Há um ano, a Liga Portugal alertava para as grandes assimetrias entre os orçamentos das equipas profissionais portuguesas, para a falta de competitividade interna e externa, para um modelo de negócio cansado e incapaz de suportar economicamente alterações estruturais.

Pressionava aqui e ali, junto da FPF (que acabou por desenvolver um estudo estruturante com a McKinsey) e do Governo (que parou para pensar no modelo de centralização dos direitos audiovisuais), reclamou um tratamento diferente, alertando que contribui para o PIB nacional com 0,27%, mais de dois mil postos de trabalho e pagando impostos de 150 milhões de euros (34 empresas/sociedades desportivas). Pedia apoio para um processo urgente de internacionalização e reclamava que as PME do sector tivessem o mesmo tratamento que as demais, solicitava alterações urgentes na lei dos seguros, ajustamento de impostos, uma mão mais pesada contra a violência, entre outros pontos fundamentais. Promovia, e continuará sempre a promover, um Futebol Positivo, garantindo que os líderes deste sector compreendem o impacto que a “espuma política” do mesmo têm de negativo junto de patrocinadores, Governo e público em geral.

De repente, perante uma terceira guerra mundial, agora contra um vírus, ficamos petrificados sobre que futuro esperar! As receitas a diminuir, por todas as vias – os patrocinadores afetados drasticamente por uma crise rápida e sem dimensão conhecida, incerteza sobre o futuro, os ativos (jogadores) a desvalorizar, impedidos de colocar público livremente nas bancadas e com o mercado de transferências abalado mundialmente, principalmente nas principais 5 ligas europeias.

A nossa única tábua de salvação, como sector, passa a ser o valor recebido pelos direitos televisivos e agarramo-nos a uma das únicas certezas que temos: os jogos não podem parar, o calendário (muito complicado com menos dois meses) tem de ser cumprido. Temos que garantir que protegemos a indústria criando regras que nos permitam manter os riscos de segurança higiénica baixos.

Olhemos para números, considerando estimativas e esperando pelo melhor. Num sector em que os rendimentos totais são de 858 milhões euros, poderemos ter uma quebra de 115,5 milhões de euros por não ser possível público nos dias de jogos (bilhética, corporate, comercial, merchandising e quotas). Se não conseguirmos terminar o campeonato, o dano total poderá ascender a 350 milhões de euros. Não contabilizando nenhuma quebra dos valores de transferências anuais de jogadores, que rondam estatisticamente entre os 250 a 300 milhões de euros por ano. Este cenário de fatalidade implicaria um valor de receitas médio, por clube, de 6 milhões de euros versus os “normais” 25 milhões de euros, ou seja, o fim do sector como o conhecemos.

Uma coisa é certa, preocupemo-nos agora com a sobrevivência do sector a curto prazo e em garantir que todas as empresas cumpram os pressupostos financeiros para se manterem nas competições, mas sejamos claros sobre as mudanças estruturais que serão necessárias fazer para o sector sobreviver a longo prazo.

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