A secretária de Lacerda Sales, Carla Silva, garante que não fez “nada que não tivesse sido pedido” ou fora do conhecimento do ex-secretário de Estado ou do chefe de gabinete.

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Gémeas. “Não fiz nada que não me tivesse sido pedido”

O presidente da CPI das gémeas deu por terminada a audição à ex-secretária de Lacerda Sales, tendo pedido desculpa a Carla Silva pelo facto de o canal Parlamento ter exibido, durante alguns segundos, a imagem da depoente — aquando da entrada de Carla Silva na sala — e ao contrário do que tinha sido acordado entre a ex-secretária de Lacerda Sales e os partidos.

Em resposta aos deputados, a ex-secretária de Lacerda Sales diz que, em novembro de 2023 (quando o caso foi tornado público), falou com o então ministro da saúde Manuel Pizarro, tendo-lhe transmitido “a verdade”.

“Contei-lhe precisamente tudo o que vos contei hoje”, revelou.

A antiga secretária de Estado de Lacerda Sales diz que, se fosse hoje, procederia de forma diferente, tendo em conta o que diz ser todo o contexto do caso.

“Faria de forma diferente, sem dúvida, porque hoje tenho uma visão geral de tudo o que está envolvido neste processo”, sublinha.

O presidente da CPI ao caso das gémeas revelou aos jornalistas — que aguardam fora da sala onde decorre a audição de Carla Silva — que pediu ao presidente da Assembleia da República que este solicitasse à GNR o destacamento de três militares daquela força policial para escoltarem a ex-secretária de Lacerda Sales e para impedirem o acesso de pessoas estranhas à sala onde decorre a audição.

O pedido (relacionado com a vontade de Carla Silva que a sua imagem foi protegida) foi aceite pela GNR, adiantou Rui Paulo Sousa, presidente da CPI.

O presidente do Chega, André Ventura, anunciou há minutos que o Chega vai chamar Lacerda Sales de novo à CPI das gémeas, de forma potestativa. Segundo André Ventura, a decisão do partido vem na sequência das declarações feitas pela ex-secretária do ex-secretário de estado — que, segundo André Ventura, contradizem flagrantemente o que foi dito por Lacerda Sales na CPI.

A audição da secretária do antigo secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, decorre sem imagem mas o Canal Parlamento falhou durante poucos segundos esse direito que foi concedido pelos deputados.

Canal Parlamento mostra imagem de ex-secretária de Lacerda Sales e viola reserva de imagem na comissão de inquérito

Confrontada com as declarações do ex-secretário de Estado na CPI, que disse estar arrependido do louvor atribuído à ex-secretária, Carla Silva sugeriu que o arrependimento do ex-governante pode estar relacionado com o facto de estar a dizer a verdade sobre o caso.

“Será que [mudou de opinião] pelo facto de eu estar a dizer a verdade? Tem de o questionar quanto a isso”, respondeu Carla Silva ao deputado do CDP-PP João Almeida, acrescentando que o caso não “abala o seu profissionalismo” junto das instituições onde trabalha.

Carla Silva garante que dirigiu o pedido para a marcação da consulta à diretora do departamento de Pediatria, Ana Isabel Lopes, com o “conhecimento de Lacerda Sales”.

A ex-secretária diz que “não existe relação” entre o facto de Lacerda Sales lhe ter pedido a si para contactar o hospital (e não a outro membro do gabinete) e o facto de ter trabalhado no departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria, entre 2011 e 2013.

Carla Silva garante que não era frequente contactar com hospitais, para realizar marcações de consultas ou para fazer outro tipo de pedidos. A resposta foi dada ao deputado do Livre Paulo Muacho.

A ex-secretária de Lacerda Sales diz sentir-se “um bode expiatório” no caso das gémeas e aponta o dedo ao ex-governante.

“Temos um ex-secretário de Estado da saúde a negar qualquer intervenção neste caso e a levantar suspeições em relação a mim, que era se secretária do gabinete — supostamente de confiança”, critica Carla Silva.

Questionada sobre se sofreu algum tipo de pressão relacionado com a presença na comissão de inquérito, Carla Silva nega.

Mas, também em resposta à deputada da Iniciativa Liberal Joana Cordeiro, diz que Lacerda Sales a contactou, “em novembro ou dezembro do ano passado” — já depois de o caso ser conhecido publicamente, a propor-lhe uma encontro. “Pretendia encontrar-se comigo para me fazer uma pergunta. Não sei se era no âmbito deste caso.”

O encontro não chegou, no entanto, a acontecer. “Eu tinha horários muito complicados, estava num gabinete ministerial, transmiti ao dr. Lacerda Sales que poderia ser no ministério, eu poderia descer e falávamos.”

Na resposta, o antigo governante disse que “já não era necessário” falarem. “Não sei qual era a questão que dr. Lacerda Sales me queria colocar, mas foi o único caso que disse que queria falar comigo.”

A ex-secretária de Lacerda Sales confirmou que o ex-secretário de Estado a mandatou para tratar do caso das gémeas Maîte e Lorena logo depois da reunião que Lacerda Sales teve com Nuno Rebelo de Sousa, o filho do Presidente da República.

Carla Silva reafirmou também que foi Lacerda Sales quem lhe deu o contacto de Nuno Rebelo de Sousa e lhe pediu para recolher os dados das crianças junto do filho de Marcelo Rebelo de Sousa.

A ex-secretária de Lacerda Sales confirma, em resposta a André Ventura, que reencaminhou para Lacerda Sales o email da mulher de Nuno Rebelo de Sousa — que tinha apenso um outro email, de Daniela Martins — em que a mãe das gémeas agradece a Lacerda Sales todo o apoio dado às crianças.

Questionada por André Ventura sobre as declarações feitas por Lacerda Sales, que imputou a Carla Silva a responsabilidade pela marcação da consulta, a ex-secretária de Lacerda Sales recusa comentar. “Nada tenho a comentar”, diz.

A ex-secretária de Lacerda Sales diz que toda a sua intervenção no caso teve o respaldo do ex-secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales.

“Não fiz nada que o senhor secretário de Estado não soubesse ou não me tivesse pedido”, garante Carla Silva.

A ex-secretária de Lacerda Sales revela aos deputados que, antes de enviar os dados das crianças ao Santa Maria, telefonou à diretora do serviço de Pediatria “a pedido logicamente do secretário de estado da Saúde”.

“O que ficou combinado no telefone era que lhe iria enviar os dados”, disse Carla Silva.

“Perante a ordem que recebi do senhor secretário de estado, nunca me passou pela cabeça que houvesse alguma irregularidade”, sublinhou.