A Uber tem por hábito dirigir-se aos seus condutores, aqueles a quem se refere como parceiros ou contratados, e não como empregados, o que já lhe valeu alguns dissabores em tribunal. A surpresa desta vez, tem a ver com o alvo do comunicado da empresa, pois a atenção não recaiu sobre quem conduz os veículos, mas sim sobre quem os utiliza como clientes.

A empresa americana, que tem Travis Kalanick como CEO, sempre promoveu os seus serviços como uma forma de “aproximar as pessoas de uma forma social e divertida”, mas parece estar agora convencida que, muito provavelmente, houve clientes que levaram esta mensagem muito à letra e começaram a divertir-se ou a aproximar-se em excesso. E daí que tenham sentido necessidade de quebrar o ambiente cool e muito à frente que sempre pautou a sua comunicação e a relação com os seus utilizadores, recordando-lhes que “não se deve ter sexo durante as deslocações nos seus automóveis”.

E as linhas-mestras do comportamento que pretendem a bordo são ainda mais específicas, informando por um lado que “não deve existir qualquer actividade sexual com os condutores ou outros passageiros”, reforçando a ideia com um definitivo “de forma alguma”. Os clientes são aconselhados de forma clara a “não tecer comentários sobre o aspecto dos passageiros ou condutores, nem inquirir se são solteiros ou casados”, se bem que não proíbam as conversas entre as pessoas que partilham o Uber, contando que se limitem, muito provavelmente, ao futebol, ao tempo ou à cotação da bolsa. Tudo o resto corre o risco de ser visto como desapropriado.

Depois de vários casos de assédio sexual e de violação, que levou por exemplo um condutor a ser preso na Georgia, pela violação de uma mulher que requereu o serviço, enquanto outro motorista foi acusado do mesmo tipo de abuso sobre uma jovem de 17 anos na Califórnia, que estava inconsciente a bordo do seu Uber, a companhia está apostada em limitar este tipo de casos que, além dos danos de imagem, motivam indemnizações chorudas. Um dos mais recentes exemplos deste tipo foi o processo que a Uber perdeu num tribunal federal no mês passado, em que uma cliente do sexo feminino responsabilizou a empresa pelas acções criminosas de cariz sexual dos seus motoristas, que apesar que serem considerados contratados, o juiz determinou que eram empregados no que dizia respeito à responsabilidade criminal. E se tem dúvidas sobre o número de casos em que os clientes da Uber são vítimas de abuso ou de assédio sexual, mulheres e homens, nada melhor do que investir um pouco do seu tempo e visitar este site.

A empresa americana oferece várias formas de transporte de clientes, desde os UberX e UberBlack, disponíveis em Portugal, até ao UberPool, que visa a partilha do transporte e dos custos, e o ride-hailing, em que o cliente manda parar um veículo ao serviço da Uber, solicitando depois que o leve ao seu destino, como se se tratasse de um táxi, sendo que estes dois últimos tipos de serviços não estão disponíveis entre nós.

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