Este artigo foi originalmente publicado no 16.º número da

revista DDD – D de Delta.

Começando pelo início: o que é um palhete? Bebe-se?

É um tinto feito à moda antiga, incluindo também uvas brancas, de onde resulta um vinho mais leve, suave, de cor rubi, quase como um rosé um pouco mais encorpado. Se se bebe…

Então basta a um vinho ter uvas brancas e tintas para ser considerado palhete?

Não é bem assim. Há regras, além de que hoje em dia quase tudo está legislado. Ora, segundo a Portaria n.º 26/2017, de 13 de janeiro de 2017, que estabelece as regras complementares relativas à designação, apresentação e rotulagem dos produtos do setor vitivinícola, o palhete é um “vinho tinto, obtido da curtimenta parcial de uvas tintas ou da curtimenta conjunta de uvas tintas e brancas, não podendo as uvas brancas ultrapassar 15% do total”.

Qual é a diferença entre um palhete e um palheto?

Nenhuma. Trata-se de uma derivação fonética. Palhete ou palheto querem dizer a mesma coisa.

E entre um palhete e um vinho clarete?

Voltemos a puxar da legislação, segundo a qual um clarete é um “vinho tinto, pouco colorido, com um título alcoométrico volúmico adquirido não superior em 2,5% ao limite mínimo legalmente fixado”, ou seja, em torno dos 11,5%”. Por outras palavras, é um tinto leve, com pouco álcool, e embora seja um vinho claro – daí chamar-se clarete – uvas brancas não entram aqui, ao contrário dos palhetes.

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Qual é a origem do palhete?

Por ser leve, era um tipo de vinho popular no trabalho campestre no Alentejo e na Beira Baixa em meados do século XX. Mais encorpado do que um vinho branco e mais fresco do que o típico tinto carregado de cor e de álcool, era um vinho que dava para beber ao almoço, a acompanhar pratos pesados, no campo, sem comprometer a produtividade do resto do dia. No caso do Tudo Ao Molho, o volume de álcool é de 12,5%.

Portanto, é para se beber à vontadinha?

Como em tudo, aconselha-se moderação. E se conduzir, já sabe: não beba.

Acho que já percebi.

O quê?

Porque é que o palhete da Adega Mayor se chama tudo ao molho.

Por ser um vinho criado a partir de uvas tintas e brancas? Certo, mas não é só isso.

O que falta?

Falta dizer, por exemplo, que o Tudo Ao Molho tem origem numa só parcela de vinha velha, que foi vindimada de uma só vez à mão, durante a noite, para evitar o braseiro do verão alentejano. Metade dos cachos foi para a fermentação intacta, enquanto a outra foi primeiro desengaçada e ligeiramente esmagada. O mosto em contacto com as películas e grainhas fermentou em cubas de inox a uma temperatura entre 24 e 26 ºC.

O que tem essa vinha de especial?

É uma vinha sexagenária, com uvas tintas e brancas todas misturadas, que fica numa parcela de dois hectares e meio na serra de São Mamede. Fernão Pires, Olho de Lebre e Bical são algumas das castas brancas presentes, mas a maioria não está identificada – são assim tão antigas.

Porque é que as videiras brancas e tintas foram plantadas lado a lado?

Era uma prática comum à época, para diversificar o risco. Plantando castas diferentes na mesma vinha, os agricultores sabiam que se umas reagissem mal a um ano mais quente ou mais chuvoso, as outras compensariam o estrago.

Não punham os ovos todos no mesmo cesto.

Nem o vinho todo no mesmo copo.

O tudo ao molho é de que ano?

O vinho chegou às principais garrafeiras nacionais e às lojas Adega Mayor (em Campo Maior e em adegamayor.pt) em 2022. A colheita é de 2021.

Quanto custa?

16,50€.

E porque está uma fotografia presa à garrafa porum elástico?

É uma fotografia a preto-e-branco com 60 anos, de Artur Pastor, fotógrafo que percorreu o país de norte a sul registando a vivência no campo e que deixou um legado inestimável sobre a vida rural portuguesa. O elástico é um piscar de olho à marca Esquissos, da Adega Mayor, na qual o vinho Tudo Ao Molho se insere – não lembra um conjunto de esquissos de arquitetura enrolados por um elástico?

Bem visto. E por cima da fotografia está um acetato parcialmente pintado, como que a colorir a imagem original…

É o rótulo, e tem por base o mesmo princípio que a Adega Mayor aplica ao que está dentro da garrafa – um vinho ao estilo de tempos idos, a partir de uvas de vinhas velhas, aplicando técnicas atuais. A intervenção artística, da designer Ana Cunha, preserva a fotografia original ao mesmo tempo que cria algo novo.

Combina o antigo com o contemporâneo.

Tal como o Tudo Ao Molho, no sentido de ser um vinho de antigamente e de ter, ao mesmo tempo, um perfil cada vez mais apreciado nos dias de hoje, em especial entre as gerações mais novas.

Que perfil é esse?

No caso do Tudo Ao Molho, é o de um vinho tinto que se deve tirar do frigorífico meia hora antes de se servir. É um vinho com frescura, taninos finos e elegantes, para se beber à beira da piscina, na esplanada, ao fim da tarde, com amigos ou com um livro. Vai bem com peixes gordos, saladas frias, sushi ou ceviche. E vai ainda melhor com um arroz de tomate com jaquinzinhos fritos. É um vinho glu glu: descontraído e refrescante, em que cada gole convida ao seguinte.