Investigadores do iMM de Lisboa descobriram que um composto químico a ser testado no tratamento de um determinado cancro pode ser igualmente eficaz no combate contra um outro cancro, uma leucemia frequente em crianças. O composto, com a designação técnica de CX-4945, está a ser testado, em ensaios clínicos, no tratamento do mieloma múltiplo (cancro da medula óssea).
A equipa liderada pelo cientista Bruno Silva-Santos descobriu que o uso deste composto pode ser eficaz no tratamento da leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T, um cancro do sangue agressivo e frequente em crianças. Os linfócitos T são um grupo de glóbulos brancos, células do sangue responsáveis pela defesa do organismo contra agentes agressores. No caso da leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T, os linfócitos T geram, eles próprios, cancro.
O CX-4945 compromete o funcionamento de uma proteína-cinase, a CK2, que, segundo Bruno Silva-Santos, é um “determinante fulcral” para a sobrevivência dos linfócitos T. Na leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T, estas células, em particular um subtipo, as gama-delta, estão “muito dependentes” da proteína CK2.
O que o composto CX-4945 faz é matar os linfócitos T saudáveis, ao impedir o funcionamento da CK2, mas também os ‘maus’, os que geram a doença. Nesse sentido, o CX-4945 pode “ser muito útil para as leucemias das crianças”, sustentou à Lusa Bruno Silva-Santos, assinalando que a molécula pode ser um alvo “potencial para uma nova terapia” contra a leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T.
O composto químico foi testado, no estudo, em amostras de células de crianças com leucemia linfoblástica aguda de linfócitos T e em células saudáveis do timo (glândula localizada por cima do coração e responsável pela produção de linfócitos T) – estas últimas também de crianças, que tiveram de ser operadas ao coração e às quais foi retirada parte do timo.
Posteriormente, o CX-4945 foi injetado num ratinho com o mesmo tipo de leucemia, tendo o grupo de cientistas conseguido “impedir o crescimento” da doença. O estudo, no qual participou a equipa do investigador do iMM João Taborda Barata, é publicado hoje na revista científica Leukemia.