Depois da bonança, a tempestade. Pedro Pablo Pichardo teve a capacidade para dar a volta num autêntico ciclo virtuoso depois da grande conquista que foi a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Antes, em 2021, tinha ganho os Europeus de Pista Coberta. Depois, em 2022, ficou com a prata nos Mundiais de Pista Coberta mas ganhou de seguida os Mundiais e os Europeus ao Ar Livre. Aquele frustrante quarto lugar nos Mundiais ao Ar Livre de Doha, quando ficou atrás de Christian Taylor, Will Claye e Hugues Fabrice Zango na estreia por Portugal em 2019, estava superado. No entanto, iria seguir-se uma paragem.

Limpou a areia, falou com o pai, rezou e encontrou a fé para voar: o salto de recorde nacional que coroou Pichardo campeão olímpico

A partir de maio de 2023, o atleta deixou de competir por lesão mas havia mais problemas em seu torno, nomeadamente questões com o Benfica que faziam com que não tivesse confirmado a necessária inscrição na plataforma da Federação Portuguesa de Atletismo. O Benfica, o seu clube, tinha avançado com tudo. O atleta não tinha feito nada. Ia treinando e recuperando na zona de Setúbal, onde se radicou quando veio para o país, com um fisioterapeuta da Federação, continuava a treinar com o pai mas pouco ou nada mais se sabia. Tão ou mais alarmante do que isso, pouco ou nada se sabia também sobre o futuro a breve prazo.

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Olimpo, Mundo, Europa: Pedro Pablo Pichardo sagra-se campeão e fecha trilogia perfeita no triplo salto num ano

Numa entrevista ao jornal Record, a confiança estava toda lá quando fez questão de afirmar que apenas não seria bicampeão olímpico se estivesse doente. Contudo, havia mais. A relação com o Benfica tinha chegado a um ponto de total deterioração, com Pedro Pablo Pichardo em choque com Ana Oliveira, responsável pelo gabinete olímpico dos encarnados, a querer apenas uma solução. O problema da filiação estava resolvido, um sem número de questões continuava por resolver mas imperou, numa fase crítica da temporada, aquilo que mais interessava – que voltasse a competir. Voltou e, literalmente, cumpriu os mínimos que queria.

Preocupação é perceber quando Pichardo pode competir, assume chefe de Missão portuguesa

Ausente também nos últimos Mundiais de Pista Coberta, onde Tiago Pereira conseguiu finalmente chegar ao tão desejado pódio numa grande competição internacional com a medalha de bronze em Glasgow, Pichardo viajou até à China para fazer os mínimos olímpicos no primeiro salto da primeira etapa da Liga Diamante. Necessitava de um salto a 17.22, saiu de Xiamen com 17,51 (o apuramento “entrou” com 173,38). As coisas não correram tão bem em Marraquexe, quando ficou atrás de Lázaro Martínez com uma marca abaixo dos 17 metros, mas o importante tinha sido já garantido. Agora seguia-se novo passo: os Europeus de Roma.

Pedro Pichardo consegue mínimos no triplo salto para os Jogos Olímpicos Paris2024

Pichardo, sem ranking europeu esta época, chegava com a melhor marca do ano à qualificação (17,51). Andy Díaz, cubano que se naturalizou italiano e que se destacou na Liga Diamante em 2023 já pelos transalpinos, estava fora da competição. O também italiano Emmanuel Ihemeje, em segundo, chegava com 17.03 como o registo máximo, sendo que o terceiro, o francês Jean-Marc Pontvianne, tinha 17.,13. Para Pichardo e Tiago Pereira, que ganhou o bronze nos Mundiais de Pista Coberta com 17,08, o caminho estava “aberto”, com Jordan Díaz, cubano naturalizado espanhol, a ser o grande “rival” a nível de marcas com 17,55 este ano.

Pichardo segundo na etapa de Marraquexe da Liga de Diamante, Tiago Pereira sexto

Tiago Pereira, a saltar no grupo A como sexto atleta em 14 inscritos, foi mesmo o primeiro a garantir essa passagem à final. Com a marca de acesso mais baixa do que já se viu em grandes competições do triplo salto (16,65), o atleta do Sporting fez uma tentativa inicial a 16,83 sem ter de forçar muito (mas com a chamada quase perfeita na tábua) e ficou logo apurado para a decisão da próxima terça-feira à noite. O melhor estava ainda para vir e Pedro Pablo Pichardo seguiu o compatriota com 17,48 logo na primeira tentativa.

De calças compridas e boné virado ao contrário como se fosse um “miúdo” de 30 anos, o campeão olímpico teve direito a transmissão em direto do primeiro salto (Tiago Pereira surgiu apenas numa repetição, por nessa altura estar a decorrer a qualificação do lançamento do martelo feminino) e não falhou: chegou, entrou com um ar muito confiante, ouviu as palmas que vinham das bancadas, fez um grande salto que causou logo algum ruído na altura da chegada à caixa de areia e ficou a fazer pose depois de perceber que se aproximara daquela que é nesta fase a melhor marca do ano (17,51). Pichardo recuperou a confiança para voar.

No final da qualificação, Jordan Díaz mostrou, com um salto a 17,52 depois de um nulo, que será o grande adversário de Pichardo na luta por uma medalha de ouro nestes Europeus. Ficaram também qualificados de forma direta Emmanuel Ihemeje (Itália, 16,89), Max Hess (Alemanha, 16,83), Thomas Gogois (França, 16,75), Jean-Marc Pontvianne (16,75), Can Özüpek (Turquia, 16,75) e Necati Er (Turquia, 16,68).