A Seleção feminina partia com as seguintes possibilidades de chegar aos quartos-de-final na última jornada da fase de grupos do Campeonato da Europa: ganhar à Inglaterra caso a Espanha não vencesse a Escócia; ganhar à Inglaterra por três golos de diferença (ou dois, caso não ficasse 2-0); ganhar à Inglaterra por 2-0 caso a Espanha vencesse apenas por 1-0; empatar com a Inglaterra e a Espanha perder. Estes eram os cenários. E por muito patriotas que pudéssemos ser, todos pensávamos sem dizer o que ia acontecer. Ou o que não ia acontecer.

Começou o jogo e, afinal, havia uma outra possibilidade que não estava consagrada: fazer a melhor exibição na prova, equilibrar por completo o encontro, voltar a marcar, andar de cabeça erguida. Foi essa que se verificou. Porque ninguém, a não ser 23 jogadoras, uma equipa técnica e todo o staff, acreditava que Portugal conseguisse fugir ao destino de somar três derrotas em ano de estreia no Europeu. Não foi isso que aconteceu, longe disso. E ao intervalo da última jornada a Seleção estava virtualmente qualificada para a fase seguinte.

E as coisas nem começaram da melhor forma: no primeiro remate de ambas as equipas, Toni Duggan aproveitou um erro crasso de Patrícia Morais na reposição de bola com os pés e fez um chapéu à guarda-redes nacional para uma baliza que estava deserta. A Inglaterra, que alinhava com muitas segundas linhas mas que nem por isso deixava de ser superior às comandadas de Francisco Neto, estava em vantagem sem nada fazer para isso.

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No entanto, confirmou-se que o triunfo por 2-1 frente à Escócia teve o condão de soltar as jogadoras portuguesas, que perderam a vergonha de jogar o que podem e sabem (algo que não aconteceu contra a Espanha) e conseguiram mesmo restabelecer o empate também no primeiro disparo à baliza de Chamberlain, aos 17′. Na parte final do lance, quando o corte da defesa inglesa saiu direitinho para novo cruzamento de Diana Silva para o toque certeiro de Carolina Mendes, houve um pouco de sorte. Mas a sorte tinha sido conquistada com uma jogada de grande qualidade antes, com um fantástico passe de rutura de Carolina Neto.

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As mesmas protagonistas tiraram a mesma jogada a papel químico aos 22′, mas desta feita Carolina Mendes chegou um pouco atrasada. Mantinha-se o empate. Olhávamos para as cábulas e percebíamos que faltava um golo da Escócia frente à Espanha. E apareceu mesmo, a três minutos do intervalo. Não só Portugal jogava taco-a-taco com Inglaterra, uma das favoritas a ganhar ao Europeu, como estava virtualmente qualificado para os quartos-de-final. E fez-se a festa via telemóvel, no banco de suplentes (disfarçada) e na bancada (mais exuberante).

Foi bom, enquanto durou: logo aos 48′, Nikita Parris teve uma autêntica cavalgada rumo à área a ultrapassar defesas nacionais e conseguiu colocar as britânicas de novo na frente. Durante seis minutos (mais os 15 do intervalo, vá), Portugal esteve na fase seguinte; a partir daí, e continuando a contar com a “ajuda” escocesa, tinha 42 minutos para voltar a tentar marcar, empatar a partida e fazer (ainda) mais história. Todavia, Inglaterra aprendeu com os erros do primeiro tempo, deixou de dar as costas da defesa para a velocidade de Diana Silva e travou as transições nacionais.

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Dolores Silva, num livre direto, atirou perto do poste aos 70′. Foi a melhor oportunidade, ou a única, até esse momento. A Seleção tentou, mas muitas vezes as pernas já não respondiam ao que a cabeça pensava. E Laura Luís, a 30 segundos do final do tempo de compensação, atirou à figura de Chamberlain.

A equipa de Portugal perdeu com a Inglaterra por 2-1 e foi mesmo eliminada do Campeonato da Europa, depois de ter estado virtualmente qualificada durante seis minutos face ao resultado da Espanha com a Escócia (e as espanholas acabaram mesmo por perder de forma surpreendente).

“Foram um orgulho, todas. Não merecíamos. Fomos melhores, somos muito melhor equipa e vamos crescer ainda mais. Vamos ficar mais fortes e vamos regressar mais fortes, que ninguém se esqueça disso. Muito bem, muito bem. As que jogaram e as que não jogaram. Tivemos atitude, fomos coletivos. Isto é uma equipa”, atirou no centro do relvado o selecionador Francisco Neto, quando todas as jogadoras estavam juntas fazendo um círculo. A seguir, abraçaram-se e gritaram “Portugal, Portugal, Portugal”. E foram agradecer ao público presente, português ou não.

Neste caso, não se trata de uma vitória moral, esse bem que vem por mal e que é a maior contradição do futebol quando começamos a cruzar comentários. Mas saibamos reconhecer as diferenças que estavam em jogo. Portugal evoluiu muito nos últimos anos mas ainda está a anos-luz das maiores seleções europeias e mundiais. Contas feitas, elas foram grandes, muito grandes. E ficaram a um golo de ser enormes.