Existem diversos mitos que se devem esclarecer para deixar de induzir as pessoas em erros que podem prejudicar a saúde. Um desses mitos é o de que o leite de vaca causa inflamação. Ora, como sabemos, o consumo de laticínios pode até ter um efeito anti-inflamatório em indivíduos saudáveis, obesos, com excesso de peso ou com anomalias metabólicas, como é o caso da diabetes melittus. Existem realmente casos em que o leite de vaca pode ser inflamatório: na população com alergia à proteína do leite de vaca e intolerância alimentar à lactose. Desta forma, podemos concluir que, exceto nestes casos, a inflamação não é uma razão válida para acabar com o consumo de leite de vaca.
Outro dos grandes mitos que se devem desmontar diz que um sumo com 100% de fruta é equivalente a ingerir uma peça de fruta. São várias as características que diferenciam um sumo de uma peça de fruta. Tomando como exemplo a laranja, as principais diferenças nutricionais entre um sumo e o fruto centram-se no conteúdo em fibra e em vitamina C. Seis horas depois de espremermos uma laranja o nosso sumo irá perder 22% da sua quantidade em vitamina C, devido ao processo de oxidação. Por outro lado, devido ao processamento da laranja, também se irá perder a grande maioria da fibra presente na fruta. Esta diminuição no conteúdo de fibra irá levar a uma subida mais rápida da glicose sanguínea.
Para fazer um sumo natural são necessárias várias peças de fruta, pelo que estaremos sempre a aumentar o valor calórico num copo de sumo, em detrimento de ingerir a peça de fruta. Uma dica para diminuir a perda de vitamina C, é tapar o sumo depois de estar preparado.
O “nosso” terceiro mito é que os produtos com “baixo teor em gordura” são automaticamente saudáveis. “Baixo teor em gordura” é uma alegação nutricional muito comum nos rótulos dos mais variados produtos alimentares. Esta alegação, legalmente, só pode ser realizada se o produto não contiver mais de 3 gramas de gordura por 100 de alimento para os sólidos ou de 1,5 gramas de gordura por 100 mililitros para os líquidos.
No entanto, muitas das vezes, isto não torna, por si só, um alimento mais saudável. Muitas empresas da indústria alimentar, ao diminuir a quantidade de gordura do género alimentício, acabam por adicionar açúcares, adoçantes ou outro tipo de substâncias em substituição da gordura. Assim conseguem que os seus produtos não percam, ou percam o menos possível, as suas características organolépticas iniciais. Para uma escolha consciente e informada é indispensável a leitura dos rótulos.
O quarto mito é que devemos evitar ao máximo os peixes gordos. Bem pelo contrário, os peixes gordos como o atum, a cavala, a sardinha e o salmão são uma mais-valia na alimentação da população em geral. Este pescado é rico num tipo de gordura específico, o ómega-3, que tem imensas vantagens, como seja aumentar a concentração e a memória, proteger contra os processos inflamatórios vasculares e as doenças degenerativas, melhorar a visão, diminuir o risco de AVC, fortalecendo e dando mais vitalidade ao cabelo, entre outras.
Desta forma, o consumo de peixe, incluindo o pescado gordo, deve ser incluído num padrão de alimentação considerado saudável. A American Heart Association recomenda a ingestão de peixe gordo, 2 a 3 vezes por semana.
O nosso último mito é o de que existem alimentos proibidos. Do ponto de vista nutricional, caso não exista nenhuma condição clínica com indicações específicas em contrário, uma alimentação saudável não pressupõe a exclusão de qualquer alimento. Mesmo quando ricos em gordura, açúcar ou sal, estes não necessitam de ser banidos por completo da nossa alimentação. Devem, no entanto, ser consumidos de uma forma equilibrada e consciente, como qualquer outro alimento.
A saúde é definida como uma situação de completo bem-estar físico, psíquico e social, e como tal, não deve ser reduzida apenas à questão alimentar. Há vida para além da comida, mas para manter a saúde e afastar o que lhe pode fazer mal, o melhor é consultar um especialista. E este conselho não é um mito.