Celebrar o Dia Mundial do Pulmão, a 25 de setembro, é um convite para todos nós refletirmos sobre a importância dos pulmões, que têm uma função vital insubstituível, mas também do ar que respiramos, para o nosso bem-estar. Esta celebração anual foi instituída em 2017 com o objetivo de consciencializar a população sobre os riscos para a saúde respiratória. A cada ano, a campanha aborda um tema específico e promove ações de prevenção e divulgação. O tema de 2024 é “ar limpo e pulmões saudáveis para todos”, reforçando o apelo para intensificar o combate à poluição do ar, que hoje constitui uma das principais causas de doença potencialmente evitável no Mundo.
Durante as últimas décadas verificaram-se notáveis alterações demográficas em todo o globo, com o aumento das populações, especialmente concentradas em centros urbanos, e com um desenvolvimento industrial nas áreas circundantes das cidades. Esta mudança faz com que atualmente quase toda a população mundial (uns surpreendentes 99%) esteja exposta a um ar com elevados níveis de poluentes.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os efeitos de poluição do ar contribuem para cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano. Portugal, especificamente, não constitui um dos países mais atingidos. A qualidade do ar na maioria das localidades é boa ou razoável. Contudo, os incêndios florestais que recentemente assolaram a Madeira, o centro e o norte do país, libertaram emissões recorde de monóxido de carbono, ozono, dióxido de azoto e partículas finas conhecidas como PM2,5. Estas partículas conseguem penetrar nos pulmões até ao nível alveolar, com potenciais efeitos nocivos para crianças, idosos e doentes respiratórios. É hoje consensual que as alterações climáticas estão a aumentar a frequência e a intensidade dos incêndios e que Portugal será um dos países mais atingidos.
Por outro lado, um dos fatores ambientais mais frequentemente negligenciados é o da qualidade do ar no interior das nossas casas. O excesso de mortalidade durante os meses de Inverno é maior nos países mediterrânicos do que nos países do Norte da Europa, geralmente por causas respiratórias, relacionando-se sobretudo com a pobreza e a ineficiência energética dos edifícios residenciais. A maioria das habitações em Portugal são construídas sem sistemas de aquecimento. Enquanto é cada vez menos frequente as pessoas cozinharem em fogão de lenha, é ainda comum aquecerem-se com lareiras e salamandras, com produção de emissões poluentes da combustão da madeira dentro das casas. São incontáveis as vezes que sinto o cheiro a fumo impregnado na roupa dos meus doentes durante os meses frios.
Adicionalmente, um quarto da população portuguesa reporta a existência de humidade ou de infiltrações nas paredes das suas casas, com o consequente crescimento de bolores. Este é outro fator que intensifica as manifestações alérgicas nas crianças, como a asma e o aparecimento, ou agravamento, de doenças respiratórias no adulto, como a doença pulmonar obstrutiva crónica, fibrose pulmonar e cancro do pulmão.
Os resultados preliminares de um estudo liderado por uma equipa da Universidade do Porto, o FIBRALUNG, mostram que a grande maioria dos doentes com fibrose pulmonar no Norte do país têm exposição nociva a fungos no interior das suas casas. A fibrose pulmonar é hoje a principal causa de transplante pulmonar no país. Estima-se, também, que 11% das mortes por cancro do pulmão sejam atribuíveis à má qualidade do ar dentro das casas. Esta pode ser, aliás, uma das razões para o aumento continuado de casos deste cancro em doentes mais jovens e em não fumadores. Numa época em que se discute a implementação do rastreio de cancro do pulmão para fumadores a nível nacional, existe aqui um conjunto de pessoas de risco que não ficarão abrangidas por esta iniciativa.
Um adulto saudável em repouso respira em média cerca de 16 vezes por minuto – ou 23 mil vezes por dia – sem consciência de que o faz. Alguém com uma doença pulmonar crónica precisa de respirar mais depressa para suprir as suas necessidades, habitualmente rondando as 20 vezes por minuto, fazendo-o de cada vez com esforço, tomando consciência de cada inspiração.
No entanto, muitas dessas doenças podem ser prevenidas ou controladas com hábitos de vida saudáveis, como evitar o tabagismo e os ambientes poluídos, bem como pela prática de atividade física regular. Adotando medidas simples podemos proteger nossos pulmões e garantir uma vida mais longa e feliz.