“Este espetáculo é uma espécie de um texto que reflete sobre as condições de trabalho dos atores e, por outro lado, o que é para cada um deles o tema da liberdade. É como se encontrássemos um grupo de atores a ensaiar um texto para apresentar a público sobre a liberdade e como veem esta questão”, explicou à Lusa o encenador, António Capelo.
Por outro lado, “tomou-se como referência algumas das histórias ligadas à cidade do Porto, tendo como pano de fundo, exatamente, o tema da liberdade, quase como um processo de trabalho de uma equipa de atores em cima do palco”.
O espetáculo constitui-se, assim, como “uma espécie de objeto reflexivo sobre aquilo que os jovens ou os menos jovens hoje pensam da revolução de Abril há 50 anos e das consequências que isso trouxe para a vida de cada um deles, nomeadamente para a vida profissional de cada um deles”, sustentou António Capelo.
“É como se o grupo refletisse mais sobre as condições sociais em que vivem do que propriamente as condições estéticas em que vivem e refletem isso à medida que vão levantando cenas que giram à volta do tema da liberdade”, acrescentou.
Para a construção do texto, o dramaturgo Zeferino Mota baseou-se num trabalho de investigação e criação sobre o tema Liberdade, que foi desenvolvido ao longo de ano e meio num conjunto de seis núcleos heterogéneos — uma universidade sénior, uma associação cultural vimaranense, um núcleo lusófono de Oslo, um projeto de integração de adolescentes, uma escola profissional de teatro e a equipa artística do espetáculo.
Os grupos “refletiram sobre aquilo que seria para eles a liberdade e, em cima disso, dessas conclusões, ele escreveu o texto para pôr em cena”, esclareceu o encenador.
Estes núcleos trabalharam tendo como ponto de partida documentos de natureza diversificada que testemunham a luta pela liberdade em Portugal, entre 1820 e 1975, articulando-os com inquietações contemporâneas sobre os temas que o espetáculo reflete: para que serve a liberdade na sociedade de consumo? O desejo de ser livre pode vir a desaparecer nas sociedades do futuro?
Segundo os produtores da peça, “uma das características inovadoras do projeto é essa quebra intencional de muros entre aqueles que ao longo dos últimos séculos escreveram e lutaram pela liberdade (dos mais lembrados como Garrett ou José Mário Branco), aos mais ignorados (como José de Sousa Bandeira ou Maria Arade), até aos que nos dias de hoje a questionam e se preocupam com a sua preservação”.
O espetáculo, integrado na programação do Teatro do Bolhão de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, vem ainda dar resposta “a um enquadramento que costuma ser ignorado — a Revolução dos Cravos não foi apenas um grande momento nacional capaz de devolver a liberdade a um povo e de modernizar um país, mas paradigma de um outro modo de revolução já não baseado na violência, no sangue e no martírio”.
A peça, que inclui na estreia uma sessão com língua gestual e conversa pós-espetáculo, ficará em cena no Palácio do Bolhão, no Porto, até 06 de julho.
A interpretar vão estar Anabela Sousa, Bruna Costa, João Cravo Cardoso, Luís Moreira, Miguel Hernandez, Pedro Couto e Sandra Salomé.