Centenas de pessoas acenderam, na noite de quinta-feira, velas em Caracas numa vigília pela liberdade de mais de 2.500 cidadãos que estão presos por motivos políticos no país, entre eles ativistas dos direitos humanos.

Desde 29 de julho, dia em que foram anunciado os resultados das eleições presidenciais, “foram detidas 2.229 pessoas, em média de 223 detenções por dia, durante 10 dias. A este elevado número juntam-se os 300 presos políticos que já estavam na prisão. São mais de 2.500 pessoas privadas da liberdade por motivos políticos na Venezuela”, disse um ativista à agência Lusa.

Inti Rodriguez, do Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos, lamentou que o espaço cívico esteja a encolher cada vez mais, através da aprovação de leis que restringem o trabalho das organizações da sociedade civil, sindicatos, fundações e organizações dos direitos humanos.

Rodriguez acrescentou que, além da intimidação por parte de funcionários do Estado e de detenções arbitrárias de ativistas, há a ameaça de mais restrições legais.

“Há pelo menos quatro ativistas detidos e estão a registar-se casos de anulação dos passaportes de ativistas e jornalistas, que são detidos de maneira arbitrária quando chegam ao aeroporto”, para tentar sair do país, frisou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

À comunidade internacional, Rodriguez apelou a que exija de forma enérgica o respeito pela vontade popular expressa nas presidenciais de 28 de julho na Venezuela.

“Têm tentado distorcer a vontade do povo através da repressão, detenções, assassínios e da morte de manifestantes. Necessitamos de apoio da comunidade internacional e de todos os organismos internacionais de proteção dos direitos humanos”, disse.

Andreína Baduel, filha do ex-ministro da Defesa da Venezuela, general Raul Baduel, que faleceu na prisão alegadamente por falta de atenção médica, explicou que o irmão Adolfo Baduel está “injustamente preso e a ser torturado há quatro anos e três meses”.

Andreína Baduel foi à vigília para “tornar visível a crueldade que o regime inflige a quem pensa diferente” e para apelar ao apoio do mundo.

“Precisamos de ajuda, não devem deixar-nos sozinhos. Que não nos esqueçam. Cada venezuelano ou estrangeiro é uma parte importante para garantir que os direitos humanos não sejam violados”, disse.

Diego Casanova foi à vigília pedir liberdade para o irmão, detido após as eleições de 28 de julho.

“José Gregório foi detido quando a polícia perseguia um grupo de manifestantes. Ele não estava a manifestar-se, é inocente. Levaram-no e nunca mais o pudemos ver nem falar com ele. Está a ser acusado de instigação ao terrorismo (…). Não teve uma audiência de apresentação e não o deixaram nomear um advogado de defesa privado”, explicou.

Casanova pediu à comunidade e organismos internacionais que façam eco da denúncia dos venezuelanos e que exijam a Caracas a libertação de todos os detidos inocentes.

Mildred Martínez de Barillas, mulher do comissário Gilbert Barillas, disse que o marido está detido há quatro anos e quatro meses, e que depois de estar na prisão de El Helicoide foi transferido para “o campo de concentração Rodeo 1, uma nova cadeia para presos políticos”.

“Temo pela vida do meu marido (…). Há três semanas que não me permitem vê-lo e apenas me deixam levar-lhe produtos de higiene pessoal (…). Já há mais de 2.500 pessoas detidas, incluindo crianças, menores de idade e pessoas com deficiência. Temos muito medo do que está a acontecer e pedimos aos organismos internacionais que nos ajudem”, disse à Lusa.

Na vigília esteve também Alexandra Michelena, que há dez anos tem uma filha emigrada nos EUA, onde não existe um consulado venezuelano.

Michelena lamentou que a filha não a possa visitar porque não tem um passaporte válido nem possibilidade de viajar até ao Canadá ou ao México para o obter.

Líder da oposição na Venezuela teme prisão devido a nova lei “contra fascismo”