Liderar é uma das tarefas mais complexas e desafiadoras no contexto organizacional. Engana-se quem pensa que ser líder é simplesmente ocupar uma posição de autoridade. A verdadeira liderança exige um conjunto de competências que vão muito além de tomar decisões ou gerir equipas. Entre estas competências, destacam-se a empatia e a capacidade de saber ouvir.
A Empatia: o coração da liderança
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de entender e compartilhar os sentimentos e perspetivas dos elementos da equipa. No contexto da liderança, a empatia é fundamental para construir relações de confiança e criar um ambiente de trabalho positivo e colaborativo. Contudo, esta não é uma competência que pode ser desenvolvida de um dia para o outro. Requer tempo, paciência e disposição para aprender em cada interação.
Ser um líder empático implica conhecer profundamente cada membro da equipa, compreender as suas motivações, desafios e necessidades. É preciso tempo para observar, ouvir e entender as pessoas. Um líder empático é capaz de identificar quando alguém está em dificuldades, mesmo que essa pessoa não o verbalize. Com o tempo, essa compreensão intuitiva do outro permite que o líder ofereça apoio na medida certa, sem ser invasivo, mas também sem ser omisso.
Saber ouvir, mais do que escutar
Se a empatia é o coração da liderança, saber ouvir é a sua base. Saber ouvir é uma competência que vai além de simplesmente escutar as palavras que são ditas. Envolve prestar atenção ao tom de voz, à linguagem corporal e ao contexto das palavras. Um líder que sabe ouvir dedica-se a entender o que está a ser comunicado, explicitamente e implicitamente.
Desenvolver a capacidade de ouvir de forma eficaz exige prática e tempo. Inicialmente, pode ser desafiador para muitos líderes, especialmente em ambientes de elevada pressão, como nas áreas tecnológicas, onde a tendência pode ser dar respostas rápidas ou tomar decisões apressadas. No entanto, a verdadeira escuta requer pausas, reflexão e até silêncio. Um líder eficaz aprende a valorizar estes momentos, entendendo que os mesmos são cruciais para tomar decisões justas e informadas.
Ouvir atentamente também significa ser capaz de absorver feedback sem reagir defensivamente, o que é particularmente difícil, pois requer um certo nível de desapego do ego. Com o tempo, os líderes que praticam a escuta ativa desenvolvem uma maior resiliência emocional e uma compreensão mais profunda de como suas ações e decisões impactam os outros.
O Tempo: o ingrediente secreto essencial
Para ser um líder empático e bom ouvinte, é preciso ter tempo! Mas como sabemos, o tempo é um bem escasso. Um artigo da McKinsey que li recentemente refere que a maior parte dos gestores nos dias de hoje estão presos a demasiadas reuniões, tarefas administrativas e trabalho operacional que não delegam, o que deixa muito pouco tempo para o que verdadeiramente importa: passar tempo de qualidade com as pessoas!
Não há atalhos para ser um líder empático e bom ouvinte. O tempo é o ingrediente essencial nesse processo, pelo que é preciso criar espaço num dia de trabalho para verdadeiramente liderar. E como se consegue libertar tempo? O artigo “Management Time: Who’s Got the Monkey?”, de William Oncken Jr. e Donald L. Wass, aborda esta temática de forma brilhante, usando uma metáfora em que um “macaco” representa a próxima ação necessária para resolver um problema ou tarefa.
Cada experiência, seja positiva ou negativa, contribui para o desenvolvimento de competências de liderança. Um líder não nasce pronto: ele é moldado pelas interações, pelos desafios enfrentados, e pela capacidade de refletir sobre suas próprias ações. A liderança eficaz é uma jornada contínua de aprendizagem e aperfeiçoamento. Cada membro da equipa, cada projeto, cada crise é uma oportunidade para o líder crescer em empatia e capacidade de ouvir.
Conclusão
Ser um bom líder é, acima de tudo, um exercício de paciência e compromisso com o crescimento pessoal e profissional. A empatia e a capacidade de saber ouvir são dois pilares fundamentais da liderança eficaz, mas ambos requerem tempo para serem desenvolvidos plenamente.
Um líder que investe tempo no cultivo destas competências não só investe em si mesmo, mas também enriquece e fortalece toda a sua equipa. Assim, o tempo deve ser visto como o ingrediente secreto indispensável na construção de uma liderança verdadeiramente impactante e transformadora.
(As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente da autora não refletindo nem vinculando a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.)
O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.