Olhando apenas para o binómio rendimento desportivo-qualidade do plantel, provavelmente não haveria um levantar de grandes ondas com a saída de José Mourinho. No entanto, a marca que o português deixou no clube desde o verão de 2021 quando desenhavam nas paredes da cidade imagens do técnico a conduzir uma Vespa, até mesmo nas coisas que para quase todos são negativas, foi bem maior do que os resultados possam agora apontar. Na perspetiva europeia, os giallorossi foram as duas finais e conquistaram a Liga Conferência, algo que nunca tinha acontecido na história de um clube a não ser a Taça das Cidades com Feira em 1961. Na ótica de posicionamento na Serie A, foi sedimentada de novo a ideia de que o poder está todo a norte entre Milão e Turim e que os romanos eram um corpo estranho e indesejado nas grandes decisões. Sendo ou não verdade, foi isso que passou e foi por isso que a Curva Sul sempre teve grande ligação a Mourinho.

“Agradecemos ao José mas é necessária uma mudança imediata”: Roma despede Mourinho após nova derrota na Serie A

Esta terça-feira, horas depois do anúncio oficial do despedimento do português, Daniele De Rossi, antigo capitão dos giallorossi, já deu o treino. Contudo, ainda é da saída de Mourinho que se fala, num tema que saltou a esfera desportiva e tornou-se transversal a elementos de toda a sociedade entre a política, o cinema, o teatro e a televisão além de treinadores e jogadores. E a ideia geral é que a rescisão de contrato, apesar da atual fase com apenas uma vitória nos últimos seis encontros da Serie A, acabou por ser uma decisão errada.

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“Penso que estas empresas norte-americanas trabalham sem respeitar as pessoas com quem colaboram. Vimos isso no AC Milan com [Paolo] Maldini e agora em Trigoria, com Mourinho. Só pensam no negócio. Eu julgo que o respeito também é necessário, talvez com um acordo fechado antes e não com um comunicado e uma chamada telefónica. Conselhos para De Rossi? Que estude o que Mourinho fez até agora e tente trazer alguma inovação sem fazer qualquer revelação, caso contrário irá contra um grupo que não o vai seguir. Será difícil mas, conhecendo o ambiente na Roma, tens de mostrar o que vales”, apontou à Sky Italia Fabio Capello, ex-técnico que foi campeão pelos giallorossi em 2001 entre cinco épocas no clube.

“Obrigado mister! Obrigado por tudo… Trabalhar contigo foi um prazer enorme. Obrigado pelos teus conselhos e por cada palavra que me deste. Desejo, a ti e à tua equipa, tudo de bom. Espero que nos encontremos novamente em breve!”, escreveu Paulo Dybala, primeiro jogador do atual plantel a deixar uma mensagem nas redes sociais depois do anúncio da saída de José Mourinho na manhã desta terça-feira.

“Mister, agradeço-lhe por ter confiado em mim para fazermos esta viagem juntos, pela admiração, respeito e amizade que sempre partilhámos! Um grande abraço também a toda a equipa técnica, desejando tudo de bom para os próximos desafios. Até breve”, destacou depois Rui Patrício, internacional português contratado por Mourinho. “Obrigado pela confiança e por tudo o que aprendi ao seu lado. Foi uma honra trabalhar às suas ordens. Desejo-lhe o melhor para o futuro, a si e ao seu staff. Obrigado por tudo”, salientou o central Diego Llorente. “Obrigado por tudo, mister. Foi um prazer ser treinado por si. Desejo-vos sempre o melhor”, escreveu também o médio Leandro Paredes, argentino emprestado pelo PSG.

“Sinto raiva porque a Roma agora tornou-se uma agência dos correios, há treinadores e jogadores que vêm para cá, ganham muito dinheiro e depois vão embora ou são mandados embora. Alguém terá que dar uma resposta a isto. Estou literalmente cansado deste clube que não faz nada a não ser contratar treinadores e mandá-los embora. Principalmente num momento tão difícil para a equipa, a nossa presidência é a dos silenciosos, daqueles que nunca falam, que nunca dizem nada. Quando estas coisas acontecem há certamente uma relação muito má entre o balneário e o treinador, isso é certo. Mourinho certamente terá cometido erros mas eles não nos vão explicar nada de qualquer maneira…”, queixou-se também o ator italiano Massimo Ghini, conhecido e carismático adepto dos giallorossi, em declarações ao adnkronos.

“Esta notícia entristece-me. Os clubes olham para os resultados, olham para tudo, mas o José Mourinho é alguém que gere o sentimento popular e tem conseguido encher o estádio, despertar emoções. O futebol é feito de balanços, de resultados, mas também de paixões. E em termos de paixões o Mourinho continua a ser um líder inatingível”, salientou Maurizio Gasparri, político e senador italiano e adepto da Roma.

“Tenho muita pena, não se deve mandar embora um treinador tão de repente ainda para mais quando tem o contrato a terminar em junho. Estamos todos chocados. E esta foi a primeira vez em que houve uma notícia da Roma que não saiu do balneário… Senti que alguma coisa estava para acontecer porque Moutinho estava a tentar reassegurar os adeptos no último mês, perante os rumores que circulavam de que podia não renovar contrato. Os adeptos da Roma adoravam-no e estão todos muito chateados, basta ouvir as rádios de desporto romanas para perceber esse sentimento. Acredito que se mandas embora um treinador como Mourinho tão de repente, sendo o que mais ganhou na história do futebol, alguma coisa está a acontecer, imagino que deva ter havido uma discussão com o clube”, apontou também o comediante Antonio Giulani.