A obesidade é uma doença complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar de ser amplamente reconhecida como um problema de saúde pública, ainda carrega um estigma significativo, com grande impacto, não apenas na saúde física, mas também na saúde mental e na condição social daqueles que vivem com obesidade. Entender e combater esse estigma é crucial para promover uma consciência social mais harmoniosa e inclusiva.

O estigma associado à obesidade manifesta-se de várias formas, desde subtis preconceitos até à discriminação declarada. As pessoas com obesidade enfrentam, frequentemente, julgamentos negativos, baseados em estereótipos de preguiça, desmotivação ou falta de autocontrolo. Esses estereótipos ignoram a complexidade da doença, que surge por uma combinação de fatores genéticos, metabólicos, ambientais, sociais e comportamentais. Esses preconceitos perpetuam e alimentam a culpa, a vergonha e a exclusão social. No emprego, as pessoas com obesidade são frequentemente preteridas em promoções ou oportunidades de emprego, devido à perceção de serem menos capazes, motivadas ou competentes. Na saúde, o estigma pode levar a piores tratamentos, visto que muitas das queixas e sintomas são atribuídos ao peso ou à presunção de adoção de estilos de vida não saudáveis.

Este conjunto de estigmas e preconceitos tem consequências inequívocas para os indivíduos doentes. Pode levar a sentimentos de culpa, de desvalorização e de baixa autoestima, culminando em ansiedade e depressão. Sentir-se constantemente julgado, criticado e discriminado pode levar a assumir também comportamentos prejudiciais à saúde, como evicção de atividade física ou adoção de dietas extremas não saudáveis. Todos estes fatores levam a isolamento social, o que agrava os desafios destes doentes, já que a convivência em sociedade é um fator crucial para o bem-estar geral.

Superar o estigma da obesidade exige uma mudança global na consciência social. É essencial reconhecer que a obesidade é uma doença complexa e não uma falha de carácter. As campanhas públicas devem focar-se na educação e literacia: é necessário desmistificar a obesidade, promovendo a empatia e o respeito pelas pessoas com obesidade, sem cair na romantização da obesidade ou na normalização do que constitui uma doença. A comunicação social desempenha aqui um papel fundamental, sendo importante quebrar a representação de estereótipos e promover a diversificação da imagem e das atividades das pessoas com obesidade.

Também nos cuidados de saúde é necessária uma abordagem mais moderna ao problema da obesidade, focando-se no seu tratamento integrado e abandonando-se os antigos chavões muitas vezes utilizados do “comer menos e correr mais”.

Enquanto doença complexa que é, a obesidade representa muito mais do que o peso numa balança e resulta da interação de inúmeros fatores, não sendo resultado exclusivo de escolhas individuais. É, pois, necessário e urgente promover uma consciência social que valorize o respeito, a empatia e a compreensão sobre a complexidade desta doença. A comunidade médica e a sociedade, em geral, precisam de compreender que esta doença tem tratamentos eficazes (médicos e cirúrgicos) e que devem ser utilizados, de acordo com a melhor evidência científica e livre de julgamentos morais. Só assim, poderemos passar do estigma ao apoio social necessário para combater este flagelo das sociedades modernas e melhorar a saúde da nossa população que tanto sofre, muitas vezes em absoluto silêncio, com esta que é a grande epidemia do século XXI.

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