O historiador de arte Nuno Vassallo e Silva vai presidir ao conselho de administração da Fundação Centro Cultural de Belém (CCB), sucedendo a Francisca Carneiro Fernandes, que estava no cargo há um ano, revelou esta sexta-feira o Ministério da Cultura. Contactada pela agência Lusa, Francisca Carneiro Fernandes mostrou-se “surpreendida com a decisão” da qual foi informada esta sexta-feira à tarde.
Em nota de imprensa, o gabinete da ministra Dalila Rodrigues refere que a nomeação de Vassallo e Silva se justifica pela “necessidade de imprimir nova orientação à gestão da Fundação Centro Cultural de Belém, para garantir que a fundação assegura um serviço de âmbito nacional, participando num novo ciclo da vida cultural portuguesa”.
“Tenho pena, acho que estávamos a fazer um bom trabalho que lamento não conseguir continuar“, disse Francisca Carneiro Fernandes, que tinha tomado posse em dezembro de 2023, nomeada pelo anterior ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, e substituído na altura Elísio Summavielle.
Sem especificar quando é que Nuno Vassallo e Silva entra em funções, o Ministério da Cultura esclarece que os restantes elementos do Conselho de Administração da Fundação CCB se mantêm em funções.
Nuno Vassallo e Silva era diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian e, entre outras funções anteriores, foi Diretor-Geral do Património Cultural. Doutorado em História de Arte, foi ainda Secretário de Estado da Cultura no XX Governo, liderado por Pedro Passos Coelho.
Comissão de Trabalhadores do CCB lamenta exoneração de Francisca Carneiro Fernandes
A Comissão de Trabalhadores da Fundação Centro Cultural de Belém (FCCB) lamentou a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes de presidente desta instituição, recordando a “abertura de diálogo” e a “reestruturação fundamental” que empreendeu. “O CCB fica mais pequeno com a sua saída”, escreve a Comissão de Trabalhadores (CT), numa carta enviada às redações, na qual afirma que Francisca Carneiro Fernandes, desde que assumiu a presidência do conselho de administração da FCCB, em 1 de dezembro de 2023, mostrou uma “vontade imediata de resolver falhas sistémicas várias vezes reportadas à anterior administração, nomeadamente na área performativa”.
Com Francisca Carneiro Fernandes “houve, pela primeira vez em muitos anos, uma clarificação da missão e estratégia da Fundação, no sentido de trabalhar para todos os públicos, democratizando o acesso à cultura e melhorando as condições de trabalho”, lê-se na carta da CT. “Com a presidente, as equipas passaram a ser ouvidas, participando de forma expressiva na organização e desenvolvimento dos projetos”.
A CT, na carta divulgada esta noite, recorda etapas do mandato de quase um ano de Francisca Carneiro Fernandes, sublinhando a existência de “um raro planeamento sério e rigoroso” das atividades, a otimização de recursos e a correção de falhas na execução de procedimentos públicos, nomeadamente nas áreas administrativas e financeiras, e o modo como “contribuiu para uma reestruturação fundamental e urgente através de uma gestão eficaz e integrada das equipas”. Como exemplo, a CT recorda que, “pela primeira vez na história do CCB, [foi nomeada] uma diretora artística, Aida Tavares”, permitindo recuperar “a confiança num trabalho profissional e ético”.
Entre os pontos positivos, a CT recorda igualmente a estreia do Festival FeLiCidade, em maio, “projeto conseguido num curto espaço de tempo”, prova do desempenho de “equipas motivadas e confiantes” no novo ciclo do CCB. Houve “um raro planeamento sério e rigoroso que resultou num festival feliz, pluridisciplinar, inclusivo. O CCB foi, como nunca, ocupado por um público novo, multicultural, de todos os géneros e idades”, conseguindo mobilizar 22 mil pessoas em apenas dois dias.
A CT alerta ainda que “constantes mudanças nas administrações, por razões meramente políticas, são altamente prejudiciais para o funcionamento e estabilidade da instituição”. “Esta mudança abrupta […], depois de o Gabinete da Ministra da Cultura, a 12 de novembro 2024, ter afirmado publicamente que não haveria mudanças na administração do CCB, revela um desconhecimento do trabalho desenvolvido em apenas um ano, e do crédito” que a CT depositou em Francisca Carneiro Fernandes.
A CT conclui a carta de solidariedade com Francisca Carneiro Fernandes, a quem chama “a nossa presidente”, agradecendo “o ano inédito” de trabalho e “realçando as várias qualidades” da gestora: “O seu conhecimento de causa, a sua humanidade e a sua gestão exemplar”.
*Notícia atualizada às 23h38 com a reação da Comissão de Trabalhadores do CCB