Uma possível recessão global nos próximos anos poderá revelar-se catastrófica para a economia global, mais até do que a Grande Recessão de 2008. O alerta é de William White, um dos mais reputados economistas do mundo, que falou com o The Telegraph à margem da conferência de líderes no Fórum Económico Mundial de Davos, Suíça. Na perspetiva de White, o sistema financeiro mundial tornou-se perigosamente instável e existe o risco de se gerar uma avalancha de falências por todo o mundo.

“A situação é pior do que era em 2007. As nossas munições para compensar momentos piores já foram, praticamente, todas gastas”, afirmou William White, que foi economista-chefe do Banco de Pagamentos Internacionais (BIS) e agora é presidente do Comité de Avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

As dívidas continuaram a acumular-se nos últimos oito anos e chegaram a níveis tais, em todos os cantos do mundo, que se tornaram uma potente causa para sarilhos. Na próxima recessão irá tornar-se óbvio que muitas destas dívidas nunca serão reembolsadas – e isso será algo desconfortável para muitas pessoas que pensam que são donas de ativos que valem alguma coisa.

William White diz que o grande desafio para os responsáveis políticos é gerir os processos de anulação de dívidas sem que isso desencadeie uma “tempestade política”, afirma o cronista Ambrose Evans-Pritchard, do The Telegraph.

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Europa particularmente vulnerável

O problema do excesso de dívida percorre todos os grandes blocos mundiais, desde os EUA até aos emergentes e à China. Mas a Europa está particularmente vulnerável, diz William White, porque apesar de os bancos europeus já terem reconhecido algo como um bilião de euros em imparidades de crédito, o problema está longe de ter ficado por aqui.

A confirmar-se esse receio do economista, os bancos europeus terão de ser recapitalizados a uma escala nunca dantes vista – e há que ter em consideração que as novas regras europeias pressupõem que antes de os contribuintes entrarem em cena será necessário impor perdas a credores e depositantes com mais de 100 mil euros.

Tanto a Europa como os EUA estão vulneráveis devido à dívida elevada. E, aí, há dois fatores preocupantes: por um lado, restam menos instrumentos de estímulo monetário no arsenal dos bancos centrais e, por outro, as economias emergentes – que foram um escape durante a crise da década passada – “agora são, também elas, parte do problema”.

Previsões pessimistas como as de William White parecem estar a ter repercussão nos mercados financeiros, com as ações europeias a caírem para mínimos de mais de um ano esta quarta-feira.