Siga o debate dos nove candidatos na RTP aqui.

O dia foi curto de agenda para todos os candidatos, não só devido à morte do histórico socialista Almeida Santos, como também devido ao debate na RTP agendado para esta noite. Assim foi também para o candidato do PCP, Edgar Silva, que passou a manhã em Carcavelos e na Parede, Cascais, a “contactar com a população”. Rodeado por um grupo expressivo de militantes comunistas locais, que erguiam bandeiras, ostentavam autocolantes ao peito e entoavam cânticos de apoio, Edgar Silva aproximava-se com jeitinho e falinhas cuidadas de todos os comerciantes e transeuntes que encontrava pelo caminho, distribuía folhetos com a sua cara e, sobretudo, pedia a todos que domingo fossem votar. No final, deixou clara qual era a mensagem: “mobilizar, mobilizar, mobilizar”. É a palavra de ordem na reta final da campanha.

Foi quase uma hora a percorrer a pé e sem pressas o caminho que liga a estação ferroviária da Parede e a avenida da República, com o candidato a parar em todos os cafés, lojas de chineses, de roupa, de cosmética e junto dos taxistas. A todos dizia o mesmo, com gentileza e muitas licenças, “vote, vote, vá votar no domingo”. Feita a ronda, panfletos e beijinhos distribuídos, Edgar Silva falou aos jornalistas e apoiantes num palanque improvisado: é preciso “plantar as sementes da esperança” para crescerem e darem frutos, disse. Mas para isso é preciso “mobilizar, mobilizar, mobilizar” e “despertar quem possa ainda estar mais sonâmbulo e adormecido”. “Que ninguém falte à chamada”, pediu.

Para o candidato presidencial, a campanha eleitoral tem sido crescente, assim como tem sido crescente o “apoio à candidatura”. Por isso Edgar Silva está confiante. “Sinto que esse apoio não vai parar, tenderá a crescer mais e mais”, disse, depois de comparar o alargamento da base de apoio a uma “magnólia branca” que plantou “há 20 anos” no bairro social das Malvinas, no Funchal, e que hoje é uma “árvore estrondosa”. “Isto prova que mesmo na terra mais árida, onde menos se espera, é possível semear e germinar vida”, disse.

A candidata presidencial apoiada pelo BE, Marisa Matias, criticou o “enorme tumulto” que a justiça sofreu com a aplicação do novo mapa judiciário, defendendo estabilização, acesso igual para todos e redistribuição de processos num “pilar fundamental da democracia”.

Ao décimo dia de campanha, Marisa Matias escolheu como tema a justiça, visitando e reunindo com a juíza responsável pela comarca, representantes do Ministério Público e da administração do Tribunal de Loures, cujas instalações estão divididas entre o edifício principal e contentores.

“A justiça é um pilar fundamental da democracia, que nos últimos anos sofreu um enorme tumulto com a aplicação do novo mapa judiciário. Os resultados ainda estão à vista. A justiça, que já era morosa e desigual, passou a ficar bastante mais distante”, criticou.

Na opinião da candidata apoiada pelo BE “é preciso estabilização nesta área”, considerando que sem esta estabilização e com a constante experimentação “não teremos uma justiça a funcionar, logo não teremos a democracia a funcionar de forma plena”.

Este mapa judiciário, segundo Marisa Matias, “não resolve a questão do acesso à justiça”, sendo preciso “uma redistribuição pelo país dos processos” e repensar “a forma como estão distribuídos os tribunais”.

“Se uma pessoa tiver que se deslocar 70 ou 100 quilómetros para poder tratar de um problema de justiça e se outra pessoa der de caras com um tribunal que está tão a abarrotar de processos que o seu problema demora muito tempo a ser resolvido, este não é o mapa da justiça que nós precisamos”, exemplificou.

Lusa

É um dos momentos mais típicos de uma campanha eleitoral: a descida do Chiado, em Lisboa. No caso do Partido Socialista, essa acção de campanha é geralmente precedida de um almoço na Cervejaria Trindade.

Sampaio da Nóvoa também tinha um almoço marcado na Trindade amanhã, com autarcas, mas cancelou-o devido à morte de Almeida Santos. O funeral do ex-dirigente do PS é às 14h e, até lá, Nóvoa não fará qualquer acção de campanha. À noite está previsto um jantar-comício em Santa Maria da Feira.

A RTP está a analisar a possibilidade de adiar o único debate televisivo com os dez candidatos à presidência da República, marcado para a noite desta terça-feira. Depois de Maria de Belém ter anunciado que não estará presente, na sequência da morte de Almeida Santos, o presidente honorário do PS e seu apoiante, Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa, pelo mesmo motivo, também não deram como garantida a participação, o que levou os responsáveis da estação pública decidiram contactar as restantes candidaturas para avaliar a possibilidade de encontrar uma nova data ou até anular o debate.

As reações à morte de Almeida Santos vão-se sucedendo. Em declarações aos jornalistas na sede de campanha de Maria de Belém, Jorge Coelho, Alberto Martins e Vera Jardim , onde instantes antes a candidata tinha lido uma curta declaração, juntaram-se às homenagens.

“António Almeida Santos, para mim, será o presidente do PS toda a vida”, começou por dizer Jorge Coelho, antes de lembrar o contributo imensurável do ex-Presidente da Assembleia da República para a construção da democracia portuguesa. “[Estou certo] que há socialistas já com muitas saudades dele”, sublinhou Jorge Coelho.

Alberto Martins, por sua vez, lembrou as conversas que mantinha com Almeida Santos, sobre Coimbra, sobre o fado coimbrão e até sobre a Académica. Sobre as coisas pequenas da vida. As melhores. A morte daquele que será sempre o “grande patriarca da democracia portuguesa e do PS” é “uma grande perda para a política portuguesa”, lamentou Alberto Martins. “É um dos raros portugueses que cruzou a vida com a história da democracia e da política portuguesa e do melhor que tem a nossa democracia”.

Vera Jardim, que chegou a trabalhar no escritório de Almeida Santos, ainda em Moçambique, recordou o enorme contributo do socialista para a construção do regime português. Mais do que isso, Almeida Santos, de uma “disponibilidade e afabilidade” ímpares, era “um homem que gerava a sua volta enormes consensos”.

Marcelo Rebelo de Sousa ainda não decidiu se vai ou não participar no debate desta noite na RTP com todos os candidatos presidenciais. Aos jornalistas, Marcelo disse que ia ponderar durante a tarde.

Além desta decisão, o candidato suspendeu as ações que tinha marcado para a manhã de amanhã, até ao funeral. Esta terça-feira cancelou contactos de rua, mas manteve duas visitas a instituições. A primeira à porta fechada, a segunda à Santa Casa da Misericórdia do Barreiro.

Aos jornalistas esta manhã à saída de uma instituição em Almada, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou a morte de Almeida Santos e deixou elogios ao homem que foi essencial na “luta contra a ditadura e na construção jurídica da democracia, sobretudo como ministro da justiça, mas também noutras funções”.

Disse ainda que: “Nos primórdios da democracia, foi o pai de muitas das leis que permitiram esse arranque democrático, com a sua inteligência, cultura, capacidade jurídica, com a sua vocação para os consensos. Era um homem naturalmente consensual e pacificador e manteve essa característica até ao final da sua vida”, afirmou.

Sampaio da Nóvoa não está a pensar em faltar ao debate televisivo de logo à noite, apesar de Maria de Belém já ter dito que não ia e Marcelo ter dito que ainda não tinha decidido.

“Há condições para que o debate se realize”, disse Nóvoa aos jornalistas durante uma visita aos estaleiros da Lisnave Setúbal. Para o candidato, “o debate não é uma ação de campanha” e “é útil”, pelo que apenas ponderará não ir “se as regras se alterarem substancialmente”.

Marcelo lamenta morte de Almeida Santos. Candidato suspende todas as ações até ao enterro. Apenas mantém uma visita agora à Santa Casa da Misericórdia do Barreiro

A morte de “António Almeida Santos é uma perda irreparável para Portugal, para a democracia portuguesa e para o Partido Socialista”. Foi desta forma, visivelmente emocionada, que Maria de Belém prestou homenagem a Almeida de Santos, histórico socialista e ex-Presidente da Assembleia da República.

“Este acontecimento tristíssimo exige-nos a homenagem a um homem que cruzou o seu destino com a resistência à ditadura, a descolonização, a fundação da democracia de que foi o mais eminente legislador. Um homem de grande dimensão cultural, afetiva e humanista. Se morreu de coração, morreu do que tinha de melhor”, despedia-se, assim, Maria de Belém.

A socialista endereçou, ainda, as “mais sentidas condolências, acompanhadas de um abraço muito amigo e solidário”, à família do até então presidente honorário do partido. Esta curta declaração foi lida na sede da candidatura, em Lisboa.

A candidatura da ex-presidente do PS confirmou, ainda, que a campanha vai estar suspensa até à realização do funeral de Almeida Santos, que vai ter lugar esta quarta-feira, pelas 14 horas, no Alto de São João. Mesmo depois, todas as ações de campanha serão meramente políticas, sem espaço a celebrações de qualquer natureza.

A participação de Almeida Santos na campanha de Maria de Belém Roseira e o elogio que esta lhe fez suscitou na segunda-feira críticas de Alfredo Barroso, apoiante de Sampaio da Nóvoa.

Edgar Silva está esta manhã na Parede, em Cascais, a contactar com a população pic.twitter.com/C9YPBgu6iP

— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) January 19, 2016

Maria de Belém não vai participar no debate televisivo desta noite com os restantes nove candidatos às eleições presidenciais, na RTP. A informação foi avançada pela agência Lusa, já depois de os responsáveis pela campanha de Maria de Belém terem comunicado que a candidata ia suspender todas as ações de campanha até à realização do funeral de Almeida Santos.

Marcelo Rebelo de Sousa só tem ações de campanha de manhã.

Às onze visita à Associação Vale de Àcor, em Almada e depois visita a Santa Casa da Misericórdia do Barreiro. Marcelo tinha uma arruada no Barreiro, mas foi cancelada.

Bom dia,

António Sampaio da Nóvoa começa hoje a campanha no Montijo, aonde chegou há minutos de catamarã. O candidato presidencial anunciou, já no cais, que as ações de campanha programadas para esta tarde foram canceladas, em virtude da morte de Almeida Santos. Sampaio da Nóvoa, que conhecia bem o histórico socialista, considerou esta morte como “uma grande perda” e prestou-lhe “uma sentida homenagem”.

Além do cancelamento da tarde de hoje, Nóvoa anunciou ainda que todas as ações com um “caráter mais festivo” vão ser canceladas até ao fim da campanha, na sexta-feira.

O dirigente socialista Porfírio Silva, um dos principais conselheiros de António Costa e membro do secretariado nacional, acusa Maria de Belém (sem referir o nome) de estar a dar “uma prenda de mão beijada à direita” ao “atacar exageradamente” a outra candidatura que parte do seio do PS, a de Sampaio da Nóvoa. “Por favor, candidatos, concentrem-se no que interessa e acabe-se prontamente com a táctica suicida de atacar os irmãos a benefício dos reais adversários”, escreveu Porfírio Silva no Facebook.

Numa publicação muito dura na sua página de Facebook, o dirigente socialista lembra que o partido optou por não apoiar nenhuma das duas candidaturas para dar liberdade de escolha aos militantes e que o objetivo sempre foi “impedir a marcelada à primeira volta e derrotar a direita na segunda volta”. Para isso, diz, era preciso haver “respeito” entre Belém e Nóvoa, para se unirem em torno desse objetivo – coisa que não está a acontecer.

“Digo mesmo mais: uma candidatura que até, discretamente, agradeceu que o PS deixasse a escolha aos socialistas a título individual, não devia agora queixar-se de haver demasiados socialistas a apoiar a outra candidatura. Ou a liberdade de escolha só é boa se formos nós os escolhidos?”, acrescenta, numa clara farpa lançada à ex-ministra da Saúde (e ex-presidente do PS). “As pessoas grandes podem sair ainda maiores mesmo de uma derrota. As pessoas pequenas podem sair mais pequenas até de uma corrida onde pareçam chegar à frente”, termina.

Para já, Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa mantém a sua agenda de campanha mais ou menos dentro do previsto. Marcelo só tem campanha da parte da manhã, no distrito de Setúbal, e Sampaio da Nóvoa deverá suspender os eventos que tinha previstos para a tarde.