Em termos oficiais, Sérgio Conceição é o treinador do FC Porto. Em termos oficiais, Sérgio Conceição não só é o treinador do FC Porto como tem uma ligação por quatro anos até junho de 2028. No entanto, em termos oficiosos, há muito que todos percebiam que o fim de ciclo no clube iria chegar também à equipa técnica do futebol profissional. Aliás, se dúvidas ainda existissem, aquela mensagem com apenas duas palavras de Vítor Bruno dizendo “Obrigado, Dragão” após o encontro frente ao Boavista era quase um anúncio antecipado do que iria acontecer. Com uma nuance: há saídas e saídas. E o técnico não abdica da “sua” saída.

A decisão de Sérgio Conceição está tomada e tudo aponta para a saída. Para onde? E quem pode chegar?

“Eu já disse e fiz questão de dizer na antevisão que essa situação da continuidade está muito bem definida na minha cabeça. Nos próximos dias saberão. Decisão? Já tomei a decisão, sim”, voltou a reforçar Sérgio Conceição no final da Taça de Portugal, que o colocou como terceiro técnico a par de Otto Glória e José Maria Pedroto com quatro vitórias na competição, o segundo a ganhar em três anos consecutivos como Pedroto e o primeiro de sempre a conquistar um total de 11 troféus pelo mesmo clube. Mas, nas entrelinhas, disse mais. Disse mais e sobretudo manifestou algo que nunca lhe caiu bem no último mês, que passou pelas críticas feitas ao facto de ter renovado a dois dias das eleições quando nenhum candidato falou em mudança técnica.

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“Pedidos para ficar? Vejo adeptos apaixonados, com uma exigência incrível por títulos. Cresci nessa exigência e paixão, com sentimentos muito marcados pelo que é o respeito, a exigência e a gratidão. Para muita gente não foi eticamente correto eu assinar a renovação a dois dias da eleição. Se era treinador dos três candidatos, por que não? Queria dar essa imagem para o povo, era dar força para um dos candidatos. Mas para mim foi importante. Se um dia o presidente me deixar partilhar o que foi dito naquela hora e meia de conversa que eu tive com ele naquela sala, as pessoas metem a viola no saco porque acredito que quem tem esses valores de paixão e gratidão entende que não podia abandonar assim o barco. Nunca serei um entrave para o FC Porto. Nunca estive agarrado a nada nem nunca estarei. Sou de família muito humilde e com esses valores bem vincados”, acrescentou, dizendo que não receberia nem mais um euro a partir do momento da saída.

“Futuro? Já tenho a decisão tomada, sim. Nos próximos dias saberão”: o tabu de Sérgio Conceição no título de todos os recordes

Desde as eleições que deram a vitória a André Villas-Boas com mais de 80%, houve aquele encontro de mera apresentação no Olival entre os novos dirigentes e o grupo de trabalho e pouco mais em termos de contacto entre presidente e treinador. No entanto, os sinais de “separação” eram evidentes. Por um lado, o novo líder tinha a sua equipa para o futebol, entre o diretor desportivo Andoni Zubizarreta e o diretor para o futebol Jorge Costa (que viram juntos a final da Taça de Portugal no Jamor), com ideias diferentes das que foram norteando os últimos anos. Por outro, aconteciam episódios que iam mostrando cenários distintos em alguns assuntos, nomeadamente em relação aos “afastados” Jorge Sánchez, Iván Jaime, Toni Martínez e André Franco – que acabaram por não fazer parte da “fotografia de família” no Dragão esta segunda-feira.

Apresentações, cumprimentos, motivação, nenhuma decisão para 2024/25: como foram as quatro horas do dia 1 de Villas-Boas no Olival

Se dúvidas existissem, o próprio discurso de André Villas-Boas durante a cerimónia de entrega da Taça de Portugal no Museu ainda com Pinto da Costa funcionava quase como confirmação da saída. “Sobre a Taça conquistada, parabenizo toda a equipa técnica, equipa médica, as equipas de apoio, logísticas, rouparia, muitos parabéns. Igualámos o Benfica em número de títulos, pelo que desejo sinceramente que a Supertaça, no dia 3 de agosto, nos traga essa ultrapassagem e volte a colocar o FC Porto como o clube mais titulado nacional que é o rumo que todos desejamos. Uma palavra final ao mister Sérgio Conceição por sete anos maravilhosos de glórias e títulos. Um agradecimento muito especial a si. Muito obrigado em nome do FC Porto por tudo aquilo que fez pelo clube”, referiu no final do discurso, antes de o próprio Sérgio Conceição se aproximar do novo líder dos azuis e brancos e cumprimentá-lo pelas palavras proferidas.

“Obrigado por sete anos maravilhosos de glórias e títulos”: a despedida de Pinto da Costa foi também a de Sérgio Conceição

Seguiram-se notícias que davam conta de uma saída certa, que é, mas que não caíram bem junto do técnico. Porquê? Sérgio Conceição sentiu que começava a ser empurrado do clube quando tudo depende sobretudo da sua vontade. O técnico tem uma reunião marcada para os próximos dias com André Villas-Boas onde deverá explicar que, pelo desgaste gerado por sete anos no comando dos dragões e por considerar que os azuis e brancos estão a abrir um novo ciclo a todos os níveis, coloca o lugar à disposição e admite rescindir o vínculo de quatro anos que tem com o FC Porto sem qualquer custo para a SAD (para isso basta enviar uma carta registada cinco dias antes de tornar-se algo “efetivo”). Apesar disso, quer ver tudo o que conquistou – para um lugar na história – e fez desde que regressou ao Dragão reconhecidos também na hora da saída.

Foi isso também que fez com Francisco Empis, na condição de assessor de Sérgio Conceição, tivesse uma rara aparição em termos públicos esta segunda-feira para falar sobre as interpretações do discurso de André Villas-Boas que foram sendo feitas ao longo do dia, reforçando que o técnico estaria esta semana no Olival a terminar o habitual relatório da época que faz desde 2017/18 e que funciona de base para aquilo que é feito depois na temporada seguinte. Ou seja, e até haver uma reunião entre o treinador e o novo presidente, todos os cenários levantados não passarão disso mesmo, cenários. E é também nesse sentido que, apesar do interesse conhecido do Marselha e da vontade de poder receber convites para outras realidades competitivas como a Serie A, Sérgio Conceição está agora apenas concentrado em resolver o futuro com o FC Porto.

Apesar desse momento de “impasse”, os próprios jogadores já assumem a saída do técnico, como aconteceu com Galeno que, aos microfones da SportTV no aeroporto antes de rumar de férias para o Brasil, falou sobre esse cenário. “Tenho a certeza que o Sérgio vai ser feliz e vamos sentir muito a falta dele. Foi uma boa época, que acabou com a vitória na Taça de Portugal. Futuro no clube? Vamos conversar, temos muito que conversar ainda, vamos ver o que vai acontecer”, referiu o internacional brasileiro que, ao contrário de Pepê, Wendell e Evanilson, não está convocado para a Copa América (onde estará também Eustáquio).