O Governo português considera que o parecer científico sobre a apanha de sardinha que propõe uma redução da captura em 2016 “tem um problema subjacente de metodologia” e “levanta as maiores dúvidas”.
Em declarações à agência Lusa em Madrid, onde participou numa reunião com homólogos de Espanha, França e Itália para debater os problemas do setor do leite, Assunção Cristas disse que Portugal pediu ao governo espanhol para fazer um ponto de situação sobre a sardinha.
Espanha e Portugal acordaram que o limite conjunto de apanha de sardinha este ano seria de 19 mil toneladas. No entanto, a quota sugerida pelo Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES) para 2016 é de 1.587 toneladas, menos de 10% do limite de 2015.
Os pescadores portugueses – que já chegaram ao seu limite para este ano – contestam precisamente esta proposta do ICES para 2016. Apesar de não ter um caráter obrigatório, o parecer do ICES é em geral adotado por Portugal e Espanha, uma vez que a consequência é a União Europeia passar a gerir o ‘stock’ de sardinha ibérica.
“Antes desta reunião do leite, e a pedido de Portugal, fizemos um ponto de situação da pesca da sardinha em Portugal e Espanha, com a ministra espanhola [Isabel Tejerina]. Ficamos com os dados atualizados da pescaria de sardinha do lado espanhol: neste momento Espanha pescou cerca de metade daquilo que se prevê que possa vir a pescar”, disse Assunção Cristas.
Espanha, acrescentou, também “está atenta aos pareceres científicos” do ICES.
“Discutimos o último parecer do ICES, que nos parece ter ali algum problema de erro subjacente na metodologia. O que vamos fazer em conjunto é trabalhar, no sentido de partilhar os melhores dados científicos que existem em Portugal e Espanha e conferir com o ICES os dados que eles dispõem”, sublinhou.
O plano de captura de sardinha acordado entre Espanha e Portugal termina este ano, pelo que será “preciso trabalhar um novo”. “Estamos concertados, quer na gestão atual da pescaria, quer no trabalho para o próximo ano”, salientou.
“Continuaremos com uma preocupação de sustentabilidade das pescas, para garantir que os nossos pescadores poderão no futuro continuar a pescar”, acrescentou a ministra portuguesa.
Questionada sobre se a quota prevista pelo ICES, de 1.587 toneladas para 2016, está, assim, posta de parte, devido a erros, a ministra disse apenas que “é preciso perceber bem o que está por detrás daquele valor”.
“Temos as maiores dúvidas e alertámos Espanha para essas dúvidas. Espanha ficou de ver e questionar também o ICES sobre essa matéria e combinámos partilhar os melhores dados científicos de um lado e do outro, para que possamos construir informação sólida para sustentar um plano [de apanha] futuro”, concluiu.
Na quarta-feira, o porta-voz da Associação de Armadores de Cerca da Galiza juntou-se às críticas dos pescadores portugueses sobre o ICES, afirmando que o limite para 2016 acabaria com a pesca nos dois países.
“Para ter este limite, mais vale os dois governos acabarem com as frotas de pesca de Espanha e Portugal”, disse à agência Lusa Andrés García.