A associação sindical dos juízes manifestou-se esta quarta-feira satisfeita por o Presidente da República partilhar a visão de necessidade de uma rápida reforma da Justiça, mas sem “cair na tentação de decisões tomadas a quente”, cedendo à “agitação do momento”.

A nova direção da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) foi recebida esta quarta-feira em audiência no Palácio de Belém pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e no final o novo presidente da associação, o desembargador Nuno Matos, considerou o encontro positivo pela partilha de preocupações comuns, nomeadamente a necessidade de uma reforma da Justiça.

“O que é relevante é que os tempos em que vivemos em relação à Justiça tornaram mais relevante esta visita, porque todos percebemos que estamos a viver um momento de grande agitação e propício à tomada de posições e até decisões sobre a questão da Justiça que a todos preocupam. (…) A Justiça deve ser trazida para a ribalta da atuação política e a reforma da Justiça deve ser levada a cabo agora”, disse Nuno Matos à Lusa.

O presidente da Associação Sindical referiu que Marcelo Rebelo de Sousa transmitiu o empenho numa reforma “num tempo rápido e de forma correta, séria e consequente”, que não passe apenas por “falar das questões, mas resolver as questões, umas mais urgentes, outras mais de fundo”.

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Nuno Matos defendeu, no entanto, que rapidez não significa ausência de ponderação.

“Fazer determinadas reformas sobre dois ou três casos concretos, a quente ou à flor da pele, normalmente não dão bom resultado. Temos é que ter a capacidade de distinguir o essencial do acessório, não é mudar por mudar, é refletir sobre as questões e alterar, e não ter a tentação de mudar exatamente por causa dessas questões muito concretas. É preciso ter essa noção e a exata dimensão das coisas”, disse.

Entre as urgências, Nuno Matos colocou a resolução do problema dos funcionários judiciais, chamando a atenção para os problemas criados para o sistema de justiça por sucessivas greves, e para a necessidade de tornar as carreiras na Justiça – das magistraturas e dos funcionários judiciais – para atrair talento.

Funcionários judiciais voltam esta quarta-feira à greve durante as manhãs por tempo indeterminado

“Há coisas que são absolutamente urgentes e outras que têm que ser pensadas a um prazo mais alargado, verdadeiras reformas de fundo. O sistema de Justiça muitas vezes não se compadece com uma gestão corrente, muitas vezes a atuação política é isso que faz, não ataca os problemas de fundo”, afirmou o presidente da ASJP.

Nuno Matos referiu que muitos dos problemas no setor estão identificados e que “o poder político está alertado para eles há muito tempo”.

“Se formos ver os discursos de abertura do ano judicial acho que quase todos referem a necessidade de alterar algumas coisas, da reforma da Justiça, e são apontados até caminhos e depois acabam por não serem concretizados, porque é preciso uma vontade política muito grande e é preciso também meios, porque não se pode pedir resultados sem que existam meios”, sublinhou.