A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou este domingo o “vergonhosamente baixo” orçamento para a área da cultura do atual Orçamento do Estado, sublinhando que é “igual, se não pior, aos orçamentos para a cultura do tempo do PSD/CDS”.
“O Orçamento do Estado para a cultura não só é vergonhosamente baixo e igual, se não pior, aos orçamentos para a Cultura do tempo do PSD/CDS, como não se regista nenhuma evolução, nem no que diz respeito à forma como se encaram os equipamentos públicos de cultura, nem o tecido profissional da cultura, nem mesmo a saudável, democrática e transparente forma de se poder distribuir os poucos e escassos meios que existem para a cultura”, afirmou a líder bloquista, Catarina Martins, no encerramento da sessão pública “Viver a Cidade — o que fazer com a Cultura?”, organizada no Porto pelo BE.
Assegurando que “para o BE a política cultural não está esquecida”, Catarina Martins garantiu que o Bloco fará “tudo, não apenas do ponto de vista da disputa local nas eleições autárquicas, mas também no debate no Parlamento, para que a cultura não fique de fora e possa ter, pelo menos, um orçamento um pouco mais decente”.
Para Catarina Martins, “é um problema” para Portugal “que a cultura continue de fora do acordo para parar o empobrecimento do país” e esquecida nas políticas públicas.
A este propósito, a coordenadora bloquista criticou a líder do CDS-PP, Assunção Cristas – que é candidata à Câmara de Lisboa e apoiante de Rui Moreira no Porto – por “recentemente, ao olhar “para uns terrenos onde se pode construir”, ter tido a “ideia fantástica” de sugerir que nessa construção houvesse “apartamentos para arrendar com rendas entre os 500 e os 1.300 euros”, que considerou um preço “já adequado” por se tratar de “uma zona servida de transportes públicos e serviços públicos”.
Comentando que “a renda mais baixa para um T0 já começava acima do salário mínimo líquido”, pelo que “um T2 custará certamente mais do que é o salário médio líquido em Portugal”, a líder do BE criticou que “para a direita” seja “normal que quem trabalha a tempo inteiro e recebe o salário médio não possa viver nos sítios das cidades onde há transportes e serviços públicos”.
“Onde pode então viver quem faz este país”, questionou, defendendo a “responsabilidade das políticas públicas centrais e locais” no assegurar de “rendas controladas que respondam ao que as pessoas possam efetivamente pagar tendo em conta os seus salários”, em oposição a “esta ideia de que só têm acesso às cidades os privilegiados”.
E, sustentou, se a proposta de Assunção Cristas “de que rendas razoáveis é entre 500 e 1.300 euros” prova que “a direita que aumentou o preço das rendas no país será incapaz de dar uma resposta pelo direito das pessoas, da mesma forma também o Partido Socialista não [o] é, como se vê com Medina em Lisboa ou com o apoio a Rui Moreira no Porto”.
Sustentando que “a conquista do direito à cidade é feita à esquerda”, a líder do Bloco defendeu que “o direito à cidade e à habitação depende, em grande medida, da força que o BE possa ter nas próximas eleições autárquicas”.
Também presente no encerramento da sessão pública, o candidato bloquista à Câmara do Porto nas autárquicas do próximo outono, João Semedo, criticou a atual “política espetáculo, da fantasia e da ilusão”, ironizando que se “há uns anos” o então autarca do Porto Rui Rio responderia à questão “o que fazer com a cultura tirando do bolso uma máquina calculadora”, o atual presidente da Câmara, Rui Moreira, “tirava uma ‘selfie'”.
Afirmando que a sua candidatura convidará “a ver para além da cortina da ilusão”, Semedo criticou a pressão gerada pelo crescimento do turismo no Porto, considerando que mais do que uma “economia que beneficia a cidade”, é “um negócio que beneficia alguns”.
Na sua intervenção, o ex-coordenador do BE considerou “estranho” que CDS-PP e PS apoiem o mesmo candidato à Câmara do Porto — o independente Rui Moreira — e assegurou que a sua candidatura assentará numa “proposta e num projeto socialistas” que pretendem mobilizar “os socialistas e a esquerda”.