É um tempo de escolhas. O curso superior a seguir. O dinheiro a poupar para a cartão de condução. Ou, caso seja verão, o sítio onde passar férias com os amigos. Preocupações, ainda há poucas. Regalias da idade. Dos 17 anos. Estas, Rúben Neves não as tem. As suas obrigações são outras. Ou foram — e passaram por ir, vir, correr, pedir a bola, recebê-la e distribui-la, como uma central de correios, poupando-a ao trabalho e decidindo as viagens por ela.

Com 17 anos, lá estava ele. No relvado, no Estádio do Dragão, com a camisola do Porto vestida. E com outro tipo de escolhas. Entre passar a bola pela relva ou enviá-la pelas alturas, e optar por entregá-la a nomes desde Jackson, Quaresma ou Herrera. Um verão, e uma adolescência, diferentes. Mas só durante 11 minutos. Depois, já começou a ser especial.

Foi-o quando a bola cruzada por Alex Sandro, num daqueles cantos curtos, matreiros para enganar a defesa contrária, acabou no pé direito de Rúben Neves, que a recambiou para o fundo da baliza. Era o 1-0, o tal golo especial. O médio português marcava o primeiro golo do campeonato português, versão 2014/15, na estreia pela equipa principal dos dragões. Histórico? Sim, mas isso já o era desde que pisara o relvado — o mais jovem de sempre a jogar pelo Porto, com 17 anos, cinco meses e dois dias de idade.

Adolescência. É assim o novo Porto. Tudo parece precoce. Mas bom. O primeiro remate do jogo apareceu logo aos 4 minutos, vindo do pé de Quaresma. Após o golo de Rúben Neves, houve outro remate do português, aos 23’, antes de Danilo quase marcar, aos 28’. Pelo meio, a equipa deu pistas do que Julen Lopetegui, treinador espanhol, lhe exige — bola, muita bola, a fazer companhia à equipa. A meio da primeira parte, a estatística mostrava que ela já ia com 71% do tempo passado em pés portistas.

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E notaram-se mais coisas. Nas alas, Danilo e Alex Sandro raramente deixavam Quaresma ou Brahimi sozinhos, apoiando-os com correrias desenfreadas, para apanhar o lateral contrário em desvantagem. A defender, os quatro homens têm ordens para arriscar. Muito. Era comum vê-los a poucos metros da linha do meio campo, subidos, para pressionarem os inimigos assim que a equipa perdesse a bola. Nem sempre corre bem. Nem correu. Aos 19’ e 33’, contra-ataques do Marítimo conseguiram galgar metros nas costas da defesa, e só Fabiano evitou o pior.

Aos 43’, um brilharete de Brahimi, que fintou dois adversários e rematou pouco por cima da baliza, fez esquecer os sustos. A segunda parte, aliás, não deu nenhum aos milhares que, nas bancadas, se sentaram para ver esta nova e imberbe equipa do FC Porto. Mas houve assobios. Poucos, mas houve-os. Sobretudo quando a equipa teimou em usar Fabiano, guardião que terá tocado mais de 15 vezes na bola, para sair a jogar com ela na relva.

Aos 62’ lá voltaram os aplausos, quando Quaresma entortou o pé, apontou a mira da trivela e disparou um cruzamento que uma tentativa de pontapé acrobático de Jackson Martínez desperdiçou. Mais palmas se ouviram com 74 minutos, quando Rúben Neves, o miúdo, com um golo e uma série de passes bem feitos, foi substituído. Ficava Óliver Torres, espanhol que o Atlético de Madrid emprestou com ‘v’ de volta (sem opção de compra), e percebe-se porquê — este miúdo também joga, muito, e muito pouco erra para a idade que tem.

A defender, o Marítimo estava organizado. Fechava-se bem. O abrandamento do ritmo e os passes mal feitos que apareceram nos dragões, na segunda parte, provaram-no. A coisa acelerou um pouco a partir dos 80’, quando Cristian Tello apareceu no relvado. Dois minutos depois, apanhou uma bola na área, fingiu um remate, deixou João Diogo caído mas, ao rematar, a bola bateu num outro adversário.

O mesmo Tello, um viciado no drible, fora do ADN de passe do Barça, que o emprestou aos dragões, inventaria o segundo golo aos 94’. O árbitro já pensava em acabar com o jogo quando o espanhol enganou um inimigo à entrada da área e passou a bola a Jackson que, após a rematar contra Salin, aproveitou o ressalto para marcar. 2-0, fim do jogo e vitória do FC Porto.

A primeira (a sério) da época, descoberta pelo adolescente “tranquilo”, como o frisou Julen Lopetegui, no final. “Não foi um risco. É um jovem do nosso plantel, tem trabalhado bem e tem potencial”, defendeu. Potencial, coisa que este novo Porto também tem: acabou com 73% de posse de bola, conta com jogadores que encaram a bola como o sofá mais confortável lá de casa e parece estar a colar uma equipa que, com ritmo, afinação e paciência, poderá dar nas vistas.

Afinal, por enquanto, também ainda não passa de uma adolescente.