As línguas de fora, os pés a fazerem estremecer o chão e as palmas das mão a estalarem na pernas, os neozelandeses acordaram o universo do râguebi para o início do Mundial. O haka apoderou-se do Stade de France, o palco do jogo inaugural de uma competição que não podia começar de melhor maneira, só não intimidou os adversários.

Frente a frente estava a seleção da casa que tenta vencer o troféu Webb Ellis pela primeira vez, a França, e, do outro, os All Blacks. Reunidos que estavam dois dos candidatos, era hora de dar o drop de saída. A Nova Zelândia vinha de uma derrota com a África do Sul (35-7) na preparação e abria-se a possibilidade dos neozelandeses perderem o primeiro jogo na fase de grupos de um Mundial. “Não nos saímos muito bem em Twickenham [onde a Nova Zelândia perdeu contra a África do Sul] e somos a pior equipa dos All Blacks de todos os tempos”, ironizou em resposta às críticas o selecionador Ian Foster. “Parte do Mundial é o lado mental, ter confiança e coragem para jogar como é preciso na hora certa. Só quando tudo começar é que veremos”.

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A França, por sua vez, depois de uma vitória no Torneio das Seis Nações, em 2022, e de um segundo lugar na mesma competição, em 2023, procurava não desiludir os milhares de pessoas que conseguiu mobilizar. “O que podia ser melhor que a Nova Zelândia?”, questionou o selecionador francês Fabien Galthié. “Estamos muito felizes por jogarmos contra eles. Este jogo é uma celebração, uma alegria para nós. É maravilhoso”.

O histórico não era propriamente favorável aos gauleses. As equipas tinham-se encontrado oito vezes na história e os All Blacks triunfaram em cinco das últimas sete partidas. Aliás, se os gauleses procuravam o primeiro título mundial, a Nova Zelândia já venceu a competição três vezes, em 1987, em 2011 e em 2015, datas que os jogadores trazem gravadas nas camisolas.

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A Nova Zelândia entrou com Rieko Ioane a encontrar o canal perfeito para conquistar valiosos metros. Pacientes, os neozelandezes atuaram em situação de vantagem e levaram a bola de um lado ao outro do campo. O ponta esquerdo, Mark Telea (2′) recebeu o pontapé de Beauden Barret e concretizou o ensaio que Richie Mo’unga não converteu.

A França respondeu através de uma penalidade convertida por Thomas Ramos (5′). Aos 20 minutos, o 15 francês voltou a ter nova ocasião para chutar aos postes e colocar os Bleus na frente do marcador, mas não por muito tempo. Richie Mo’unga (25′) redimiu-se da conversão falhada e somou três pontos numa situação de penalidade em que a Nova Zelândia até podia ter forçado a entrada na linha de ensaio.

Ao intervalo, todos os pontos da França tinham sido anotados por Thomas Ramos. O jogador mais recuado voltou, ainda antes do final dos primeiros 40 minutos, a dar a vantagem aos gauleses (9-8) após o pilar neozelandês, Ethan De Groot vacilar numa formação ordenada e conceder nova penalidade no meio-campo.

A França parecia regressar mais intensa e até conseguiu estar presente dentro dos 22 metros da Nova Zelândia no reinício. Não conseguindo marcar ensaio, a equipa de Ian Foster respondeu. Ardie Savea pontapeou a bola, mas o que desbloqueou o lance foi mesmo o grande passe do médio de abertura dos All Blacks, Richie Mo’unga, para Mark Telea (43′) marcar novo ensaio não convertido.

Os gauleses estavam definitivamente melhor. Damian Penaud, ponta direito, esteve muito perto de concretizar um ensaio, mas Richie Mo’unga, que vai abandonar a seleção após o Mundial, evitou, no limite, que isso acontecesse. Não foi à primeira, foi à segunda que Damian Penaud (55′) foi feliz. Thomas Ramos converteu e fez o 16-13.

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Depois de uma placagem perigosa, Wil Jordan viu cartão amarelo e deixou a seleção francesa a jogar com mais um durante dez minutos. Nesse período, os Bleus não conseguiram melhor do que três pontos por intermédio de Thomas Ramos (65′), somando mais um grande momento à exibição que estava a realizar. A Nova Zelândia começava a ficar numa situação delicada que piorou quando o luso-descendente voltou a ser a mostrar eficácia como chutador antes de deixar o campo para dar lugar a Melvyn Jaminet (78′) que marcou e transformou o ensaio final.

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Com o desaire por 27-13, a Nova Zelândia, após 31 vitórias, perdeu pela primeira vez na fase de grupos de um Mundial. Thomas Ramos terminou o jogo com 17 pontos e foi a principal arma ofensiva da França que somou o primeiro triunfo no grupo A e os respetivos quatro pontos (sem bónus ofensivo e nem defensivo).