Babygrows que mudam de cor se o bebé tiver febre? Cortinados que acumulam energia solar durante o dia e à noite iluminam a sala? Fatos que viajam amarrotados e que, mal os tiramos da mala, ficam imediatamente com aspecto de terem sido passados a ferro? Camisas que eliminam o odor a suor e as nódoas? Não, não são adereços para uma série de ficção científica ou para o próximo 007, mas sim algumas das muitas novidades – e nem sequer as mais sofisticadas – que a indústria têxtil e de vestuário portuguesa tem inventado para nos facilitar a vida.
Após um ano em que bateu todos os recordes de exportação e inverteu a curva de quebra de emprego, antecipando em quatro anos as metas mais optimistas quantificadas para 2020, a têxtil portuguesa achou chegada a hora de partilhar um segredo bem guardado, que apenas estava na posse de um punhado de iniciados: os compradores das melhores marcas mundiais de vestuário. Durante anos a fio, os empresários e trabalhadores portugueses fizeram orelhas moucas aos governantes que administraram a extrema unção ao sector têxtil, aos banqueiros que lhe passaram certidão de óbitos, aos analistas míopes que viam Portugal como um país de serviços e a China como fábrica do mundo.
Durante a duríssima implementação do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), a fileira têxtil portuguesa recusou-se a aceitar a sentença de morte, resistiu ao apelo de desindustrialização, ousou investir, reinventar-se, apostar no design e na flexibilidade, trocar a competição pelo preço pela competitividade assente no valor. Soube descobrir caminhos alternativos baseados em combinações únicas entre artesanato e indústria, tradição e modernidade. E, contra todas as expectativas, foram bem-sucedidos. Aliás, fomos todos. Em 2016, o sector registou 5 anos de crescimento ininterrupto ao nível de volume de negócios e exportações (5.063 milhões de euros em exportações, um crescimento de 5% face a 2015). Olhando ainda para as exportações de 2016, os produtos que registaram maior crescimento (em termos absolutos) foram o vestuário e os acessórios de malha (acréscimo de 227 milhões de euros; taxa de crescimento de 12%), as matérias-primas de algodão, incluindo fios e tecidos (acréscimo de 27 milhões de euros; taxa de crescimento de 19%) e os tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados e artigos para usos técnicos de matérias têxteis (acréscimo de 21 milhões de euros; taxa de crescimento de 10%).
Hoje, em Bruxelas, foram estes os dados que foram apresentados aos parceiros pela Associação de Têxteis de Portugal (ATP). Hoje, Portugal veio até ao coração de Europa partilhar algum do conhecimento de experiência feito que acumulamos neste caminho. No fundo, faire savoir que o savoir faire é uma das mais intangíveis riquezas do nosso Velho Continente (e é criminoso desperdiçá-lo). Que indústria é sinónimo de emprego e sustentabilidade. Que tradição rima com inovação. Hoje, em Bruxelas, fomos motivo de inveja. Sabe bem.