Publicado em 1984 por William Gibson, “Neuromancer” é um livro de ficção científica que introduziu novos conceitos para a época, como inteligências artificiais avançadas e interfaces entre o cérebro humano e máquinas. A leitura sobre implantes neurais e microbiônica gerava curiosidade e medo ao mesmo tempo. Será que estaríamos vivos para ver algo, pelo menos, parecido?

Cientistas da Universidade da Califórnia apresentaram este ano um protótipo capaz de ler e descodificar a atividade cerebral de pessoas enquanto elas falam. Ou seja, estes podem ser usados para criar software que permita que pessoas controlem dispositivos, jogos e até se comunicarem com um processador de texto usando somente “o poder da mente”. Perto destas possibilidades, as interfaces de voz que surgiram recentemente vão parecer coisas de um passado distante.

Pesquisas nesta área já existem há, pelo menos, uma década e mais de 20 startups e vários grupos em universidades do mundo inteiro trabalham para desenvolver soluções. Um dos motivadores fundamentais deste trabalho é restaurar a função neurológica de pessoas com lesão medular, acidente vascular cerebral, lesão cerebral traumática ou outras doenças ou lesões do sistema nervoso. Outras aplicações desta tecnologia são o tratamento de depressão, esquizofrenia e da doença de Alzheimer.

O Facebook, por exemplo, tem um projeto de interface entre cérebro e máquina em andamento. A divisão Building 8 da empresa de redes sociais está a trabalhar para que seja possível que os usuários enviem mensagens do Facebook Messenger usando os seus pensamentos. A Microsoft, que sempre foi a empresa de interface com o usuário, recebeu patentes no ano passado por interfaces que usam a atividade cerebral para “alterar o estado de um computador ou de aplicações”. Coisas como diminuir o volume da música com base na atividade mental típica da irritação com o ruído alto ou até facilitar tarefas de alto nível em aplicações.

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A pesquisa de leitura da mente também está a progredir para a leitura de imagens. Um estudo recente da Universidade de Toronto Scarborough foi capaz de recriar rostos mostrados às pessoas com base na sua atividade
cerebral. A Neuralink, empresa que conta com Elon Musk como investidor, anunciou implantes de até três mil elétrodos no córtex de primatas por um robô cirurgião. Os elétrodos foram desenvolvidos pela própria empresa e são menores e de material menos danoso ao tecido cerebral. O objetivo inicial do projeto é possibilitar pessoas com dificuldade de locomoção a mover objetos através de interfaces cérebro-máquina. A empresa Paradromics de Austin está a trabalhar em implantes semelhantes com o mesmo objetivo, de acordo com a empresa, e está previsto começar os testes clínicos em 2022.

É normal ouvirmos falar que não usamos nem 10 por cento dos nossos cérebros. Mas parece que William Gibson estava certo: vamos tornar-nos super-humanos e utilizaremos os outros 90 por cento com a ajuda de máquinas.

*Gui Rios é sócio fundador da SA365, agência do grupo Elife 

Este texto insere-se na série de artigos de opinião denominada “Stranger Topics – Tendências para a década de 2020”, desenvolvida pela Elife – empresa pioneira em inteligência de mercado e gestão de relacionamento nas redes sociais. Cada texto é relativo a uma de oito tendências digitais que a empresa definiu, com base numa perspetiva otimista para a próxima década.