Há duas semanas, um dia depois da fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, Rui Abrunhosa, então diretor-geral dos Serviços Prisionais, disse que esta é uma cadeia antiga, construída na década de 60, e explicou que a rede foi eletrificada, mas não foi ativada porque quando tal acontecia, “a luz da prisão ia abaixo”. Esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar dos Assuntos Constitucionais, um dos sindicatos chamados para esclarecer os deputados sobre a fuga de Vale de Judeus desmentiu o antigo diretor-geral, garantindo que a rede nunca esteve, nem podia estar, eletrificada.

Aquela rede nunca foi eletrificada. Vivemos num estado democrático e era impensável haver uma rede eletrificada. É lamentável que se tenha dito isto. O que existe naquela cadeia são postes de movimento que estão desativados há cinco anos“, disse Frederico Morais, presidente do Sindicado Nacional do Corpo da Guarda Prisional. “Existe uma rede laminada”, esclareceu.

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Os deputados querem esclarecimentos sobre a fuga dos cinco reclusos da prisão de Vale de Judeus, que aconteceu no dia 7 de setembro, e esta quarta-feira começou uma ronda de audições, que termina na sexta-feira com as declarações de Rita Júdice, ministra da Justiça. E além de explicações, estes sindicatos deixaram ainda críticas à fusão da direção dos serviços prisionais com a direção da reinserção, defendendo a criação — à semelhança daquilo que já aconteceu — de duas direções distintas.

“O que a Direção-geral tem feito é apostar na reinserção e abdicar da segurança”, defendeu Júlio Rebelo, do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional, acrescentando ainda que “os guardas acompanham os reclusos à escola, ao ginásio, à psicóloga, os guardas fazem tudo o que não tem a ver com a segurança”. E Frederico Morais acrescentou que “não se pode juntar o punitivo com a reinserção”. “Exigimos a separação do corpo da guarda prisional da reinserção. Nós somos especialistas em sistema prisional, não somos doutores.”

Torres de vigia, falta de guardas e carros com portas a cair

Os dois sindicatos ouvidos esta quarta-feira não falaram apenas da cadeia de Vale de Judeus e apontaram o dedo, à semelhança daquilo que têm feito nas últimas semanas, à falta de efetivo e à falta de condições de trabalho. E deram exemplos. “Em Chaves, tivemos de pedir à PSP para ir ao hospital buscar um preso, porque só tínhamos um guarda durante a noite”, disse Frederico Morais.

E Júlio Rebelo tinha outros episódios. “O corpo de guardas não tem condições para trabalhar, não temos viaturas para trabalhar, paramos no hospital e chegamos ao caricato de as portas caírem”. “No estabelecimento onde trabalho, os elevadores não funcionam para aí há dez anos, o que faz com que visitas tenham de ir à chuva para chegar à sala”, acrescentou.

Já em relação às torres de vigia, desativadas ou demolidas, os dois sindicatos estiveram também em sintonia e defenderam que esta é uma das formas mais eficazes de segurança. “As torres de vigia têm um guarda armado lá dentro. Os reclusos pensam antes de tentar fugir. As torres de vigia são a visão do guardas”, explicou o dirigente do Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional.