-finais, a Roja terá agora pela frente o vencedor do encontro entre Japão e Suécia. Já os Países Baixos, finalistas vencidos na última edição, saem da competição com três vitórias (Portugal, Vietname e África do Sul), um empate (EUA) e uma derrota (Espanha).

A mentira

  • As palavras de Lineth Beerensteyn antes da partida tendo como alvo os EUA e a alegada postura de quase sobranceria que levou à eliminação não caíram da melhor forma entre algumas jogadoras norte-americanas e foi uma questão de tempo até haver uma resposta. “Uma coisa que aprendemos é a esperar um pouco antes de dizer m**** antes de chegar a um pódio com a medalha de ouro porque agora… tu também foste embora”, escreveu no Twitter Sydney Leroux. A neerlandesa até podia ter uma mensagem mais pedagógica a apelar aos pés assentes na terra mas acabou por cair na mesma postura que criticou…