Já se imaginou a vigiar a lua de mel de um casal de cagarras? Clique aqui e verá que é possível. Estas aves marinhas, que fizeram primeiras páginas de jornal no ano passado com a ajuda de Cavaco Silva, passam a maior parte do tempo no mar, mas vêm a terra para nidificar. Fazem-no nas ilhas do oceano Altântico e do mar Mediterrâneo. Estas estão nos Açores e são iguais às das Ilhas Selvagens.
Os pequenos ilhéus ao largo da ilha da Madeira são um local tão isolado que foi visitado pela primeira vez por um Presidente da República de Portugal no ano passado. Cavaco Silva pôs os pés na areia cinzenta da Selvagem Pequena ainda antes de Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional, o ter feito, noticiou o Diário de Notícias em julho de 2013. Mário Soares e Jorge Sampaio, um em 1991 e outro em 2003, ficaram-se apenas pela Selvagem Grande, reportou na altura o Público.
Mas este não foi o feito mais notável do Presidente da República nesta data. Entusiasmado com a explicações de Paulo Oliveira, director do Parque Natural da Madeira, Cavaco Silva acabou por anilar uma cagarra – uma ave de dorso castanho, ventre branco e bico amarelo, com dimensões semelhantes às de uma gaivota.
Também a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) está atenta a esta espécie. Este ano, à semelhança do que aconteceu em 2011, qualquer pessoa, que utilize os navegadores Firefox ou Safari, pode observar o que se passa dentro de um ninho de cagarro (ou cagarra), no site Lua de mel no Corvo.
A câmara já emite imagens em tempo real há um mês e foi possível assistir à postura do único ovo anual no final de maio. Com um período de incubação de 55 dias, espera-se que a cria nasça até meados de julho. Durante este período os progenitores revesam-se, ora estão no choco, ora saem para se alimentar. Saem sempre antes do nascer do sol e entram sempre depois do ocaso para evitar que o ninho seja detetado por predadores. Chegam a passar vários dias no mar em busca de alimento.
Após o nascimento da cria, os progenitores vão alternando para se manterem com ela dia e noite durante uma semana. Mas depois disso deixam-na sozinha todo o dia enquanto se vão alimentar em alto mar. Nos primeiros tempos voltam todas as noites para lhe darem alimento, mas, gradualmente, vão passando cada vez menos tempo com ela. Até que, entre finais de outubro e meados de novembro, o juvenil está pronto para viajar com os pais.
A maioria das aves marinhas, como as cagarras, que vivem em ilhas que foram ocupadas pelo homem têm de lidar com os predadores trazidos por estes, como os gatos e os ratos, capazes de entrar nos ninhos e atacar tanto crias como adultos. “Todas as aves marinhas estão susceptíveis à predação por animais introduzidos, porque evoluíram em sítios onde não haviam predadores e portanto não têm defesas naturais contra eles”, explica Nuno Oliveira, assistente do Departamento de Conservação Marinha da SPEA.
O projeto LIFE+ Ilhas Santuário para as Aves Marinhas, que desenvolveu ações na Ilha do Corvo e no Ilhéu de Vila Franca do Campo, nasceu da necessidade de preservação das espécies de aves marinhas dos Açores, preocupando-se tanto com a preservação do habitat destas espécies como pelo controlo e erradicação de espécies introduzidas.