O tema da inovação na escola e pela escola trata de questões como a criatividade, a imaginação, o impacto das novas tecnologias e como elas ajudam a mudar a escola, o paradigma do ensino, os processos de aprendizagem e o modo como estas mudanças fascinantes podem ser integradas num novo quadro mental, tanto dos professores como dos alunos, de forma a explorar novas formas de pensar.
A importância da inovação na construção desta nova mentalidade e novo paradigma, e como eles podem contribuir para a formação integral das crianças e dos jovens, é também uma etapa importante a ser analisada. Em relação com tudo isto terão de ser exploradas novas formas de pensar e de abordar a realidade inspiradas pelas dinâmicas da inovação e, ao mesmo tempo, mantendo os estudantes atentos às questões éticas e ao esforço por colocar a tecnologia e a inovação ao serviço da sociedade e das comunidades assegurando o bem-estar dos cidadãos e não promovendo uma deriva tecnocrática, afastada dos valores básicos da civilização.
A inovação é geralmente entendida como um fenómeno do domínio tecnológico, mas ela está presente em todas as formas de comportamento humano e é importante não só para todos os setores da economia como para todos os aspetos da vida social e cultural.
A inovação conduz, naturalmente, à criação de novos produtos, processos e modelos de gestão, mas também promove o alargamento do nosso entendimento da condição humana aprofundando os nossos conhecimentos sobre os sistemas culturais e o quadro de valores que nos rodeiam, ajudando-nos a perceber quem somos como pessoas e como sociedades. Trata-se de um conceito que, de uma forma ou outra, perdura há milénios.
As artes, que se manifestam através de múltiplas expressões da criatividade humana e da imaginação estão, simultaneamente, na génese e na fronteira da inovação.
Elas permitem-nos desenvolver a capacidade necessária para refletir, apreciar, julgar, compreender e ainda para reforçar a nossa autonomia e responsabilidade para escolhermos por nós como enfrentar um dado problema. E estes são aspetos que devem ser desenvolvidos precocemente.
Os recentes desenvolvimentos das neurociências têm mostrado como os sentidos são formas de conhecimento ou de compreensão tão poderosos como a razão pura pode ser. E as próprias emoções são agora vistas como reforço das nossas capacidades para o pensamento construtivo. Por isso, a emoção tem sido considerada como um princípio central de organização da vida das pessoas e das organizações, não se entendendo já a inteligência sem nela incluir as emoções.
Por isso, as mudanças na natureza do trabalho têm conduzido à valorização de competências sociais e emocionais, não cognitivas, em paralelo com o desenvolvimento de ideias criativas, de pensamento colaborativo e de soluções inovadoras para problemas complexos. Estas são qualificações aperfeiçoadas e desenvolvidas através da educação artística o que a coloca na linha da frente da inovação, em paralelo com as ciências e as tecnologias.
Torna-se, assim, necessário que a escola valorize a educação artística concedendo-lhe a dignidade formativa e a identidade própria que o seu papel na formação integral das crianças e dos jovens justifica.
Por sua vez, as mudanças tecnológicas impõem ligações fortes e mais continuadas com o sistema educativo, de forma a adaptar as metodologias de ensino e aprendizagem, a garantir as qualificações que os estudantes necessitam no futuro e a abrir a sala de aula a matérias que respondem a novas necessidades da sociedade e da economia. Nos dias de hoje, a mudança tecnológica está a acontecer de forma dez vezes mais rápida e 300 vezes mais ampla do que no período da revolução industrial. As novas tecnologias emergentes como a inteligência artificial, a robótica, a automação, “big data”, “machine learning”, a impressão 3D, a internet das coisas, os carros autónomos, estão a mudar e mudarão o mundo.
Onde alguns veem o perigo, outros veem oportunidades. Isto é especialmente verdade para a educação e para os desafios colocados em termos de aprendizagem e de como aprender.
O impacto da inovação e da mudança tecnológica nas políticas públicas da educação é enorme e conceitos como aprendizagem flexível estão a emergir com a utilização de software que desenha cursos para cada estudante incluindo a apresentação de conceitos que procuram ajudar o estudante a encontrar formas mais fáceis de compreender. Estas são matérias que estão a suscitar vivo debate e controvérsia, sobretudo nos EUA e há um conjunto de questões que devem ser analisadas e debatidas como:
- As tecnologias de “machine learning” podem e devem ser aplicadas à educação?
- O processo de aprendizagem flexível pode ajudar os alunos?
- Qual será o impacto no velho sistema de educação?
- Olhando para o ritmo da inovação tecnológica, como é que o sistema educativo pode enfrentar o facto de que hoje algum conhecimento se torne obsoleto mais rapidamente do que antes?
- Neste contexto, a mais importante questão pode, provavelmente, ser posta da seguinte forma: como é que os professores e alunos irão aprender para reaprender, em vez de aprender como se fosse para um emprego para toda a vida?
- Como pode a educação estar estreitamente ligada com um trabalho a tempo inteiro no sentido de que as pessoas terão de aprender continuamente novas aptidões para permanecerem atualizadas na sua atividade profissional?
- Como é que o sistema educativo pode enfrentar o facto de as qualificações de que os estudantes necessitam mudarem em cada cinco ou dez anos?
- Como é que o sistema educativo ensina hoje as competências soft ou as competências emocionais, como a capacidade para pensar, a perseverança, a sociabilidade e a curiosidade que são altamente valiosas para os estudantes terem sucesso num mundo em rápida mudança?
Pesando todas as questões e desafios mencionados é inegável que o sistema educativo, para tratar da inovação e do ritmo de mudança tecnológica, tem de se reanalisar e de definir meios para transformar os estudantes em melhores alunos.
António Costa Silva é presidente da Comissão Executiva do Grupo Partex Oil and Gas e Manuel Carmelo Rosa é diretor da Fundação Calouste Gulbenkian