O World Press Cartoon (WPC), salão português de desenho de humor na imprensa, não se realiza em 2016 devido à falta de “condições financeiras”, anunciou esta segunda-feira o cartoonista António, organizador do evento, que mudou de Sintra para Cascais.

Segundo disse António Antunes à Lusa, a decisão de não se realizar a edição do World Press Cartoon, “em relação a 2016, é definitiva”, devido à demora na angariação de patrocínios.

“Ao contrário de Sintra, em que havia um orçamento que financiava a grande maioria do evento, o acordo com a Câmara de Cascais foi distinto”, explicou o cartoonista, acrescentando que a autarquia apoia o evento financeiramente e através de patrocinadores “em regime de ‘outsourcing'”.

O organizador do WPC referiu que “a câmara suporta algumas coisas e, em relação a outras, conseguiu e indicou alguns apoios privados empresariais”, mas este ano os patrocinadores tardaram, levando a autarquia a protelar, “porque os esforços só fazem sentido em conjunto”.

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“O exercício da câmara foi sempre tentar pagar o menos possível, o que é perfeitamente legítimo, só que as coisas correram mal, o tempo foi passando”, notou António Antunes, condicionado por cada edição do WPC ser referente aos ‘cartoons’ publicados no ano anterior.

“Há uma fronteira que nunca se deve passar que é o meio do ano [seguinte], por causa da memória do público”, frisou.

Uma nota publicada no ‘site” do WPC lamenta que, “infelizmente, foi sendo sucessivamente protelada pelo nosso patrocinador principal uma decisão definitiva que nos permitisse lançar o pedido de candidaturas em tempo útil”.

“Aqui chegados, resta-nos constatar que não há condições financeiras de suporte que nos permitam realizar o salão no ano em curso, dentro dos padrões de rigor e qualidade que sempre caracterizaram o World Press Cartoon”, anunciou António Antunes.

A organização “desenvolveu esforços, até ao fim do primeiro semestre de 2016, com vista a desbloquear o financiamento para a realização da XII edição” do WPC, depois de ter celebrado com a Câmara de Cascais um acordo para duas edições do salão, tendo-se realizado em 2015 “na data e condições previstas”.

“Será portanto, desde 2005, a primeira vez que a comunidade mundial dos cartoonistas não conta com este ponto de encontro privilegiado”, salientou António.

Para o cartoonista português, a história do World Press Cartoon é garante do empenhamento na defesa dos valores “em torno da liberdade de imprensa e da promoção do ‘cartoon’ como género indispensável num jornalismo de referência”.

Nesse sentido, prometeu “desenvolver esforços para assegurar que se reúnam as condições mínimas necessárias para a realização do World Press Cartoon em 2017”.

“Estamos a conversar. Em relação a 2017, temos algum tempo para tomar decisões e vamos ter que as tomar”, disse à Lusa o “pai” do WPC, admitindo que, apesar da frustração pela paragem, “um salão que foi considerado o melhor do mundo nesta área não devia acabar”.

O reputado cartoonista sublinhou que, com a crise, os prémios foram reduzidos, mas ainda assim, na edição de 2015, representaram um total de 25 mil euros, dos quais 10 mil para o primeiro premiado.

Da parceria com a Câmara de Cascais, iniciada em 2014, quando o WPC se mudou de Sintra, após o município ter decidido não financiar o evento como até aí, António Antunes reconheceu que “havia um projeto interessante”, mas não sabe “se alguma vez vai ver a luz do dia”, para ampliação do “espaço claramente insuficiente” na Cidadela de Cascais.

Numa nota enviada à Lusa, a autarquia de Cascais sublinhou que “resgatou o World Press Cartoon e investiu num espaço museológico permanente dedicado a esta expressão artística – o Museu do Cartoon, no Cidadela Art District”.

A autarquia presidida por Carlos Carreiras reafirmou “o seu compromisso e vontade de realizar, anualmente, o WPC em parceria com o cartoonista António e de manter em Cascais o melhor e mais entusiasmante espaço dedicado ao ‘cartoon'”.

“Não é por falta de vontade ou compromisso” da Câmara de Cascais que o WPC deixará de se realizar, reforça a nota da câmara.

Uma fonte oficial da autarquia assegurou que esta “é parceira institucional do WPC”, assumindo diversos custos com deslocações do júri internacional, a exposição e a “gala”, mas que não tem qualquer obrigação contratual para angariar patrocinadores, o que competirá à organização do salão.