Instinto. Dizem que é nosso amigo em situações de aperto onde é urgente tomar uma decisão. Há sempre, contudo, uma escolha ser feita: confia-se na cabeça ou nas tais coisas que o instinto nos aconselha? Se estiver de barriga vazia, opte pela segunda hipótese. Pelo menos é esse o caminho que um estudo da Universidade de Utrecht, na Holanda, começou a desbravar — pessoas com fome tomam melhores decisões.
Para chegar a esta conclusão foi preciso realizar experiências, como sempre. Em suma, o que estes testes fizeram foi auferir a capacidade das pessoas em avaliar os efeitos a longo e curto-prazo de uma decisão que viessem a tomar. Como? Vamos a isso. Primeiro, Denise de Ridder, investigadora que coordenou o estudo, pegou em 30 participantes e dividiu-os em dois grupos. A todos pediu que permanecessem em jejum desde 23h até às 8h30 ou 9h15 do dia seguinte, conforme o grupo em que estivessem inseridos.
A um aglomerado serviu-se o pequeno-almoço antes de a experiência arrancar. Ao outro não. O teste, refira-se, “tinha alguma semelhança com as dificuldades de tomar uma decisão na vida real”, explicou a investigadora, citada pela Pacific Standard, uma revista científica norte-americana. A todos os elementos de cada grupo deram-se quatro baralhos de cartas, e foi-lhes dito que receberiam diferentes recompensas pelas cartas que retirassem de cada baralho — 100 euros por uma carta do baralho A ou B, e 50 euros por cada extraída do C ou D.
Havia um se não: cada baralho tinha igualmente cartas que, se retiradas, obrigariam a pessoa a perder determinadas quantias de dinheiro. E essas verbas eram sempre superiores nos baralhos A e B. Ou seja, no conjunto em que cada carta valia uma centena de euros. “Isto significava que os baralhos A e B eram desvantajosos no longo-prazo, enquanto o C e D o eram vantajosos”, resumiu Denise de Ridder. Os participantes que estavam jejum, verificou-se, “escolheram mais cartas dos baralhos mais vantajosos”.
Uma outra experiência — realizaram-se quatro, no total — colocou apenas uma questão às pessoas: “Preferia receber 27 euros agora, ou 50 euros ao longo de 21 dias?” Aqui, de novo, viram-se mais respostas a caírem na segunda opção vindas de pessoas que estavam de barriga vazia. “A fome promoveu, ao invés de diminuir, a tomada de decisão complexa”, concluiu a investigadora da Universidade de Utrecht. “Os participantes em jejum conseguiram resistir a escolhas hipotéticas que traziam recompensas imediatas, mas que, em última análise, eram desvantajosas”, acrescentou.
Estas conclusões, porém, não significam que uma pessoa seja mais impulsiva quando sente a barriga a dar horas. “Mostram é que, nessas situações, os indivíduos confiam mais no instinto, o que pode ser benéfico em decisões complexas que resultem em desfechos incertos”, argumentou Denise de Ridder. Por isso já sabe: da próxima vez que estiver esfomeado e com uma decisão por tomar, confie no que o instinto lhe disser.