A compreensão pública das Ciências é essencial numa sociedade democrática. Porém, investigações realizadas em vários países revelam que o interesse dos alunos pelas Ciências diminui à medida que avançam na escolaridade, o que tem relação direta com o baixo número de discentes que prossegue cursos associados às Ciências e com a falta de literacia científica da população portuguesa. Ora, este assunto é da mais elementar importância, representa um dos maiores problemas do nosso sistema educativo e merece uma profunda reflexão! Em boa verdade, a Educação em Ciências deve ser seriamente repensada por nós, professores. Tal como o conhecido efeito Borboleta, algumas mudanças na forma como educamos causarão grande impacte no gosto dos alunos pelas Ciências e, consequentemente, na sua vida e na sociedade.

A Educação em Ciências deve ser encarada como uma parte essencial da educação global de qualquer indivíduo, tendo como fulcral objetivo formar cidadãos participantes, pensantes e esclarecidos, assentando em três grandes argumentos: utilitário, democrático e cultural. Ou seja, a escola deve preparar os alunos para que compreendam a aplicação das Ciências na resolução de problemas da sua vida quotidiana; proporcionar uma educação científica a todos os estudantes, assegurando uma sociedade mais democrática; incutir que as Ciências são uma expressão da nossa cultura, possibilitando que qualquer cidadão compreenda a função das Ciências na sociedade. Congruentemente, a instituição escolar é também responsável por formar cidadãos capazes de aprender ao longo da vida, para que se mantenham cientificamente atualizados e preparados para os grandes desafios do futuro.

Mas, qual é a nossa realidade educativa? Aquilo a que diariamente assistimos passa por alunos desinteressados, que não compreendem a ligação entre as Ciências e a sua aplicação na vida diária; professores sobrecarregados de trabalho burocrático, demasiado preocupados com o cumprimento de planificações, caindo no excesso de teoria; currículos obsoletos; metodologias e estratégias de ensino pouco eficazes; uma constante pressão para acompanhar as céleres mudanças; e, a tão conhecida falta de professores em alguns locais do país. Assim chega o desencanto dos estudantes pelas Ciências. Este é um problema da sociedade e não apenas das escolas!

Como reverter esta tendência? Que futuro queremos para os nossos alunos? É tempo de inspirar, despertar e cultivar o gosto dos alunos pelas Ciências. Portanto, somos nós, professores, aqueles que formamos todas as outras profissões, quem deve assumir uma atitude de mudança e de inovação. Acredito que há duas vertentes sobre as quais devemos operar em consonância para que as aprendizagens sejam significativas e para a vida. Por um lado, é da maior relevância que os professores implementem metodologias ativas de aprendizagem, metodologias orientadas para a investigação, entre as quais destaco a Rotação por Estações, o Método Jigsaw, o World Café e a Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas, bem como, explorem ferramentas e tecnologias digitais, de modo a que os alunos sejam ativos na construção do seu conhecimento. Isto é, recorrer ao pluralismo metodológico é fundamental! Devemos apostar em metodologias centradas na participação efetiva dos alunos, em que o analógico se interliga com o digital; espaços físicos agradáveis, flexíveis e inovadores, que têm enorme poder sobre as aprendizagens; dar primazia aos verbos inspirar, gostar, investigar, partilhar, criar, desenvolver, apresentar, interagir, possibilitando, por exemplo, a participação em concursos nacionais ou projetos europeus; permitir o acesso a ferramentas, tecnologias e recursos educativos digitais; possibilitar a cocriação, onde todos dialogam e participam no sentido de enriquecer os processos de ensino e aprendizagem. Estas metodologias diminuem a taxa de retenção, optimizam a compreensão dos conceitos e esvanecem as assimetrias sociais e económicas. Por outro lado, e intimamente relacionado com estas práticas pedagógicas, aparecem as questões afetivas e de bem-estar na escola. A neurociência refere que as capacidades cognitivas se vão formar sobre as capacidades afetivas, que a relação entre professor e aluno é o catalisador para a aprendizagem, que o bem-estar dos alunos na escola facilita a obtenção de melhores resultados e contribui para a sua assiduidade, tornando-se mais perseverantes e otimistas. Logo, os estudantes têm de atribuir sentido e emoção àquilo que aprendem!

Em conclusão, nós, educadores, devemos tentar a simbiose perfeita entre a pedagogia, a tecnologia e o espaço para uma educação de qualidade, que estimule o gosto dos alunos pelas Ciências, os inspire a seguir carreiras científicas e os ajude a compreender cientificamente fenómenos que os rodeiam.

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