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Os nossos bons e eternos amigos Blur (e uma revolução chamada Amyl)

Este artigo tem mais de 1 ano

À primeira etapa do regresso do Kalorama ao Parque da Bela Vista em Lisboa, houve sobretudo regressos que insistem em não ser coisa do passado. Mas também escutámos e vimos o nervo da novidade.

Damon Albarn, perfeito na sua imperfeição, estrela pop total, mesmo que totalmente humana
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Damon Albarn, perfeito na sua imperfeição, estrela pop total, mesmo que totalmente humana

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Damon Albarn, perfeito na sua imperfeição, estrela pop total, mesmo que totalmente humana

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Quando os Blur anunciaram que a sua mais recente ronda de concertos seria acompanhada também por um novo disco, os fãs rejubilaram, com toda a legitimidade das coisas pop. Material fresco e novas oportunidades para ver os rapazes de Londres outra vez ao vivo. Perfeito.

O que poucos adivinhariam é que este novo material culminaria em The Ballad of Darren, disco lançado em julho deste ano, e que estaria carregado da melancolia própria de um disco feito como um diário de bordo de uma vida normal, com as suas alegrias e tragédias.

O concerto dos Blur no Kalorama esta quinta-feira, o segundo da banda em Portugal este ano (num festival que regressou para uma nova edição no Parque da Bela Vista, em Lisboa), foi também um reflexo de tudo isto. Quatro garotos em corpos que já foram mais jovens, canções imaculadas entre percalços de quem admite o erro como motor para fazer melhor, “energia e boa disposição” como um cartaz que anuncia um elixir para a juventude eterna, que parece de facto estar a acontecer à nossa frente. E foram os que levaram mais gente à primeira noite do festival.

O concerto arrancou com St. Charles Square, segunda faixa do disco mais recente dos londrinos, que começa com a linha “I fucked up”. Fazer mal para depois fazer sempre melhor, assumir a humanidade de tudo isto, incluindo um palco gigante frente a milhares de pessoas. Albarn continua indomável, cantando sob as luzes, entre o público, ora interpretando a mágoa que uns quantos versos lhe trazem, ora fazendo festa, com ironia entre as canções, assegurando que a energia do encontro nunca se esgotava.

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O concerto dos Blur

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Para quem os viu no Primavera Sound, não houve grandes surpresas no alinhamento do concerto ou na performance da banda, que presenteou a plateia com clássicos como “Parklife”, “Girls & Boys” ou “Tender”, mas também com os principais singles de The Ballad of Darren, nomeadamente a orelhuda “Barbaric” ou a belíssima “The Narcissist”. Mas esses mesmos que não descobriram grandes surpresas reencontraram precisamente o que queriam: a verdade de uma banda que não é memória nem saudosismo, é o presente a acontecer com nervo e vontade.

Depois dos Blur, os Prodigy, que na semana passada estiveram no festival Vilar de Mouros, fizeram a mesma festa, nunca repetitiva, ao mesmo tempo pouco surpreendente. Uma rave pela madrugada, com a inevitabilidade de canções que parecem entranhadas em memórias eletrónicas, de “Firestarter” a “Omen”.

Maxim como mestre de cerimónias difícil de igualar e um sentimento permanente de homenagem a Keith Flint, o “prodigy” que morreu em março de 2019 e que de alguma forma personificava não só o espírito, a criatividade e o descontrolo da banda como também toda uma filosofia eletrónica, especialmente britânica, que dificilmente vamos voltar a ver com a mesma entrega.

Num registo com mais novidade, a banda nova-iorquina Yeah Yeah Yeahs regressou a Portugal pela primeira vez desde 2006 e, ainda que com outra maturidade, que não gerou um concerto descontrolado e caótico como se tornou imagem de marca no início da carreira da banda liderada por Karen O, foram deles alguns dos momentos mais memoráveis da noite.

Karen O e o concerto dos Yeah Yeah Yeahs

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

“Spitting Off the Edge of the World”, tema do disco do ano passado, Cool it Down, e que conta com a colaboração de Perfume Genius, marcou o passo para aquilo que vimos depois: uma entrega total de Karen O, excêntrica diva de um indie pop muito particular, que se atirou às canções com a emoção e a ferocidade que estas pediam. Como se nunca tivesse sido de outra maneira. Como se não pudesse ser de outra maneira.

Num concerto sem grande artifício, ainda que duas bolas insufláveis gigantes fossem lançadas sobre o público, o que se destacou foi a música, especialmente os clássicos da banda, com “Maps”, “Heads Will Roll” ou “Date With the Night” (a trindade que fechou o concerto) a não deixar ninguém indiferente e a obrigar os corpos a saltar, a dançar e a cantar – a frase “they don’t love you like I love you”, linha indissociável de “Maps”, foi uma das que mais se fez ouvir nesta primeira noite do Kalorama, lembrando que é possível fazer parte de um movimento rock’n’roll no início do século e mais de 20 anos depois continuar a acertar no alvo, longe do hype, por conta própria.

Se só um fã teve a sorte de ficar com o microfone de Karen O no final da atuação dos Yeah Yeah Yeahs, no concerto dos Shame, banda britânica de post-punk (que também já esteve este ano em Portugal, tendo atuado no LAV – Lisboa ao Vivo, em março, com o novo Food for Worms), houve um pouco da banda para ser experienciado por todos.

Os Shame

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Apesar de não terem contado com a grande adesão que possivelmente aguardavam — muitos dos fãs dividiam-se entre os concertos de Blur e de The Blaze, que atuavam no Palco San Miguel — os britânicos apresentaram-se como se estivessem a atuar perante um estádio esgotado.

Entre os mortais do baixista, Josh Finerty, que corria, saltava e nunca parava de tocar, o crowdsurf do vocalista Charlie Steen, a intensa música dos Shame mostrou-se física, suada, visceral, gerou intensos moshes nos momentos inevitáveis, caso de “Fingers of Steel” ou “Six Pack”, mas também convocou atenção cuidada, nos momentos mais introspetivos, caso de “Snow Day”, com Charlie a sentar-se em frente ao palco e a declamar a letra com toda a emoção que esta transparece, ou “Adderall”, que levou a maior parte do público a juntar-se para cantar o refrão.

O final do concerto foi marcado por “Gold Hole”, faixa do disco de estreia dos britânicos, Songs of Praise (2018), com o vocalista levantado pelo público, que o agarrava pelas pernas enquanto este cantava, culminando num crowdsurf que só terminou quando os fãs decidiram entregar o artista de volta ao palco.

Amyl and the Sniffers

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

Os Shame não estiveram sozinhos neste campeonato: também Amyl and the Sniffers, que atuaram quando o sol ainda queimava nas costas, ofereceram uma lição sobre como a euforia é um dos motores inevitáveis do rock’n’roll. O grupo australiano, liderado pela vocalista Amyl Taylor (uma autêntica animal de palco, que ora gritava, cantava deitada no chão, se lançava para cima do público), mostrou que o eixo Stooges-Ramones nunca vai perder validade e que fazer bom uso de um festival para conquistar novos fãs é uma arte inesgotável.

O Kalorama continua esta sexta-feira, com atuações de artistas como Aphex Twin, Florence and the Machine ou Arca.

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