Com uma t-shirt da Startup Germany, Robert Habeck começou por reconhecer uma “honra” que é ao mesmo tempo um “fardo”: na edição deste ano da Web Summit, é dos poucos líderes políticos a subir ao palco principal. O vice-chanceler alemão (que deverá ser candidato a chanceler nas anunciadas eleições de 23 de fevereiro pelos Verdes) usou esse privilégio para fazer um discurso cheio de apelos à luta contra as ameaças à liberdade.
Falando “como alemão e como político com uma perspetiva europeia”, Habeck descreveu aqueles que considera como os “grandes desafios que dividem a sociedade”. Para o número dois do governo alemão, que tem a pasta do Ambiente e Ação Climática, “o grande problema político do nosso tempo” é o facto de “três ameaças à liberdade” estarem a acontecer ao mesmo tempo.
Uma vem de fora, enumerou Habeck. “A guerra voltou à Europa há quase três anos”, disse, em referência à invasão russa da Ucrânia. “A guerra de Putin contra a Ucrânia não tem que ver com o controlo de zonas no leste da Ucrânia. Tem que ver com proibir um país de fazer as suas escolhas, com proibir as pessoas de viver a sua vida em liberdade. Putin não aceita que a Ucrânia partilhe os direitos que nós damos como garantidos. Esta é uma guerra contra a democracia, contra a liberdade. Ao vermos quem são os aliados, percebemos que este ataque à liberdade vem de fora”, começou por dizer, arrancando aplausos tímidos da bancada.
Robert Habeck também não ignorou os ataques “que vêm de dentro”, sob a forma de líderes políticos populistas. “Há movimentos populistas em todo o lado, não tem que ver com quem está no governo. O populismo está na Europa do norte, no sul, nos países fundadores da UE, nos países de leste que entraram na UE nos últimos 20 anos”. Para o vice-chanceler alemão, a emergência do populismo está na forma como as questões são debatidas, da imigração às alterações climáticas. “O que os populistas tentam fazer é destruir o espaço para a discussão democrática. Nenhum político democrático pode pensar que ele é o único que tem a resposta certa para os problemas”.
O terceiro ataque à liberdade vem acoplado à luta contra as alterações climáticas, diz Habeck. “Estou farto que as pessoas que lutam contra as alterações climáticas tenham de pedir desculpa”, sublinhou o também ministro alemão do Ambiente.
Logo a seguir à intervenção em palco, Habeck deu uma conferência de imprensa na Web Summit (com um abraço a Carlos Moedas nos corredores pelo meio). Perante uma sala lotada, natural tendo em conta a crise política que vive a Alemanha, o vice-chanceler, que respondeu a parte das questões em alemão, deixou claro que “na Alemanha, neste momento, tudo é possível”, em resposta a uma questão sobre as eleições que deverão ter lugar a 23 de fevereiro do próximo ano.
“Nos últimos anos não vimos muita vontade para cooperação. Mas uma lição que devemos aprender é que não devemos ter vergonha de cooperar. Temos três meses e meio para discutir”. Uma coisa é certa: “matematicamente não é possível que algum partido do próximo governo não esteja no governo agora”.