[Ouça aqui o trailer do novo Podcast Plus do Observador, “Um Rei na Boca do Inferno“]
Era suposto serem apenas alguns dias. Mas a estadia acabou por prolongar-se inesperadamente por um mês inteiro, que ficou marcado por intrigas e teorias da conspiração.
O Duque de Windsor, que tinha abdicado do trono apenas quatro anos antes para se casar com Wallis Simpson — uma americana duas vezes divorciada —, chegou a Lisboa na tarde do dia 3 de julho de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial.
Os Duques tinham abandonado França, onde viviam, depois de os nazis tomarem Paris. Após uma breve passagem por Madrid, o governo britânico aconselhou-os a seguir para Portugal, de onde seriam repatriados para Londres. Estava tudo preparado para partirem no dia seguinte. Mas Eduardo e Wallis nunca chegaram a apanhar o avião.
O casal fica alojado numa mansão isolada na zona da Boca do Inferno, em Cascais. A casa está permanentemente vigiada pela polícia política portuguesa e pelos serviços secretos britânicos e alemães. Pertence ao banqueiro Ricardo Espírito Santo, que era já um dos homens mais poderosos do país e amigo íntimo de António de Oliveira Salazar.
O Duque é uma figura incómoda em Inglaterra e o próprio irmão, o Rei Jorge VI (pai da futura Rainha Isabel II) prefere tê-lo longe de Londres. Por isso, o primeiro-ministro Winston Churchill faz-lhe uma oferta assim que o antigo monarca chega a Lisboa: ser nomeado governador das Bahamas. Para o governo e para a família real, a nomeação para uma zona remota do Império é a solução ideal para o manter afastado do país. Mas Eduardo começa por ver essa opção como uma humilhação. Ao mesmo tempo, nos bastidores, há muito que Hitler e os alemães têm planos para ele.
Espionagem, intrigas e conspirações que passaram por Portugal
Eduardo VIII não chegou a estar um ano no trono. Abdicou em dezembro de 1936 para se casar com a ‘socialite’ norte-americana Wallis Simpson, que nunca foi aceite nem pela família real nem pelo governo britânico.
Durante anos, as alegadas simpatias nazis do Duque estiveram sob suspeita, mesmo antes de se tornar Rei e ser apenas ainda o Príncipe de Gales. Mais tarde, em 1937, poucos meses depois do casamento, os Duques fizeram uma visita de vários dias pela Alemanha, que terminou com um encontro entre Eduardo e Adolf Hitler.
Mas foi a descoberta de milhares de documentos secretos nazis após o fim da guerra que viria lançar as suspeitas mais fortes. Entre eles estavam várias comunicações entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão e a embaixada e agentes dos serviços secretos em Lisboa. Os documentos lançam dúvidas sobre o que poderá ter acontecido durante o mês em que o Duque passou por Lisboa e sobre as intenções do antigo monarca.
Hitler tinha um plano: queria voltar a pôr Eduardo no trono quando a Alemanha vencesse a guerra. Mas até que ponto o Duque terá estado disposto a colaborar com os nazis? Foi um traidor ou foi apenas apanhado numa teia de conspirações? E que influência terá tido nesta história o banqueiro Ricardo Espírito Santo, que tinha boas relações tanto com os alemães como com os britânicos?
Os alemães enviam mesmo a Lisboa um agente dos serviços secretos para garantir que podem contar com o Duque. No limite, estão dispostos a raptá-lo para o tirar de Portugal. Parecia um plano perfeito. Mas Hitler vai ser traído por quem menos espera. E essa traição vai acontecer em Portugal.
“Um Rei na Boca do Inferno” é uma série para ouvir em seis episódios. É narrada pela atriz Soraia Chaves e tem banda sonora original de Cláudia Pascoal.
Tem estreia marcada para 30 de julho e há um novo episódio disponível todas as terças-feiras. Se for assinante do Observador não tem de esperar: todos os episódios vão estar disponíveis logo no dia de estreia através do site. O trailer da série já está disponível aqui:
O guião e as entrevistas são de João Santos Duarte; a sonoplastia é de Beatriz Martel Garcia e de Artur Costa; o design gráfico é de Miguel Feraso Cabral.